Iclas - Instituto de Culturas Lusófonas
Antonio Borges Sampaio


09-12-2011

A Escola Forma Ou Deforma Jorge Linhaça


 

A Escola Forma Ou Deforma?

Jorge Linhaça

     A idéia preponderante em toda sociedade é que a escola é um instrumento na formação do indivíduo, ao enviarmos nossos filhos para a escola sonhamos em ve-los sair de lá "formados".

     No entanto, via de regra, a escola não forma, massifica, não ensina, massacra, não prepara para a vida, alija dos sonhos e necessidades individuais.

     Verdade é que existem honrosas exceções, um ou outro heróico educador que com seu carisma e maneira de ser acaba agindo como um agente motivador para despertar o interesse latente de algum grupo de alunos no decorrer da sua formação.

      No mais a escola presta-se ao papel de deformar as individualidades, o gesso ao que são submetidos os professores pelos burocratas de plantão praticamente obriga-os a vomitar conteúdos sem sentido para a vida prática dos alunos, gerando assim um desconforto e desinteresse da parte destes últimos pelo conhecimento derramado na sala de aula.

     Não apenas os alunos são vítimas desse estado de coisas, os próprios professores, massacrados com duplas os triplas jornadas em busca do seu sustento, veem os seus sonhos de fazer a diferença desfazerem-se na erosão da falta de tempo e reconhecimento pelo seu trabalho.

     Nossa escola pública ( e muitas particulares ) sofrem do mal da massificação do conhecimento e do desconhecimento dos alunos. As próprias universidades ou faculdades, com salas de aulas abarrotadas com mais de cem alunos estão longe de permitir aos professores uma atenção mais apurada às individualidades ali presentes.

     As crianças entram na escola com o sonho de aprender coisas novas que lhes sirvam de alguma coisa na vida prática e o que encontram é um sopão de matérias que não entendem para que servirão ao longo de sua vida.

     Lembro-me claramente do tal teorema de pitágoras " o quadrado da hipotenusa é igual à soma do quadrado dos catetos" sempre que perguntava para que aquilo me serviria , a resposta era a mesma, um dia voce vai saber...confesso depois de décadas que até hoje não sei. Aos que optaram pela matemática ou engenharia ou outra ciência exata, creio que tiveram mais sorte que eu...devem usar isso no seu dia a dia profissional...ou talvez não...

     A geografia é uma disciplina interessante e deveria ser mais valorizada mas, ao menos no meu tempo, levávamos anos estudanto a tundra ártica, a savana africana, as monções da ìndia e nunca se preocuparam em nos fazer entender a geografia de nosso bairro, os perigos das encostas, das várzeas dos rios...tudo era pincelado de forma genérica e fragmentada, na esperança de que nossa ignorância fosse perpetuada por mais uma ou duas gerações. Obviamente funcionou em linhas gerais, basta ver as tragédias do dia a dia.

     As crianças e adolescentes são famintos por conhecimento, por algo que desperte o seu interesse e os faça ludicamente interagir com a sociedade ao seu redor. Por isso a busca pelos ritmos musicais como funk, axé, hip-hop e outros que de alguma maneira atingem o seu cotidiano, nem sempre de forma a levar a um pensamento organizado mas que atraem pelas letras apelativas e de fácil digestão.

     Infelizmente tais letras de "músicas" embaladas por um ritmo insinuante e contagiante, quase nada dizem sobre soluções, limitando-se a retratar o mundo cão ou a estimular a sexualidade como única forma de liberar os instintos mais primitivos do ser humano.

     A escola falha em não fazer o contraponto a essa contra-cultura, que seria o equivalente piorado do movimento hippie dos anos 1960.

      Nosso sistema de ensino deforma as personalidades enfiando-lhes goela abaixo conhecimento tão saboroso quanto uma colherada de óleo de fígado de bacalhau.

     Pior do que isso, vemos hoje salas de aula onde os alunos são abrigados a ler determinados jornais ou revistas de cunho claramente partidário onde um partido é retratado como a grande resistência à honra e a apologia da boa administração enquanto dos demais só é mostrado o lado negativo.

     Dessa maneira, esperam os governantes ( e com relativo êxito) manipular as mentes ainda moldáveis de nossas crianças e adolescentes numa nova versão dos conhecidos currais eleitorais.

     A ação é tão grave que tais governos fazem milhares de assinaturas desses periódicos para serem usados em sala de aula.

 

     Conceder aos alunos a liberdade de expressão de suas idéias, da colocação de suas dúvidas, da compreensão do mundo que os cerca não pode ser atrelada a uma só idéia, repetida à exaustão, por periódicos tendenciosos e omissos em relação a quem paga pelas suas assinaturas.

 

      O massacre de Columbine ou aquele do Realengo, quando pessoas armadas invadem escolas e ceifam vidas, não são nada comparados ao massacre que ocorre todos os dias dentro das escolas, transformando uma multidão de alunos em zumbis teleguiados para lugar nenhum ou pior, para o deserto da ignorância da realidade ou para as areias movediças do despreparo cidadão.

 

     O resultado é o que vemos no dia a dia, jovens desmotivados, sem esperança no futuro, abandonando os bancos escolares para viverem suas vidas como melhor puderem já que a escola, em linhas gerais, não lhes oferece nenhum atrativo. Entre o massacre nos bancos escolares e o trabalho informal ou mal remunerado, optam por este último a fim de querer acreditar que assim poderão obter sucesso fazendo algo que realemnete lhes gratifique com mais que uma estrelinha dourada ou uma nota azul no boletim.

 

 

   

 

 

 

Salvador, 08 de dezembro de 2011

 

contatos com o autor

anjo.loyro@gmail.com