Iclas - Instituto de Culturas Lusófonas
Antonio Borges Sampaio


27-04-2015

Lisboa-NÚCLEO ARQUEOLÓGICO DA CASA DOS BICOS


 

 

  • Bocais de ânforas piscícolas

     Bocais de ânforas piscícolas

"Lisboa é uma cidade antiga, situada à beira-mar, quebrando-se as ondas na sua muralha (...) de construção admirável e imponente". A frase pertence a Al-Bakrí, geógrafo árabe do séc. XI e é impossível não dar por ela, inscrita na parede do lado direito do piso térreo da Casa dos Bicos. Por baixo, à espreita, está uma pequena parte do que foi a Cerca Velha de Lisboa, cartão de visita do recém-inaugurado Núcleo Arqueológico da Casa dos Bicos.

No dia 15 de julho abriu ao público o Núcleo Arqueológico da Casa dos Bicos. Desde os anos de 1980, o local tem sido alvo de várias campanhas arqueológicas que deram a descobrir vestígios de diversas épocas. São esses objetos que agora podem ser vistos por todos os que vivem, trabalham ou visitam Lisboa. Fomos conhecer o Núcleo, para saber que pedaços de História ali se escondem.

O espaço expositivo está dividido em três áreas. Logo à entrada do lado direito, área A, encontramos um troço de muralha (Cerca Velha, ou cerca moura) de construção romana, que delimitou e defendeu o núcleo urbano primitivo da Lisboa medieval. Para ilustrar o achado, projetado na parede, um vídeo explicativo mostra imagens das escavações. Há ainda uma maquete da Casa dos Bicos e, logo a seguir, um expositor com objetos de uso diário, como copos, pratos, taças, azulejos, cálices e até hastes de cachimbo, usados no quotidiano da Casa dos Bicos antes do terramoto de 1755.

Passamos então à área B. Aqui podemos visualizar um enorme tanque, ou cetária, provavelmente do século I, e que pertenceria a uma fábrica de preparados de peixe. Estes tanques serviam para colocar os peixes a macerar. Há ainda um expositor com o que resta de três bocais de ânforas, usados para transporte de produtos piscícolas. Na área C encontramos mais um troço de muralha, com 18 metros de extensão. Os arqueólogos pensam que terá sido construída na época romana tardia, entre o final do séc. III e IV, até à época medieval. Outro aspeto interessante a salientar é a presença de um totem à entrada da Casa dos Bicos. Este é o 12.º de um total de 16, espalhados pela zona da Baixa, e que sinalizam a presença da Cerca Velha.

A Casa dos Bicos é um dos mais emblemáticos edifícios da cidade de Lisboa, mandado construir em 1523 por Brás de Albuquerque, filho do vice-rei da Índia Afonso de Albuquerque, devendo o seu nome aos bicos de pedra da fachada.  Desde a sua construção, tem servido as mais diversas funções, tendo chegado a ser utilizado como armazém de bacalhau. Em junho de 2012, passou a ser sede da Fundação Saramago, tendo a autarquia cedido os pisos superiores à Fundação, reservando o piso térreo para a criação deste Núcleo Arqueológico.

O Núcleo Arqueológico da Casa dos Bicos está aberto ao público de segunda a sábado, das 10  às 18 horas, sendo de acesso gratuito. A sua abertura integra-se no projeto de renovação do Museu da Cidade, que passará a chamar-se Museu de Lisboa, um museu polinucleado no território da cidade.

[por Filipa Santos | fotografias de Francisco Levita]

 

Maqueta da Casa dos Bicos

maquete da Casa dos Bicos 

 

http://www.agendalx.pt/artigo/o-nucleo-arqueologico-da-casa-dos-bicos#.VT7OnCFVhHw