Iclas - Instituto de Culturas Lusófonas
Antonio Borges Sampaio


05-08-2004

A PAIXÂO DE OROSMANE POR ZAÍRA Xico Xadrez


A paixão do sultão Orosmane pela escrava cristã Zaíra é contada e musicada de forma fantástica no encerramento do Festival de Inverno de Juiz de Fora.

A obra foi composta entre 1806 e 1815, não se sabe ao certo a data, sabe-se que com o advento de Dom João VI e da família real portuguesa ao Rio de Janeiro, a colônia tornou-se matriz durante um certo tempo. A vinda de Dom João VI impulsionou a cultura, trazendo desde o esporte da inteligência, o xadrez, até ao florescimento de uma ópera magnífica como Zaíra, do português Bernardo José de Souza Queiroz, com libreto de Mattia Butturini, revisado por Giuseppe Caravita, agora encenada nas Minas Gerais.

Foi um marco, um show, um apogeu, Zaíra no Festival de Inverno, para a assistência de 1.500 pessoas. Resgatado por Rogério Budasz e Sérgio Dias, foi a primeira apresentação que se conhece da trágica ópera.

O CONFLITO MUÇULMANO-CRISTÃO EVOCADO EM BELO ROMANCE

Foi um árduo trabalho resgatar, recuperar Zaíra. A partitura estava em Portugal, escrita no início do século XIX. Agora, vamos aos lances desta emocionante história, encenada no 15º Festival Internacional de Música Colonial Brasileira e Música Antiga, com direção musical de Sérgio Dias. Tudo passa em Jerusalém, época da retomada dos turcos.

O palácio do sultão Orosmane é um luxo só. Mas, ele se sentia bastante sozinho, baqueado, desencantado com a vida e perdido no meio de tanto esplendor. Sua paixão pela escrava cristã Zaíra foi como um vulcão em erupção. Ela converte-se ao islamismo para poder casar e se entregar ao sultão Orosmane.

Na seqüência, o irmão de Zaíra, o jovem Nerestano, cristão cheio de fé, convence Zaíra a renegar sua fé no Islã e fugir. A peça encenada no Cine-Theatro Central arrancou lágrimas em Juiz de Fora. O povo emocionou-se ao saber que o sultão Orosmane desconhecia que Nerestano era legítimo irmão de Zaíra; pensou que a fiel escrava o estava traindo.

Num tempo em que o poder falava muito alto, Orosmane se viu traído pela paixão e mata Zaíra, a escrava cristã, que foi seu único grande amor. Ópera baseada em Zaíra do grande Voltaire, só podia deixar os que assistiam e ouviam sensibiblizados. A regente do coro Valéria Matos e Walter Neiva, na direção e cenografia impecáveis.

Quando Orosmane descobre que já havia o mal feito e Nerestano e Zaíra eram irmãos fica chocado. Houve um conflito entre ideologias, entre religiões talvez, mas não de paixão porque o coração de Zaíra sempre pertencera ao sultão Orosmane.

Ao perceber tal desdita, Orosmane liberta todos seus cativos e se suicida. A Paixão de Orosmane por Zaíra ensina muito aos dias de hoje. A necessidade de tolerância, a procura e a busca pela paz. Que Deus está em nosso interior e não exatamente em palavras soltas, nas mesquitas, templos, sinagogas, igrejas.

Que a busca pelo divino não pode transbordar em espírito guerreiro que invade países com álibis inusitados, em humanos que transformam-se em bombas, em pessoas que viram objetos. Zaíra tinha direito ao seu amor por Orosmane. Assim como todos tês direito à vida e a viver em liberdade.

Rogério Budasz, phd em musicologia pela University of Southern, Califórnia (USA) teve sensibilidade de trazer a obra-ópera magistral Zaíra aos nossos dias. Somos gratos a ele e sua grande equipe por momentos exuberantes de reflexão, amor, deleite...

Francisco J. Santos Neto (Xico Xadrez) - presidente Elos Clube de Uberaba