11-11-2004Informativo Sebastião CoelhoHomenagem ao saudoso jornalista angolano Sebastião Coelho Este um espaço dedicado ao continente africano e à diáspora Envie-nos sua opinião que nós publicamos. Nesta edição encontra:
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Organizada pela União Africana, o evento teve como tema "A África no século 21: Integração e Renascimento" e reuni cerca de 700 pessoas.
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Com nove mil verbetes, a obra, assinada por Nei Lopes, compositor e escritor, integrante do mundo do samba e militante da causa negra, é um trabalho inédito e pioneiro. Ela reúne, em um único volume, uma gigantesca massa de informações ligadas à saga dos afro-descendentes nas Américas e em outras partes do mundo. Com isso, além de elevar a auto-estima da população negra, a obra aparece como referência fundamental entre os modernos estudos sobre o continuum africano na diáspora. Sambista de sucesso, militante da causa afro-descendente e intelectual com senso prático, Nei Lopes há muito tempo percebeu a carência de uma bibliografia popular brasileira sobre assuntos africanos. Sem vinculação acadêmica, mas autor de 14 livros publicados (mais 2 já no prelo), há cerca de 10 anos ele decidiu produzir uma obra de cunho enciclopédico que reunisse, em um único volume e em forma de dicionário, informações multidisciplinares sobre o universo das culturas africanas, afro-americanas e afro-brasileiras. O resultado dessa inquietação e de longos anos de trabalho é a "Enciclopédia Brasileira da Diáspora Africana", lançada pela Selo Negro Edições. São nove mil verbetes, abordando assuntos dos mais diversos a partir do ponto de vista brasileiro — de biografias a vestuário; de fatos históricos e contemporâneos a acidentes geográficos, flora e fauna; de festas e divertimentos a profissões e atividades. Inédita e pioneira pelo conteúdo e pela metodologia de pesquisa, de forte compromisso com o registro fiel e exato das informações coletadas, a obra tem a alma de Nei Lopes. Sempre criativo em suas realizações, ele vem enriquecendo o panorama da cultura nacional com a sua singular capacidade de elaborar e interpretar a dimensão mais densa e profunda da africanidade no país. Um dos grandes objetivos da Enciclopédia Brasileira da Diáspora Africana, segundo o autor, é popularizar conhecimentos antes restritos a especialistas, num momento em que ocorrem no Brasil reformas de currículos escolares, em uma perspectiva mais afrocentrada. Nesse sentido, a obra vai muito além dos estereótipos freqüentemente associados ao negro brasileiro — cuja participação na formação da cultura nacional é recorrentemente restrita às áreas do folclore, da música, da dança e da culinária. De acordo com Elisa Larkin Nascimento, pesquisadora e co-fundadora do Instituto de Pesquisas e Estudos Afro-Brasileiros, "a Enciclopédia é um compêndio de informações complexas, aprofundadas e não divorciadas de seu contexto mais amplo, a matriz cultural do mundo africano". Outro alvo importante é a auto-estima do negro. Para o autor, a Enciclopédia Brasileira da Diáspora Africana sinaliza um passo decisivo na reflexão para construção de uma auto-estima positiva na emocionalidade do leitor afro-brasileiro. "São referências onde o leitor negro se localiza e se estrutura para construir a tão buscada e quase nunca atingida auto-estima", diz. Nei Lopes lembra que nas publicações disponíveis, o negro parece só ter interesse etnográfico. "Nessas obras, raramente figuram heróis, sábios, grandes homens. Para essas publicações, em geral, o vocábulo ‘negro’ define, no Brasil, mais uma categoria social, já que os ‘grandes homens’, quando afro-descendentes, são apenas ‘nascidos em lar humilde’ e quase nunca efetivamente ‘negros’". A paixão e o engajamento nas questões da negritude, independentemente de vínculos acadêmicos, fez com que Nei Lopes, estudioso e pesquisador nato, mergulhasse em um minucioso e rigoroso processo de pesquisa para produzir verbetes curtos e resumidos. A ótica desenvolvida dedica bastante ênfase às biografias de anônimos que fizeram ou fazem parte da história africana, como revolucionários, líderes religiosos e educadores. No que diz respeito à religião de origem africana, o autor procura fechar um círculo de informações no tripé Brasil-Cuba-África. Entre os diversos verbetes, o leitor saberá, por exemplo, quem foi Diane Abbot (1953). Parlamentar inglesa em Londres, filha de pais jamaicanos, ela tornou-se a primeira mulher negra eleita como membro do Parlamento Britânico em 1987. Destacou-se na defesa anti-racista dos imigrantes pobres e das minorias étnicas. No campo da religião, Nei procura, por exemplo, desconstruir a satanização do vodu haitiano, mostrando-o apenas como uma religião sincrética, de forte participação na História daquele importante país — matriz, no século XIX, a libertação negra nas Américas. Resumindo, como diz Emanoel Araújo, artista plástico e organizador do livro "A Mão Afro-brasileira", um dos apresentadores da obra: Nei Lopes, com talento sensível e legítimo, "tem na alma o sentido do tempo, a busca da permanência, a continuidade da vida como ela é."
