13-08-2014Casa-Grande & Senzala Gilberto Freyre , 1ª edição 1933Gilberto Freyre “PELA SUA OBRA de escritor mereceu a consagração do Prêmio Aspen, Gilberto Freyre, em 1967, escolhido dentre escritores, poetas, pensadores, romancistas, ensaístas, cientistas sociais, artistas do mundo inteiro como correspondente melhor do que ninguém aos ideais humanísticos em Literatura”. (Trecho do relatório da Comissão de Julgadores do Prêmio Aspen, presidida por Lord Franks, da Universidade de Oxford,justificando, de maneira honrosíssima para a cultura brasileira, a escolha de Gilberto Freyre para receber tão brilhante láurea, considerada o Prêmio Nobel dos Estados Unidos.) É uma láurea, o Prêmio Aspen, que “consagra indivíduos notáveis por contribuições excepcionalmente valiosas para a cultura humana nos setores humanísticos (Filosofia, Literatura, História, Artes Plásticas, Ciências do Homem)”.A Gilberto Freyre foi conferido o Prêmio Aspen como, pela primeira vez, um prêmio tríplice: por sua obra excepcionalmente criadora como filósofo, como cientista social e como criador literário. O Prêmio se destina a distinguir, nos vários setores que alcança, “criatividade genial” ou “genialidade criadora”, tendo sido por ele laureados, desde que foi instituído, figuras máximas pelo gênio criador, como o compositor inglês Benjamin Britten, a moderna renovadora da dança Martha Graham, o urbanista grego Constantino Doxiadis, o escritor literário norte-americano Edmund Wilson.(http://www.erealizacoes.com.br/autores/autores_GilbertoFreyre.asp) Casa-Grande & Senzala é um livro escrito pelo autor brasileiro Gilberto Freyre, publicado em 1 de dezembro de 1933 pela primeira vez. Através dele, Freyre destaca a importância da casa grande na formação sociocultural brasileira, bem como a da senzala que complementaria a primeira. Além disso, casa grande e senzala dá muita ênfase a questão da formação da sociedade brasileira, tendo em vista a miscigenação que ocorreu principalmente entre brancos, negros e indígenas.Na opinião de Freyre, a própria estrutura arquitetônica da casa grande expressaria o modo de organização social e política que se instaurou no Brasil, qual seja o do patriarcalismo. Isto posto que tal estrutura seria capaz de incorporar os vários elementos que comporiam a propriedade fundiária do Brasil colônia. Do mesmo modo, o patriarca da terra era tido como o dono de tudo que nela se encontrasse como escravos, parentes, filhos, esposa, etc. Este domínio se estabelece de maneira a incorporar tais elementos e não de excluí-los. Tal padrão se expressa na casa grande que é capaz de abrigar desde escravos até os filhos do patriarca e suas respectivas famílias.Neste livro o autor também tenta desmistificar a noção de determinação racial na formação de um povo no que dá maior importância àqueles culturais e ambientais. Com isso refuta a ideia de que no Brasil se teria uma raça inferior, dada a miscigenação que aqui se estabeleceu. Antes, aponta para os elementos positivos que perpassam a formação cultural brasileira composta por tal miscigenação (notadamente entre portugueses, índios e negros). Comentários acerca da obraEntre 1933 e 1942, três grandes livros publicados alimentaram, no dizer de Antônio Cândido, a imaginação dos jovens brasileiros e os estimularam a refletir sobre seu país: Casa-Grande & Senzala (1933), de Gilberto Freyre; Raízes do Brasil (1936) de Sérgio Buarque de Holanda e Formação do Brasil Contemporâneo (1942) de Caio Prado Júnior. Sobre a "composição libérrima" de Casa-Grande & Senzala, atribuindo ao escravo uma importância ímpar e decisiva na formação do ser mais íntimo brasileiro, e a abordagem da vida sexual de forma tão franca, disse, ainda, que os pósteros não fazem ideia de sua força revolucionária e seu impacto libertário da colônia brasileira. http://pt.wikipedia.org/wiki/Casa-Grande_%26_Senzala críticasEntretanto, na opinião de outros sociólogos contemporâneos, alguns deles ligados à esquerda do movimento negro e de uma linha mais marxista e menos culturalista, o ideal da miscigenação adquiriria uma nova roupagem na obra “Casa Grande e Senzala”, passando a ser vista como mecanismo de um processo, o qual teria como fim a democracia racial (expressão usada por Gilberto Freyre só muito mais tarde).Segundo Clóvis Moura, "Gilberto Freyre caracterizou a escravidão no Brasil como composta de senhores bons e escravos submissos". O mito do bom senhor de Freyre seria uma tentativa no sentido de interpretar as contradições do escravismo como simples episódio sem importância, e que não teria o poder de desfazer a harmonia entre exploradores e explorados durante aquele período.Relata Martiniano J. Silva que a miscigenação é um velhíssimo processo de enriquecimento racial e cultural dos povos, capaz de gerar civilizações, e que ocorre de forma livre e democrática. Afirma que historicamente a miscigenação de raças no Brasil “nunca foi tratada e nunca existiu como um processo