23-05-2015Famílias que vieram para Goiás nas primeiras levas de bandeirantes eram judeus sAs famílias que vieram para Goiás nas primeiras levas de bandeirantes e se estabeleceram nas margens do Rio Vermelho, fundando o arraial que se tornou na Cidade de Goiás eram judeus fugindo da perseguição da Inquisição. Até hoje seus herdeiros mantêm as tradições e buscam recuperar a identidade judaica que fez da cultura hebreia uma das mais preservadas da humanidade. Pacheco, Macedo, Fonseca, Lobo, Póvoa, Gonçalves, Ortiz, Carvalho, Oliveira e principalmente os Bueno são descendentes diretos da leva de judeus marranos, oriundos da Península Ibérica que aportaram em terras do interior para se estabelecer e fugir do rigorismo da contrarreforma que a Igreja Católica usava para perseguir os hebreus. O braço armado católico era a inquisição, que não temia mandar para o degredo, para cárceres imundos e até para a morte quem não se dobrava à doutrina da Igreja. Airton Bueno é um dos herdeiros de uma dessas famílias centenárias que manteve a tradição e buscou compreender com mais profundidade suas origens. Ele se tornou um dos referenciais para a manutenção da identidade judaica, e é reconhecido pelo governo de Israel como difusor da cultura hebraica mundo afora. “Nossa cultura e nossa religião transcendem às eras e essa tradição de legar às gerações uma historiografia oral fez do povo de Israel herdeiro de uma inquebrantável relação com Deus e com nossa gente. Por isto precisamos manter viva nossa história e nossa fé”, explica. O precursor da família Bueno em Goiás é o sertanista que passou para a história como sendo o autor de um ardil que visava obrigar os silvícolas a contar onde estavam as jazidas de ouro e pedras preciosas. Narra a lenda que Bartolomeu Bueno da Silva teria colocado aguardente em uma bateia, espécie de bacia para separar o cascalho do ouro, e ateado fogo na cachaça, fazendo uma ameaça de que aquela seria água de rios e córregos e que ele iria incendiar tudo caso não lhe fosse revelada a direção das jazidas de metais e pedras tão cobiçados. A artimanha de Bartolomeu Bueno teria lhe rendido o apelido de Anhanguera, supostamente traduzido como sendo “Diabo Velho”. Se a ameaça ocorreu mesmo não é possível precisar, o fato é que Anhanguera descobriu ouro próximo de Vila Boa e fixou morada nas margens do Rio Vermelho. O que foi sua casa ainda resiste, mesmo que em ruínas, às margens do rio, próximo ao Largo do Rosário, em Goiás, a Velha Capital. Airton Bueno conta que a tradição da família Bueno atravessou as gerações e sempre souberam que eram de origem judia, apesar de alguns terem se convertido ao cristianismo. “Tradições culturais e religiosas sempre fizeram parte do cotidiano de nossa família, principalmente hábitos alimentares que foram mantidos e transmitidos ao longo de nossa existência. É isto que nos permite manter nossa fé em Javé hoje e cultuarmos nossas práticas hebraicas com fervor e compromisso com a difusão dessa crença”. O respeito ao shabat, que é o descanso no sábado; fazer a “rosca da rainha”, que é feita para coincidir com a Festa da Rainha Ester; a manutenção do mezuzah na porta da casa e as orações feitas ao entrar e sair pelo portal, hábitos alimentares de não misturar laticínios com carne e não comer carne de porco e até um dos mais significativos e fortes símbolos da tradição judaica que é tocar o shofar em momentos sagrados de comemorações singulares para a fé judaica. Até mesmo uma das tradições hebraicas, a circuncisão, é praticada culturalmente com um médico fazendo o corte do prepúcio do menino judeu e a cada ano um rabino vem a Goiânia e colhe uma gota de sangue para o ritual ser completo. Origem Apesar de poucos registros escritos a árvore genealógica dos Bueno foi mantida viva na memória da família e Airton cuidou de lapidar as referências, casando o que sabia com o que foi comprovado em documentos no Brasil, na Europa e foi até Israel para dar fidedignidade ao que apurou sobre sua família. “A família Bueno que veio para o Brasil é originária de Sevilha (Andaluzia, Região Sul da Espanha) e oriunda da Ucrânia”, afiança Airton. O que se cunhou como Bueno é derivado de um sobrenome judeu asquenazi que tem como referência original Shem Tov, ou Nome Bom, daí a corruptela Bueno. Airton é descendente de judeus pelos troncos familiares do pai e da mãe. Seu pai era o médico e oficial da Polícia Militar Jerônimo Bueno que foi prefeito da Cidade de