O autor Nascido na zona suburbana carioca em maio de 1942, Nei Lopes bacharelou-se pela antiga Faculdade Nacional de Direito da atual UFRJ aos 24 anos de idade. No início dos anos de 1970, abandonando a advocacia, encetou carreira artística, tornando-se primeiro publicitário e depois compositor profissional de música popular. Na década seguinte, destacou-se também por sua militância pelos direitos civis do povo negro, publicando a partir de 1981 alguns livros pioneiros, como "Bantos, Malês e Identidade Negra", "O Negro no Rio de Janeiro e sua Tradição Musical", "Sambeabá" e "Novo Dicionário Banto do Brasil", além de artigos e ensaios no exterior e coletâneas de contos e poemas, sempre evidenciando sua condição de brasileiro afro-descendente. Na música popular, é autor consagrado em parcerias e interpretações de grandes nomes de suas obras, como Chico Buarque, Gilberto Gil, Milton Nascimento, Martinho da Vila, entre outros. Livro: Enciclopédia Brasileira da Diáspora Africana Autor: Nei Lopes Editora: Selo Negro Edições Preço: R$ 129,00 Páginas: 720 pag. (17 x 24 cm) Mais informações– 11-3814-4600 &&&
Angola: VINTE E NOVE ANOS DE INDEPENDÊNCIA Na tónica do discurso governamental, ainda ontem vincada pelo próprio Presidente da República, o pior ficou para trás, no passado. Isto é, no percurso difícil que se seguiu depois da independência «por causa das guerras de agressão e do conflito entre irmãos mas, felizmente tudo terminou num acordo de reconciliação nacional e paz». O extracto é das declarações do presidente José Eduardo Dos Santos depois de inaugurar o memorial sobra a batalha de Kifangondo, onde se confrontaram as forças do MPLA (vitoriosas) e da FNLA (derrotadas). O acto foi o pontapé de saída de um programa que inclui mais de uma centena de inaugurações em todo o país, desde pequenas infra-estruturas de apoio às populações até grandes empreendimentos nas principais cidades. A nova pista do Aeroporto de Ondjiva, capital provincial do Cunene, a estrada nacional que liga as províncias da Huíla e do Namibe, recentemente reabilitada, e a abertura ao trânsito do Viaduto do Prenda e o alargamento da estrada da Samba, em Luanda, são algumas das inaugurações de destaque previstas. O acto central das comemorações vai decorrer na província do Namibe, para onde seguiu Dos Santos hoje e onde vai reunir a Comissão Permanente do Conselho de Ministros. Em suma, para o poder, pesem embora as dificuldades, está-se doravante diante de um futuro risonho. PAÍS CONTINUA ADIADO Esta visão não colhe a concordância do maior partido da oposição, a UNITA, que sublinha: «Infelizmente, o país continua adiado. O amanhã risonho que a independência deveria proporcionar esvaneceu-se, dando lugar ao medo e à incerteza». A posição está contida na declaração do Comité Permanente da sua Comissão Política sobre a efeméride. No seu ponto de vista, «o país continua refém da corrupção em larga escala, da arbitrariedade e da caridade internacional». A UNITA apela, por conseguinte, «à união de todas as forças vivas do país num esforço para a construção de uma Angola verdadeiramente democrática, livre do medo, da pobreza e da corrupção». ACORDOS DE ALVOR Angola tornou-se independente a 11 de Novembro de 1975. A data constou dos Acordos de Alvor, rubricados pelo governo português e pelos líderes do MPLA, UNITA e FNLA, os três movimentos de libertação angolanos. Na noite desta data, Agostinho Neto, que veio a ser o primeiro presidente de Angola, proclamou a independência em Luanda. Valeram-lhe o forte apoio militar do então bloco soviético, que destacou um poderoso contigente de militares cubanos, e o seu rápido reconhecimento pela Organização da Unidade Africano. Os seus rivais, Holden Roberto, da FNLA, e Jonas Savimbi, da UNITA, fizeram idêntica proclamação na cidade do Huambo, onde eram apoiados pelas forças sul-africanas da era do apartheid. À derrota militar dos rivais, seguiu-se uma guerra civil que se prolongou