livre, espontâneo, e, portanto, natural, de união entre dois povos.” Ao contrário, como reafirma Silva, a dignidade da mulher negra teria sido violentada, atingindo sua honra no âmbitomoral e sexual, através de uniões mantidas a força, sob a égide do medo, da insegurança, onde as crianças eram concebidas legalmente sem pai, permanecendo no status de escrava, não havendo assim nenhum enriquecimento racial e cultural de civilização alguma. Conclui dizendo que é preciso que não se confunda a descaracterização de um povo pela violência sexual com a hipótese de uma democracia racial.O próprio Freyre, na obra em apreço, corrobora essa violência, embora um tanto acanhadamente:«Nenhuma casa-grande do tempo da escravidão quis para si a glória de conservar filhos maricas ou donzelões. O folclore da nossa antiga zona de engenhos de cana e de fazendas de café, quando se refere a rapaz donzelo, é sempre em tom de debique:para levar o maricas ao ridículo. O que sempre se apreciou foi o menino que cedo estivesse metido com raparigas. Raparigueiro, como ainda hoje se diz. Femeeiro. Deflorador de mocinhas. E que não tardasse a emprenhar negras, aumentando o rebanho e o capital paternos»(p.356). Se esse foi sempre o ponto de vista da casa-grande, como responsabilizar-se a negra da senzala pela depravação precoce do menino nos tempos patriarcais? O que a negra da senzala fez foi facilitar a depravação com a sua docilidade de escrava;abrindo as pernas ao primeiro desejo do sinhô-moço. Desejo, não:ordem".Ou seja, o autor, de forma mais objetiva, não profliga a promiscuidade reinante no período escravocrata. Mais incisivo é Sergius Gonzaga:"Filhos, quase todos, de senhores de engenho, tinham à disposição o corpo das escravas — tidas como coisas, e assim obrigadas a aceitar o furor sexual dos grandes proprietários e seus descendentes. Algumas delas requintavam a sensualidade, buscando fugir à brutalidade do trabalho servil pelo reconhecimento de um senhor mais generoso". Gilberto Freyre sobre as críticas que recebeu E ao prefaciar a obra Religião e Relações Raciais, de René Ribeiro, Gilberto Freyre mais uma vez afirmou:“Tão extremada é tal interpretação como a dos que pretendam colocar-me entre aqueles sociólogos ou antropólogos apenas líricos para quem não houve jamais entre os portugueses, nem há entre brasileiros, preconceito de raça sob nenhuma forma. O que venho sugerindo é ter sido quase sempre, e continuar a ser, esse preconceito mínimo entre portugueses — desde o contato dos mesmos como os negros e da política de assimilação, do Infante – e brasileiros, quando comparado com as outras formas cruas em vigor entre europeus e entre outros grupos. O que daria ao Brasil o direito de considerar-se avançada democracia étnica como a Suíça se considera — e é considerada — avançada democracia política, a despeito do fato, salientado já por mais de um observador, de haver entre os suíços não raros seguidores de (…) ideias políticas de antidemocracia”. O fato de não haver se filiado à corrente maniqueísta esposada por alguns dos líderes negros talvez tenha custado muito caro ao sociólogo. Mas a verdade é que Freyre bem conhecia a realidade estadunidense, a tal ponto de não poder associá-la, nem aproximá-la, da realidade brasileira. Usualmente Freyre tecia considerações sobre as diferenças entre o sistema de segregação institucionalizada, operada nos Estados Unidos e o racismo praticado no Brasil. Nesses termos, afirmava:“Não é que inexista preconceito de raça ou de cor conjugado com o preconceito de classes sociais no Brasil. Existe. Mas ninguém pensaria em ter Igrejas apenas para brancos. Nenhuma pessoa no Brasil pensaria em leis contra os casamentos inter-raciais. Ninguém pensaria em barrar pessoas de cor dos teatros ou áreas residenciais da cidade. Um espírito de fraternidade humana é mais forte entre os brasileiros que o preconceito de raça, cor, classe ou religião. É verdade que a igualdade racial não se tornou absoluta com a abolição da escravidão. (…). Houve preconceito racial entre os brasileiros dos engenhos, houve uma distância social entre o senhor e o escravo, entre os brancos e os negros (…). Mas poucos aristocratas brasileiros eram rígidos sobre a pureza racial, como era a maioria dos aristocratas anglo-americanos do Velho Sul”.2 Bibliografia FREYRE, Gilberto. Casa-Grande & Senzala. Editora Record, Rio de Janeiro, 1998, cap. IV, 34ª edição, pág. 372.GONZAGA, Sergius. Manual de Literatura Brasileira. Mercado Aberto, Porto Alegre, 1985, capítulo II, página 16.HOLANDA, Sérgio Buarque de. Raízes do Brasil. Coleção Documentos Brasileiros. Prefácio de Antônio Cândido. Rio de Janeiro:José Olympio, 1987, 19ª edição.MOURA, Clóvis. Sociologia do Negro Brasileiro. Série Fundamentos. São Paulo:Editora Ática, 1988, pág. 18.SILVA, Martiniano J. Racismo à Brasileira: Raízes Históricas. 3ª edição. São Paulo: Anita,[1995]. leia mais em http://pt.wikipedia.org/wiki/Casa-Grande_%26_Senzala |