Iclas - Instituto de Culturas Lusófonas
Antonio Borges Sampaio


29-03-2011

CEM X 100ni = 1000 Jorge Linhaça


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CEM X 100ni = 1000

Jorge Linhaça

 

Primeiros passos

 

Quando, em 22 de Janeiro de 1973, às 22:30 horas, nascia, na cidade de Pato Branco, no Paraná, o caçula de dona Hertha e seu Eurydes, era difícil que alguém imaginasse a trajetória vitoriosa que o garoto descreveria no cenário desportivo.

 

Os esportes estiveram presentes em sua formação desde a mais tenra idade, aos 4 anos aprendeu a jogar tênis ( eu, até hoje, só jogo tênis na cabeça dos outros ).

 

Aos 8 anos ingressou na escolinha de futebol do Grêmio Patobranquense.

Em 1985 a família mudou-se para Sinop, MT, em busca de melhores condições de vida.Lá o garoto encantou-se com o Voleibol e durante três anos conquistou vários títulos regionais.

 

O início

 

Dos 13 aos 17 anos, trabalhou como auxiliar de serviços gerais no Banco do Brasil e, de quebra, jogava como volante (camisa 5 ) no time de futebol do Banco. Um dia, o goleiro ( que era seu chefe ) não foi jogar e ele, que era o mais novo do time foi escalado para assumir o posto.

 

O resto da história já é mais conhecido e o garoto parece ter sido predestinado a tornar-se um dos últimos ídolos  ( juntamente com seu amigo do outro lado do muro,Marcos) identificados com  um clube de futebol.

 

Assumiu o posto de terceiro goleiro no Sinop durante o campeonato mato-grossense, o titular e o reserva contundiram-se durante a competição e o garoto de 17 anos assumiu a vaga e não mais a deixou, sagrando-se campeão com o Sinop- a primeira vez que um time do interior conquistou aquele título.

 

O tricolor

 

Em 7 de setembro de 1990, emblemática data da independência, chegou à capital paulista para fazer testes no tricolor do Morumbi.No jogo contra os titulares sofreu apenas um gol, de Leonardo. Gilberto Moraes, reconhecendo nele qualidades importantes, aprovou o garoto que passou a integrar a base do São Paulo. Durante a Copa São Paulo de Futebol Junior, Rogério era aquele "loirinho" reserva de Alexandre, outra grande promessa, tragicamente falecido em um acidente automobilístico.

 

Em 1994 o São Paulo contava com "dois times" em atividade, o mais experiente e o chamado expressinho, no qual atuava Rogério e que sagrou-se campeão da Copa Comembol naquele ano.

 

No time principal dois "monstros" da posição à sua frente, Gilmar Rinaldi e Zetti ao qual sucedeu em 1997.

 

A Lenda

 

Rogério não destacou-se apenas pelas belas defesas realizadas e títulos conquistados ao longo da carreira, queria mais, decidiu que seria, além de goleiro, artilheiro especializado em cobranças de faltas.

 

Subverteu a ordem das coisas e, ontem,domingo, 27 de março de 2011, às 17:09 horas, na Arena Barueri, contra o Corinthians,em cobrança de falta, venceu o goleiro Julio César e marcou o seu CENTÉSIMO gol com a camisa tricolor.

Sim amigos, quem não viu pode não acreditar, quem não viveu a Era Rogério Ceni pode não vislumbrar o tamanho da façanha. 100 gols, vestindo a mesma camisa, jogando no mesmo Clube há 20 anos ( fato raríssimo nos dias de hoje ) e mais do que isso, sendo GOLEIRO.

 

Rogério Ceni é um daqueles seres que vem para modificar paradigmas, que vem para contradizer o óbvio, para fazer a diferença.

 

Não é apenas um predestinado, é um lutador, um "teimoso", um guerreiro...

Claro que "o universo conspirou a seu favor" mas ele só conspira a favor de quem está disposto a aproveitar as oportunidades.

 

Eu e Ceni temos uma coisa em comum, guardando-se os quilômetros de distância entre nós, fomos do futebol para o vôlei e do vôlei de volta ao futebol e acabamos por nos destacar ( cada um no seu mundo ) debaixo das traves.

 

O fato de haver jogado vôlei talvez explique a "mania" irritante para alguns, de Ceni ajoelhar-se diante do atacante para tentar a defesa, numa posição bem semelhante a que se adota no vôlei para defender a "cortada" do adversário.

 

O fato de haver jogado "na linha" durante a adolescência, talvez explique a sua fome de fazer gols e , com certeza sua habilidade como "volante" reflete-se em sua atuação com a bola nos pés e distribuição de jogo.

 

Mas, Ceni é mais do que isso, além da sua gana por praticar a sua profissão da maneira mais perfeccionista possível, Rogério é um homem centrado, com uma visão extraordinária não apenas das 4 linhas ou do esporte.

Rogério faz parte daquele seleto grupo de atletas que não se descuida da formação intelectual, social e política, também nesse aspecto é um subversivo.

 

Para quem não sabe, Ceni publicou um livro chamado "Maioridade Penal- 18 anos de histórias inéditas na marca da cal" fruto de uma entrevista concedida ao jornalista André Pihal.

 

O goleiro artilheiro, além disso, ao contrário da grande maioria dos boleiros que prefere pagode e/ou sertanejo, é fã mesmo é de Rock and roll.

 

Sua ligação com a família é um caso a parte, a sua dose de "pai coruja" levou-o ainda a assinar, junto com Paola da Vinci, uma linha de enxoval para bebês e crianças designada "Coleção ídolos para sempre".

 

Melhor que tudo isso foi fazer o centésimo gol contra o Corinthians no ano do seu centenário...nada como uma homenagem centenária ao rival.

Rogério é assim...presenteia até mesmo os rivais dando-lhes um CEM inesquecível e histórico.

 

O Corinthians é para Ceni o que o Vasco foi pra Pelé.

Julio César é o Andrada de Ceni

 

Mas o centésimo gol de Ceni não foi de pênalti...até nisso Ceni é subversivo,

ao contrário de Pelé, o rei do futebol e de Romário, o rei da área, Rogério, o rei dos goleiros artilheiros, chegou à sua marca histórica em cobrança de falta...coisas de Rogério...

Da mesma maneira que até hoje a torcida grita o nome de Telê Santana, o nome de Ceni será cantado por muitos anos...

 

Rogério Cem ni...Rogério Cem pri... Sempre Rogério Ceni

 

Se fosse no sambódromo ouviríamos:

 

Quesito alegria...

 

Rogério 100...nota 100

 

 

Arandú,28 de março de 2011