até praticamente 2002, ano em que sucumbiu Savimbi. Mas, quase três décadas depois do dia histórico da independência, Angola ainda não conseguiu atingir os patamares do desenvolvimento nem melhorar as condições de vida dos seus cerca de 14 milhões de habitantes, apesar das suas imensas riquezas naturais. A fome e as doenças continuam a ser um problema para uma parte significativa da população, especialmente do interior. As más condições de acesso, quer pelo perigo das minas quer pela degradação das estradas, são um entrave acrescido ao desenvolvimento de várias regiões do país, onde mesmo os parceiros humanitários chegam com dificuldade. A tendência à litoralização do desenvolvimento é evidente, como também cresce a tendência da população em concentrar-se nas grandes cidades e suas periferias. Na capital, onde se estima que se concentrem cerca de quatro milhões de pessoas, as condições de vida são difíceis, devido à falta de empregos, baixos salários, e desajuste entre as infra-estruturas e parque habitacional e a pressão de uma população tão numerosa. Os dados oficiais referem que mais de 60 % da população angolana é afectada pela pobreza. ESTATÍSTICAS ELOQUENTES As estatísticas indicam que apenas 38 % da população tem acesso a água potável e 44 % dispõe de saneamento básico. As estatísticas dizem ainda que apenas um quarto da população angolana tem acesso a serviços de saúde que, na maior parte dos casos, são de fraca qualidade. Os dados oficiais dizem ainda que 12 % dos hospitais, 11 % dos centros de saúde e 85 % dos postos de saúde existentes no país apresentam problemas ao nível das instalações, da falta de pessoal e de carência de medicamentos. A taxa de mortalidade infantil é a terceira mais alta do mundo, com 250 mortes por cada 1.000 crianças que nascem. As preocupações na área da Saúde incluem também o combate à malária, à doença do sono e à tuberculose, que provocam dezenas de milhares de mortos anualmente. Os números dizem ainda que a taxa de analfabetos é bastante elevada, especialmente entre as mulheres, uma situação é agravada pelo grande número de crianças e jovens que todos os anos fica fora do sistema de ensino. &&&
Resistência e direitos humanos em Cabinda em debate em França Cabinda não é Angola
O início formal da resistência armada cabinda remonta à criação da Frente de
Nos últimos dias, Grenoble tem sido palco de uma série de iniciativas sobre
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Dizem as pessoas 'politicamente correctas' que não vale a pena, que é um caso perdido, etc. Diziam o mesmo do caso de Timor, acham que por pragmatismo se deve aceitar as situações injustas». Lembrou ainda que «além do mais, até 1991, a União Soviética tinha uma extraordinária máquina de manipulação da opinião internacional, e curiosamente essa máquina continua em parte a funcionar, talvez em 'roda livre', talvez financiada por outros. Há movimentos de
Em diversas ocasiões, D. Duarte de Bragança apresentou a sugestão de Angola
«Os jornalistas que me entrevistaram para a rádio perguntaram-me se eu chava Antropologia Os africanos em Portugal
Autor: Neusa Maria Mendes de Gusmão
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Angola quer ajuda de Portugal e do Brasil para países pobres &&& A Sociedade Angolana através da Literatura (1978), de Fernando Augusto Albuquerque Mourão:
Da contacapa:
Revolução e Literatura
Em A Sociedade Angolana através da Literatura , alinham-se duas ordens de análise dentro da perspectiva de dar ao leitor, através do quadro do movimento literário desse jovem país africano, principalmente nas décadas de 30, 40 e 50, as raízes do processo do nacionalismo angolano no enfoque de uma literatura negra de expressão portuguesa. Essa dupla ordem de análise se reporta inicialmente à literatura de Luanda, capital de Angola, cidade onde, desde o fim do século passado, começaram a surgir movimentos artísticos dotados de características específicas.
