Iclas - Instituto de Culturas Lusófonas
Antonio Borges Sampaio


22-02-2012

O velho Fulô Eduarda Fagundes


 

O velho Fulô

 

Eduarda Fagundes
 
Já bem velho, pra lá dos seus noventa e poucos anos,  porém com uma saúde de
despertar inveja ( morreu com 105 anos),  o "nego" FULÔ, ainda sentia os
arrebatamentos que a fogosa natureza africana lhe dava. Viúvo, vivendo com
meus sogros,  se apaixonou pela jovem empregada que trabalhava na casa. A
idéia fixa de se casar com ela virou  senil obsessão, a ponto de servir de
pilhéria para os netos. Levados da breca, resolveram pregar uma peça no
velho assanhado . Telefonam da rua e mandam chama-lo. Fazendo-se passar pela
faceira morena, imitando-a, um dos rapazes faz declarações de amor e promete
casamento.  No dia seguinte, ao chegar para trabalhar, Helena, a empregada,
se deparou com um Fulô todo animado querendo "tirar uma prosa", fazer os
preparativos para casar. O espanto da jovem e as gargalhadas da rapaziada,
que tudo assistia,  foram a água fria que esfriou o velho e mostrou o
engodo, a esparrela de que fora vitima. A raiva dos primeiros dias, com o
tempo, virou chantagem emocional.  Fingindo-se abatido, doente, Fulô
ameaçava se suicidar  a toda e qualquer contrariedade que lhe davam.
Cansados de tanto " teatro" os endiabrados netos resolveram dar um basta
àquela situação.  Sem que ele visse,  trocaram por açúcar o pó de veneno
para ratos, e numa ocasião em que nego Fulô ,  pela centésima vez,  pedia
para morrer,  um dos rapazes pegou o pó branco, despejou num copo com água e
chegando no nariz dele disse:
" Tá bom, vô,  se ôce quer morrer acaba logo com isso, bebe o veneno de
rato", vai ser rápido.  Fulô,  arregalando os olhos e afastando o copo da
cara disse:
-Moleque, tira esse negócio de perto de mim, só o cheiro mata!

Uberaba, 12/01/12

Maria Eduarda