Goiás e sua mãe é da família Pacheco Cohen. “Aprendemos desde crianças nossas tradições e somente com o passar dos anos sabemos o significado disso como sendo costume de nossa fé de judeus descendentes de Abraão”, comenta. Sagrado Um dos mais celebrados ícones da cultura judaica na família Bueno em Goiás é pouco conhecido do restante da comunidade hebraica do Brasil. Trata-se de um instrumento sagrado que está na família há mais de cinco séculos e que é venerado como instrumento de união da fé e da vigilância religiosa para judeus. Um shofar que foi trazido para o Brasil pela família Bueno e que resiste aos séculos “é algo para ser celebrado como peça digna de veneração e que não está intacto até hoje por acaso”, avalia Airton. Esse shofar é um instrumento de sopro feito de chifre de cordeiro e que faz parte da tradição judaica desde tempos imemoriais. Suas referência vem desde as muralhas de Jericó em que Deus manda que seu povo guarde os preceitos religiosos e passa pelo episódio em que Moisés, quando recebeu de Deus as Tábuas da Lei no Monte Sinai, em que o toque do shofar anunciou a Revelação Divina e “fez o povo tremer”. Esse shofar esteve guardado por décadas em uma velha caixa na casa de uma tia de Airton até que seu pai foi presenteado com o instrumento. Na parte superior do instrumento está gravado em prata alguns ideogramas de escrita judaica e o nome do proprietário que mais conservou o instrumento: Jerônimo Bueno da Fonseca, avô do pai de Airton e bisneto do Anhanguera, Bartolomeu Bueno da Silva, o precursor. Airton buscou auxílio do governo de Israel para dar credibilidade à história do instrumento sagrado. “Foi feita uma coleta do material e submetido a datação com o elemento ‘Carbono 14’, que atestou uma idade próxima de 580 anos para o shofar que pertence à família Bueno e que teria vindo com nossos antepassados da Espanha para o Brasil”. Temor Airton está preocupado, junto com outros integrantes da comunidade judaica, com a enxurrada de pedidos de registros de indivíduos que se dizem judeus, ou herdeiros de judeus marranos, oriundos da Península Ibérica. “Sabemos que indivíduos plantados por igrejas evangélicas, principalmente neopentecostais, como a Universal do Reino de Deus, que estão agora tentando professar uma proximidade com a fé judaica que é falsa e que não pode perdurar”. Ele se refere ao uso de instrumentos sagrados como o próprio shofar, o quipá (chapéu tradicional dos judeus) e até o “talid”, que é a veste sagrada utilizada em cerimônias religiosas. Para ser considerado judeu na moderna concepção é preciso obedecer a uma investigação que se assenta em três princípios: costumes alimentares, busca nos batistérios católicos para atestar as origens e não apresentar vinculações com ex-escravos que após a libertação tenham adotado os sobrenomes de seus ex-senhores. “Em Goiás está a maior concentração desse tipo de fraude e estamos vigilantes para não permitir uma invasão que vise destruir nossas tradições e nossa fé”, finaliza Airton Bueno.
REFERÊNCIAS BÍBLICAS AO SHOFAR
ÊXODO 19,13: “NENHUMA MÃO TOCARÁ NELE; PORQUE CERTAMENTE SERÁ APEDREJADO OU ASSETEADO; QUER SEJA ANIMAL, QUER SEJA HOMEM, NÃO VIVERÁ; SOANDO A BUZINA (SHOFAR) LONGAMENTE, ENTÃO SUBIRÃO AO MONTE”. OUTRO EVENTO ONDE O SHOFAR FOI USADO ESTÁ EM JOSUÉ CAPÍTULO 6. JOSUÉ OBEDECENDO A DEUS, JUNTAMENTE COM O SEU POVO, CIRCULOU A MURALHA UMA VEZ AO DIA E NO SÉTIMO DIA RODEOU SETE VEZES AO TOQUE DE TEKIYÁ (PRIMEIRO TOQUE DO SHOFAR) E AO GRITO DOS SOLDADOS, AS MURALHAS DE JERICÓ CAÍRAM. OUTRA PASSAGEM ESTÁ EM JUÍZES 7,16: “GIDEÃO DEPOIS DE FAZER ALGUMAS PROVAS COM DEUS REUNIU CERCA DE 32.000 HOMENS PARA GUERREAR. PORÉM, O SENHOR MANDOU PRIMEIRAMENTE OS MEDROSOS DE VOLTA, QUE ERAM CERCA DE 22.000 HOMENS, E DEPOIS FEZ UM TESTE COM AQUELES QUE FICARAM. GIDEÃO MANDOU QUE OS 10.000 QUE RESTARAM DESCESSEM ÀS ÁGUAS PARA BEBER. AQUELES QUE LAMBERAM AS ÁGUAS COMO CÃO, FORAM DISPENSADOS. RESTARAM ENTÃO, SOMENTE 300 HOMENS. ESSE FOI O EXÉRCITO COM O QUAL GIDEÃO RODEOU O ACAMPAMENTO DOS MIDIANITAS, COM UM SHOFAR E UM CÂNTARO NA MÃO. DENTRO DESSE CÂNTARO HAVIA UMA TOCHA. AO TOQUE DO SHOFAR, ELES QUEBRARAM OS CÂNTAROS E GRITARAM: “ESPADA PELO SENHOR E POR GIDEÃO!”. NESSE MOMENTO DEUS FEZ COM QUE A ESPADA DO INIMIGO SE VOLTASSE UMA CONTRA A OUTRA E DEU VITÓRIA A GIDEÃO. COM ISSO O POVO DE DEUS SE VIU LIVRE DOS MIDIANITAS. http://www.dm.com.br/cidades/centro-oeste/2014/11/um-pedaco-de-israel-em-goias.html |