A análise se relaciona, outrossim, com a obra de Castro Soromenho, a qual pode ser dividida em duas fases fundamentais: o escritor da África Tradicional e o romancista do Processo Colonial.
A obra interessa ao público em geral como elemento de compreensão dos acontecimentos que culminaram com a independência da jovem nação angolana e, em especial, aos estudiosos e estudantes de sociologia e literatura como uma contribuição fecunda à sociologia da literatura. &&& Petróleo, diplomacia e direitos humanos &&& A evolução de Moçambique na óptica de um académico "A actividade científica é apenas uma das maneiras de dar conta da realidade" Uma entrevista com João Paulo Borges Coelho Na altura em que saiu em Lisboa o seu segundo romance, "As visitas do Dr. Valdez", um ano depois de "As Duas Sombras do Rio", um multifacetado professor da Universidade Eduardo Mondlane, de Maputo, faz-nos o balanço da vida académica em Moçambique e dos novos caminhos que a literatura está ali em vias de encetar. por Jorge Heitor João Paulo Constantino Borges Coelho, doutorado em História Económica e Social pela Universidade de Bradford, no Reino Unido, é um dos muitos intelectuais moçambicanos que têm as suas raízes fora da África Austral e que assim conseguiram enriquecer o espólio cultural da jovem nação, em cujos pergaminhos coexistem um Mia Couto e um Malangatana, um Craveirinha e um Aquino de Bragança. Cidadão de um país que foi buscar quadros desde o Douro até Goa. PÚBLICO - O que é que faz com que uma pessoa nascida em Portugal opte por uma nacionalidade africana? Borges Coelho - O nascimento no Porto foi um acaso. Fui para Moçambique com alguns meses, de modo que, de alguma maneira, nasci lá. Pertenço a uma família muito dividida, no sentido em que o meu pai é daqui, mas a minha mãe é de lá. E foi lá que tive consciência de mim. P - Como é que recebeu o 25 de Abril e a independência de Moçambique? R - Em princípios de 73 vim estudar para Lisboa, tendo regressado a Moçambique dois meses depois da proclamação da independência (em 1975). Fiz um percurso ao contrário do normal. Era uma altura de grandes dificuldades, mas também de grande entusiasmo. Havia um projecto social, do ponto de vista de construir um país. Foi uma época de grande entusiasmo. P - Como é que evoluiu o mundo académico em Moçambique? R - A Universidade era ainda um espaço de elite, herdado do período anterior; mas foram tempos muito positivos, na medida em que Moçambique era uma experiência nova, que despertava muita curiosidade entre os intelectuais. Na área das Ciências Sociais beneficiámos da visita de grandes académicos da França, dos Estados Unidos, do Canadá, do Reino Unido. Era um período de grande debate intelectual. Uma zona privilegiada, a Universidade, apesar das dificuldades. A partir da década de 80, as coisas tornaram-se um pouco mais complicadas, em termos de recursos. Mas passa por aí também a autonomia da própria Universidade, como espaço de pensamento. P - Não tem sido particularmente difícil ter uma vida académica num país bastante pobre? R - A Universidade foi sempre tida como um espaço importante. Paradoxalmente, é nos tempos mais recentes que as suas dificuldades se acentuam, porque a rota natural da massificação traz consigo problemas em relação à qualidade. Talvez não seja actualmente encarada como tão importante como o foi no passado. Aumentou imensamente o número de estudantes na Eduardo Mondlane, que era praticamente a única; e agora já há em Moçambique muito mais universidades, tanto estatais como privadas. Pouca influência sul-africana P - Grande influência das universidades sul-africanas? R - Curiosamente, não. É agora que procuramos estabelecer mais pontes. Até 1992/1993, havia uma grande barreira. Era mais do que um oceano ou do que um continente a separar-nos. O Centro de Estudos Africanos era uma excepção e em grande medida funcionava com académicos sul-africanos no exílio (como Ruth First). P- Para além da carreira de investigador, chegou a fazer inclusive banda desenhada e dedicou-se ultimamente ao romance. R - Envolvi-me muito na área da História Contemporânea, mas sempre tive claro que a actividade científica é apenas uma das maneiras de dar conta da realidade. A literatura é um processo importante de interpretar aquilo que nos cerca. P - Que influências é que