Iclas - Instituto de Culturas Lusófonas
Antonio Borges Sampaio


23-05-2015

Projeto documenta línguas indígenas em vias de extinção no Brasil


 

Projeto documenta línguas indígenas em vias de extinção no Brasil

22 maio de 2015

Artigo por Bruna Angélica Pelicioli Riboldi

(Imagem: Reprodução ONU BR)

Embora a língua oficial e predominante no Brasil seja o português, o país tem entre 150 e 170 idiomas nativos, a maioria na região amazônica. Algumas línguas contam com cerca de 20 mil falantes, caso do Guarani, do Tikuna, do Terena, do Macuxi e do Kaingang. Outras, porém, são faladas por cinco pessoas ou até menos.

Mas o que pode parecer uma “fartura de idiomas” é, na verdade, o retrato da lenta morte da cultura indígena no país. Isso porque à época da chegada dos portugueses ao Brasil, o número de idiomas nativos passava dos 1.200. Desde então, mais de 80% das línguas indígenas desapareceu do mapa. Dos idiomas que ainda restam, estima-se que um terço desaparecerá já nos próximos 15 anos.

Na tentativa de evitar o desaparecimento destas línguas, uma iniciativa inédita documentou o idioma de 35 etnias mais vulneráveis no Brasil com grave risco de extinção.

O projeto faz parte do Programa de Documentação de Línguas e Culturas Indígenas (Progdoc), uma parceria entre Museu do Índio no Rio de Janeiro e Organização da ONU para a Educação, a Ciência e a Comunicação (UNESCO) no Brasil que resultou em 12 publicações que foram divulgadas ao público na última semana. Os documentos reúnem narrativas tradicionais e autobiográficas, livros de letramento, glossário enciclopédico, documentação etnográfica e registros de música vocal e instrumental.

O trabalho foi coordenado por linguistas, mas todo o material foi produzido por pesquisadores indígenas, que receberam capacitação (como oficinas de documentação linguística e editoração) e auxílio financeiro para atuar nas suas próprias comunidades.

Durante o projeto, eles esbarraram concretamente no problema que tentam evitar e viram “morrer” um dos 13 idiomas nativos documentados: o único falante vivo de que se tinha notícia da língua Apiaká (Mato Grosso), morreu durante a pesquisa – após já ter dado um depoimento em vídeo.

Os dossiês linguísticos contêm, além das publicações, todo material de áudio e vídeo produzido durante as viagens a campo pelas equipes de pesquisadores de línguas indígenas com aprovação das comunidades envolvidas. Foram confeccionados dez dossiês para cada Projeto. Os dossiês podem ser distribuídos entres as aldeias e as escolas indígenas, de modo a servir de instrumento de pesquisa e ensino-aprendizagem por parte das comunidades.

Das 13 línguas sob ameaça de extinção que foram documentadas, dez ganharam gramáticas descritivas básicas e um banco de dados que poderá resultar em dicionários. O Prodoclin registrou os seguintes idiomas (com o respectivo tronco ou família linguísticos entre parênteses): Apiaká (Tupi-Guarani); Desano (Tukano); Ikpeng (Karib);Kanoé (isolado); Karaja (Macro-Jê); Kawaiwete (Tupi-Guarani); Kisêdjê(Macro-Jê); Maxakali (Macro-Jê); Ninam (Yanomami); Paresi-Haliti(Arawak); Rikbaktsa (Macro-Jê); Shawãdawa (Pano); e Yawanawa (Pano).

(Imagem: Marcelo Camargo, Agência Brasil)

(Imagem: Marcelo Camargo, Agência Brasil)

Bruna Angélica Pelicioli Riboldi | Enviar mensagem

Licenciada em Jornalismo pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Brasil), pós-graduada pela Georgetown University (EUA) e mestre em Culturas Contemporâneas e Novas Tecnologias pela Universidade Nova de Lisboa, Bruna é editora-chefe do Portal da Conexão Lusófona e coordenadora das redes sociais. Com passagem pela editoria de online do Grupo RBS (Brasil) e outras experiências de grande relevância no âmbito de webjornalismo, é a nossa bússola para uma produção/curadoria de conteúdo de personalidade e expressão. Tem paixão pelas palavras: econômicas, para que caibam em uma postagem de Twitter, ou ilimitadas, ainda que silenciosas, na fotografia. Grande curiosa da lusofonia, tem entre seus hobbies preferidos devorar música e literatura lusófona. Após dois anos em Portugal, Bruna reside hoje na França. Veja o perfil completo de Bruna Angélica Pelicioli Riboldi.

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