22-02-2012 Teatro S. Luís Guido Bilharinho
Guido Bilharinho - 19/02/2012
Teatro São Luís
Com o passar do tempo, o teatro São Luís volta ao abandono e, em 1888, o prédio novamente ameaça a ruir. Nova associação é organizada, desta feita presidida por Manuel Rodrigues Barcelos, sendo as obras dirigidas por Crispiniano Tavares, engenheiro, escritor, proprietário e organizador da modelar e legendária “Quinta da Boa Esperança”. Em 1891, afastando-se Rodrigues Barcelos da presidência da Associação, assume-a João Teodoro Gonçalves de Oliveira, tendo Bento José Dantas como vice, José Augusto de Paiva Teixeira, o Casusa, como secretário, e Manuel Terra como tesoureiro. Essa diretoria também efetua muitas obras no prédio, tanto de conservação, como de ampliação e modernização. Em 1897, João Teodoro é vítima, em Mato Grosso, de latrocínio, ou seja, roubo seguido de morte. Com isso e o afastamento de vários membros da diretoria, é entregue o teatro São Luís à Câmara Municipal de Uberaba, que, à época, mercê de regime parlamentarista vigente a nível municipal, representa o que hoje é o município, passando a Câmara, daí em diante, a se responsabilizar pelo teatro, operando nele, em diversas ocasiões, reformas e melhoramentos diversos. Conta, ainda, Hildebrando Pontes no notável ensaio citado, que o teatro chega a ter em seu arquivo 72 (setenta e duas) peças teatrais oferecidas por Antônio Borges Sampaio, figura que dificilmente será suplantada, em Uberaba, como seu maior e mais extraordinário benfeitor em todos os setores. Talvez por isso mesmo, a cidade o tenha “homenageado”, como diz Santino Gomes de Matos, com “um vago nome [apenas Coronel Sampaio], numa vaga rua, com afundamento melancólico na indiferença popular, eis a injustiça que se deve corrigir em relação a Antônio Borges Sampaio” (“Palavras de Apresentação”, in Uberaba: História, Fatos e Homens, de Antônio Borges Sampaio. Uberaba, Academia de Letras do Triângulo Mineiro/Bolsa de Publicações do Município de Uberaba, 1971). Em contrapartida, deu à atual praça Rui Barbosa, transferido posteriormente para a praça onde está a Concha Acústica, o nome de seu maior malfeitor, Afonso Pena, responsável por transferir para São Paulo a estrada de ferro Uberaba-Coxim, perdendo a cidade, de um dia para outro, todo o intenso comércio mantido com Mato Grosso. Como não poderia deixar de ser numa sociedade que se preocupa quase exclusivamente com a materialidade da vida, salvo raríssimas e, por isso, insuficientes exceções, o referido arquivo, já em 1907 e ainda em vida de Borges Sampaio, desaparecera. Acrescente-se: criminosamente. Eis que o é toda ação e omissão que atente contra a memória da comunidade. Com o passar dos anos, a teor do texto da lei municipal 529, de 8 de maio de 1926, até o próprio prédio do teatro não mais existe. É que essa lei concede a Orlando e Olavo Rodrigues da Cunha, para a construção de um teatro, o terreno situado na praça Rui Barbosa, “onde existia o Theatro S. Luiz”. Em maio de 1931 é inaugurado o então cine-teatro São Luís, cuja edificação é realizada pela firma Santos Guido & Cia., sob a fiscalização do engenheiro Guilherme de Oliveira Ferreira. A inauguração do prédio, de propriedade da empresa Orlando Rodrigues da Cunha & Cia. Ltda., a partir de então destinado a cinema e representações teatrais, alcança grande repercussão à época, dada a modernidade não só da obra e do mobiliário, como da aparelhagem de projeção e de som. Em 1938 é feita ampla reforma no prédio, inclusive com aquisição de terreno limítrofe para ampliação de sua capacidade. No ano subsequente, a empresa proprietária do prédio adota o nome do antigo teatro, passando a denominar-se Empresa Cinematográfica São Luís. Entre inúmeras peças encenadas no São Luís, citam-se: em 1933, pelo Grupo Dramático Artur Azevedo, presidido pelo compositor e maestro Renato Frateschi, além de outras, o drama A Órfã de Goiás e a comédia Zazá, esta de autoria de César Mendonça; em janeiro de 1954, pelo Teatro do Estudante, a comédia A Incrível Genoveva, de Franklin Botelho, triangulino de Patrocínio, sob a direção de Reinaldo Domingos Ferreira; em novembro de 1963, pelo NATA, O Auto da Compadecida, de Ariano Suassuna, sob a direção de Deusedino Martins. Na década de 1960 O Núcleo Universitário Teatral Uberabense – NUTU, fundado por Hildo Nunes Lourenço e Paulo Silva, leva no São Luís duas peças: O Rapto da Cebolinha, de Maria Clara Machado, dirigida pelo primeiro, e O Transviado, também dirigido por Hildo Nunes Lourenço. Nas décadas seguintes, além das sessões cinematográficas diárias, vez por outra ocorrem representações teatrais por companhias profissionais, principalmente de São Paulo, sendo uma das últimas, e das mais significativas e importantes, a encenação da peça Coriolano, de Shakespeare, em julho de 1974, interpretada por, entre outros, Paulo Autran e Henriette Morineau. Em 1978, o prédio sofre nova reforma, passando daí por diante a apresentar apenas sessões de cinema, sendo as representações teatrais transferidas para o cine Vera Cruz.
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