teve na sua escrita? R - Sempre li tudo o que me chegou às mãos, procurando não me ligar directamente a nenhum tipo de influência, mas fazer antes com que fosse um resultado de uma amálgama. Os clássicos europeus, alguma literatura africana. Lembro-me particularmente de António Quadros, pintor, escritor, homem de sete ofícios, que teve grande influência em mim. A poesia de Craveirinha, que era uma forma de racionalizar aquele presente. P - Que obra é que tem agora mais avançada, para próxima publicação? R - Um conjunto de narrativas extensas, que se desenvolvem ao longo de toda a costa de Moçambique, de 2.500 quilómetros, virada para o Índico, um espaço de cruzamento de rotas, muito complicado. Um projecto que procura dar conta da alma de cada lugar, ao longo da costa. Corresponde a um caminhar do Sul até ao Rovuma, à fronteira com a Tanzânia. P - Como é que está a literatura moçambicana? R - Está numa falsa crise, numa encruzilhada. Havia um tipo de literatura, nichos muito restritos; e tenho esperança de que brevemente seja possível um novo período, com muita gente a escrever, novos ângulos, novas maneiras de dar uma realidade que temos hoje, muito complexa, mais complexa do que tudo o que vivemos desde a proclamação da independência, com uma muito maior curiosidade sobre o que hoje se passa no mundo. Vivemos uma espécie de transição arrastada. P - Alguém terá dado já como morta a literatura que se fazia nos últimos 10 anos? R - Houve um período de relativo amadurecimento, em duas vagas. E um factor que me parece muito importante é a existência cada vez mais nítida de uma crítica literária importante, com nomes como Fátima Mendonça, Gilberto Matusse, Francisco Noa, Almiro Lobo... O que é importante para favorecer o surgimento de uma literatura mais consistente, consolidada e alargada. Mas infelizmente é ainda uma literatura muito de Maputo e um pouco da Beira, com pequenas iniciativas em cidades como Quelimane e Inhambane. Do marxismo ao seu oposto P - Já estamos muito longe de um país que foi criado com base nas doutrinas marxistas? R - Estamos talvez no campo oposto. Houve uma grande abertura em termos políticos, com o acordo de paz de 92. As questões são mais complexas e os desafios tão grandes ou ainda maiores do que nos primeiros anos. O futuro resultará de um debate intenso de diferentes pontos de vista. P - O aumento dos valores macro-económicos não correspondeu a um bom-estar geral. R - Em certo sentido, as assimetrias até são mais acentuadas do que nunca. Há um grande dinamismo na construção de elites; mas há tembém grande número de moçambicanos a sobreviver nas margens. A pobreza está muito longe de ser erradicada. É o resultado de uma ordem neo-liberal que prevalece a nível internacional e que nos entra pelas portas e pelas janelas e que não conseguimos suster. P - Há muito a fazer, no sentido de tornar mais homogénea a sociedade moçambicana? R - Há a diferença clássica entre a cidade e o campo. Há diferenças entre um Sul relativamente mais desenvolvido e um Centro e Norte ainda muito na margem e que é preciso integrar. A parte meridional do país, mais próxima da África do Sul, está mais dotada de infraestruturas, enquanto o Norte sofre muito com a actual crise no Zimbabwe. P - Como vai o trabalho de alfabetização? R - Já se fez melhor. O regime socialista, porventura mais autoritário, tinha políticas sociais mais nítidas, no campo da saúde e da educação. Agora, no regime neo-liberal, o índice de analfabetismo é porventura maior do que já foi no passado. E o mercado para a literatura é ainda muito frágil. &&& Reconstrução da História de Moçambique Jorge Heitor A trajectória política de um missionário presbiteriano que foi vice-presidente da Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo) e depois acabou por ser fuzilado durante os primeiros cinco anos após a proclamação da independência do país é traçada por Barnabé Lucas Ncomo no livro "Uria Simango - Um homem, uma causa", recentemente editado em Maputo, onde tem provocado grande polémica. Numa altura em que um dos filhos de Uria, Deviz, assume a presidência do município da Beira, a segunda cidade do país, eleito nas listas da Resistência Nacional (Renamo), principal força da oposição, os moçambicanos tratam de reconstruir a sua História recente, a destes últimos 50 anos, desde