Iclas - Instituto de Culturas Lusófonas
Antonio Borges Sampaio


10-09-2002

A ECOLOGIA E OS CAIXEIROS VIAJANTES Francisco Amorim


Joanesburgo enfeitou-se para receber os delegados a mais uma cimeira sobre Ecologia.

Presidentes, ministros primeiros, segundos e terceiros, cientistas e verdes e/ou vermelhos, ambientalistas e... os caixeiros viajantes costumeiros.

Que o mundo está cada vez mais poluído, ninguém tem dúvida. Cada vez se joga menos papel e plásticos nas ruas e nas praias, não se cospe na via pública (nalgumas), assou-a o nariz a lenços descartáveis (eu que sou da velha guarda ainda uso de pano, como o meu avô fazia e não poluía o ambiente), etc. Mas isso até que poluía pouco.

Mas... e as grandes fábricas, a destruição das florestas (não é só a Amazónia, não. São TODAS), o uso indiscriminado do petróleo, a queima do dito, a elevação da temperatura do planeta, e etc.?

Junta-se os caixeiros viajantes, a turma do “vamos ver”, em cimeiras de hotéis de cinco e mais estrelas, e botam discurso:

-         O senhor Bush não vai, nem passa cartão e manda dizer que está de acordo com o Sadam e o Aiatolá, amigos do peito, porque os gringos não vão deixar de poluir a atmosfera e os árabes não vão deixar de vender o petróleo, até porque não têm mais nada para vender. Aos seus amigos gringos, claro.

-         O senhor Blair diz que fez uma entente com o compère Chirac e que se deve consumir menos 15% de petróleo e usar mais energia das hidroelétricas e queimar madeira! Só visto, mesmo. Porque até parece mentira. Que madeira vão queimar? Até África se está desertificando a velocidade incrível. E hidroelétricas? Ah! Isso é que é o negócio: vão querer construi-las em África, claro! E os africanos que as paguem! Óbvio.

-         E até o senhor FHC, no finalzinho do seu mandato brasiliense, quer que se gaste menos 10% de petróleo e que se consuma mais álcool que é energia renovável. Pois não! O Brasil tem, ou pode ter álcool para dar e vender. Grande negócio.

Moral da história: ninguém se entende. Cada qual quer puxar a brasa à sua sardinha e o planeta... que se dane.

Bonitinho, né? Mas não se preocupem, porque não tarda vem aí outra cimeira e a turma volta lá para dizer o mesmo. As viagens e hospedagem ficam, como sempre, por nossa conta. Dos poluídos.