Iclas - Instituto de Culturas Lusófonas
Antonio Borges Sampaio


27-02-2000

Sobrevoando o Mar do Preconceito Por Ruth Souza Saleme


Preconceito - Conceito ou opinião formados antecipadamente, sem maior ponderação ou conhecimento dos fatos; idéia preconcebida. Julgamento ou opinião formada sem se levar em conta o fato que o conteste; prejuízo. Superstições, crendice; prejuízo, suspeita, intolerância, ódio irracional ou aversão a outras raças, credos, religiões, etc.: O preconceito racial é indigno do ser humano(dic. Aurélio Eletrônico).Encontramos várias definições e argumentos para perpetuar esse vírus que infecta nossas almas, alimenta nossas hipocrisias e fortalece o desequilíbrio do planeta. A palavra preconceito é muito proferida e está introjetada naqueles que o têm e na maioria das vezes, naqueles que o contestam. Podemos simbolizá-lo, "como uma figueira centenária, muito frondosa que dá abrigo e descanso àqueles que decidem fechar os olhos a tudo o mais que existe, ou que possa ter as possibilidade de existir.; mas como a raiz desta árvore está abalando as casas e seus galhos enfraquecidos estão ferindo pessoas e mesmo matando, é necessário extirpá-la. Torna-se inviável arrancá-la de imediato, porque já é muito grande, o número dos adeptos da sua fresca. Outros até confirmam a necessidade de extirpá-la e sentem-se confusos, e há angústias, e riscos de perdas, que antecipam esse arrostamento.

Outros, chegam a pensar que é impossível perder aquele suposto conforto, porque terão que se impor a um esforço desmedido, e buscar outras saídas...

Haverá necessidade de organização entre os pares e ímpares, para discussões, debates, busca de soluções conjuntas. A árvore sendo retirada, ficará um vazio imenso e profundo, então uma implantação urgente será necessária (quer seja de flores, ou construções), de "valores reais, para o bem comum".E um conceito formado, causa prejuízo, danos a quem é atingido por ele.

Ralph Lewis, diz: "O preconceito é o envenenador da razão e o assassino da Justiça". Sim, ele é uma porta fechada ao conhecimento e uma grande abertura à violência, vícios, à proliferação de doenças . O preconceito é um aprendizado que no decorrer dos anos vai se fortalecendo e exige um esforço de toda a sociedade, todos os segmentos e instituições, medidas práticas, efetivas que o informem; ele( o preconceito) é destituído de qualquer informação, é o impensável, aquilo que traz violência, para quem o tem e ao meio a que pertence.

O preconceito, depois de séculos de existência, principalmente, aqui no Brasil, incorpora-se no sentimento das pessoas, de tal forma a se constituir num componente cultural, levando a maioria, irrefletidamente, a acreditar naquilo como algo natural. Assim, se esta cultura tem o negro como inferior, isso para a maioria das pessoas é uma coisa natural. E, na medida que o negro ascende na escala social (o que, ainda, é muito raro, com exceção de artistas e futebolistas), ele desestabiliza a cultura, porque não está cumprindo o papel que, por assim dizer, foi combinado de ser cumprido. Como se fosse um pacto social: o papel do branco é de "senhor" (superior) e o papel do negro de "escravo" (inferior).

O combate a essa postura, há de ter êxito, entre outras medidas, através da informação dos órgãos educacionais, coibindo as sutis discriminações, comuns em propagandas de TV, revistas, etc. Também, através do exercício da defesa legal por parte dos negros, sempre que ofendidos. Mas, principalmente, através destes, diretamente prejudicados pelo preconceito, incitando as autoridades constituídas a tomarem um posicionamento a respeito, com adoção de medidas educativas. No mais, diga-se que a interioridade da consciência é inviolável.

Todos temos o direito a predileções, já que não somos Deus (Deus não faz acepção de pessoas). Só o que não podemos é, com fundamento nesse direito, excluir de outros o direito, essencialmente igual ao nosso, de existirem gozando da liberdade de ação e de pensamento.

Ruth Souza Saleme