27-06-2015O acordo ortográfico é uma questão passional ou preguiça mental?LÚCIA VAZ PEDRO * Em vésperas de exames nacionais de Português, urge relembrar que a nova grafia é obrigatória.Usada desde 1 de janeiro de 2012 nos documentos do Estado, em todos os serviços, organismos e entidades na tutela do Governo, bem como no "Diário da República", os alunos e os professores já sabiam há quatro anos que ia ser assim. Se não se prepararam foi porque não acreditaram que essa lei prevalecesse ou porque pensaram que se recuaria. Nesse caso, lamento a situação destes alunos, que tiveram ou terão de estudar e compreender a nova grafia sozinhos.
Na verdade, para dominar o novo acordo ortográfico é preciso estudar. E, estudar não é para todos. Há aqueles que têm preguiça mental. É tão mais simples utilizar a grafia antiga, aquela que já toda a gente sabe, que custou tanto a aprender e lhes valeu algumas reguadas, porque escreviam, provavelmente "ótimo", quando deveriam escrever "óptimo". Além disso, é tão mais simples não ter que pegar, novamente, nos livros para compreender em que situações se deve utilizar o hífen, por exemplo. Outrora, ninguém o sabia utilizar. Agora há regras e estão bem explicitadas, embora seja necessário dominar as classes de palavras. E quem se lembra do que são locuções substantivas? A língua portuguesa tem destas coisas: é complexa por ser tão rica; exigente por ser tão complexa. Mas se for estudada deixa de o ser e reveste-se da riqueza que faz com que seja uma das mais faladas no Mundo inteiro. Por isso gostamos tanto dela e não a queremos partilhar, é isso? Há aqueles que dizem que nunca mudarão a sua forma de escrever. Estão no seu direito, desde que não sejam obrigados institucionalmente a fazê-lo, como é o caso dos professores. O meu avô também morreu a escrever farmácia com "ph" e eu continuo a gostar dele!... O acordo ortográfico é sobre a ortografia e conferiu ao idioma a unidade possível, esbatendo as diferenças ortográficas, apenas isso. Nenhum português mudará a sua pronúncia. Deverá, sim, preocupar-se em pedir duzentos gramas de fiambre, quando vai ao supermercado ou evitar outro tipo de erros recorrentes. Deverá, sim, continuar a acentuar as palavras esdrúxulas, porque essas nunca deixaram de ser acentuadas e foi por isso que o dióspiro, por via do uso popular, passou a ter uma variação na acentuação, que nada teve a ver com o novo acordo. Foi o povo que tornou a palavra grave, tirando-lhe o acento. Por vezes, é preciso colocar ordem na casa e legislar. Foi o que se fez com o acordo ortográfico de 1990.
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