que alguns indivíduos começaram a pensar numa luta de libertação nacional, contra a colonização portuguesa. A base fundamental do trabalho de Ncomo é a correlação de forças que se verificou durante a primeira dúzia de anos da existência da Frelimo, dominada pelas figuras de Eduardo Mondlane, de Uria Simango e de Marcelino dos Santos, este último ainda vivo, se bem que relegado agora para um papel de referência histórica. A análise do xadrez político moçambicano nas décadas de 60 e 70 interessa sobretudo a todos aqueles que sempre gostaram de acompanhar o processo de emancipação das antigas colónias e para os quais não são de forma alguma desconhecidos os nomes de Amílcar Cabral, Viriato da Cruz, Agostinho Neto, Mário Pinto de Andrade e Aquino de Bragança. Uria Timóteo Simango acabou por ser morto com a conivência de alguns dos seus antigos companheiros de jornada, acusado de reaccionário e de traidor à causa que todos unira, mas o biógrafo procura agora reabilitá-lo, no sentido de se rectificar a História oficial que em Moçambique foi contada durante este último quarto de século. O reverendo era um homem da província de Sofala, no centro do país, tal como Afonso Dhlakhama, o actual chefe da Renamo, de modo que entrou facilmente em conflito com a elite sulista, designadamente da província de Gaza, que em 1969 ou em 1975, para já não dizer mais tarde, se assenhoreara da Frelimo, transformando-a num movimento que não tinha igual implantação em todo o território nacional. Ou, dito de outra maneira, a clique meridional é que o teria isolado e votado ao ostracismo, nas lutas internas que tantas vezes ocorrem nos movimentos políticos e que chegam a ter consequências trágicas. São os meandros sujos da política, que nem sempre é feita com dignidade; e que nesta altura está uma vez mais bastante viva em Moçambique, quando se aproximam as presidenciais e as legislativas de Dezembro.
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Português Que (Ainda) Se Fala na África Lusófona &&& A PROPÓSITO DE ZUMBI
Francisco Amorim *
Senhores Milton de Mendonça Teixeira – intitulado professor de história e Marcos Barbosa – Diretor do Jornal “Folha Cultural” Prof. Sérgio Dias – Reitor da Universidade Gama FilhoDiretor da PROTUR – Escola de Turismo
Rio, 17/11/2004
Senhores, É um espanto ver como um indivíduo que se intitula professor de história em uma Universidade - e talvez tenha essa profissão, sem que saiba o que seja História - se arrogue o direito de deturpar a seu bel-prazer os fatos daquilo que é, de fato, História. Num artigo sobre Zumbi dos Palmares, na “Folha Cultural” n° 39 de Novembro de 2004, o senhor Milton de Mendonça Teixeira torce os acontecimentos para afirmar que Ganga Zumba teria sido envenenado pelos portugueses! Não sabemos de onde provém esta raiva do senhor Milton pelos portugueses! Que finalidade procura este senhor, mentindo, quando a história, aquela que é feita por historiadores e não por falsos professores, tem sabido que Ganga Zumba foi envenenado por seu sobrinho o, hoje famoso, Zumbi dos Palmares? Será o senhor Milton descendente, pelo seu sobrenome, de algum outro povo que não fosse português? Se é tanta a sua raiva contra os seus antepassados, que o leva a ponto de deturpar a história, porque não muda o sobrenome para Milton Hitler, por exemplo? Ou Bush, ou Ho Chi Min, ou até para Milton Idi Amin Dada? Todo o artigo que o senhor Milton escreve sobre Zumbi é um monte de disparates! Que falta de consciência e de isenção, um dos primeiros predicados que deve enquadrar o pensamento de um historiador e/ou professor de história! Como é que uma Universidade permite que um individuo deste calibre continue a lecionar, sabendo que está a mentir para os alunos? E a PROTUR? Que pena que um jornal, simpático, como é a “Folha Cultural”, publique anti-cultura deste tipo! Não é necessário falsear a história para que Zumbi continue a ser um símbolo da luta pela liberdade. Mas o que o povo mais precisa, não é de quem lhe minta, mas de quem lhe conte as verdades. Destas pode orgulhar-se. Daquelas, só envergonhar-se.
* Francisco G. de Amorim Rio de Janeiro “É preciso entender que a desigualdade no Brasil tem cor, nome e história. Esse não é um problema dos negros no Brasil, mas sim um problema do Brasil, que é de negros, brancos e outros mais” |