Iclas - Instituto de Culturas Lusófonas
Antonio Borges Sampaio


26-07-2010

Um adeus a Saramago José Gomes


Um adeus a Saramago

Por José Gomes


Sobre José Saramago, essa grande figura da literatura portuguesa e mundial que nos deixou em 18 de junho, nada mais a acrescentar. As obras que nos legou perpetuarão o Homem, o Escritor, o Sonhador e o Lutador que sempre foi.

José Gomes (Blog Chuviscos) para "dizer" sobre Saramago, serve-se do texto escrito pela Ana Camarra, que convida a ler no
revolucionaria.wordpress.com/2010/06/18/no-sentido-contrario-aos-ponteiros-do-relogio/ .

E mais palavras para quê? José Saramago foi, é e será uma grande figura da Humanidade.

 

gte vml 1]> !vml]-->http://revolucionaria.files.wordpress.com/2010/06/gusmaos_passarola.jpg?w=300&h=233O primeiro livro que li de Saramago foi o imenso Memorial do Convento, foi em 84, de muita coisa que me ficou uma delas foi a incrível conclusão de Padre Bartolomeu de Gusmão de que Deus será maneta, maneta da mão direita, porque na sua esquerda ninguém se senta…um pequeno pormenor num livro tão imenso, imenso como Convento.
Fiquei atracada aos Livros do Saramago, mas ficou-me no goto o “Ano da Morte de Ricardo Reis”, o meu favorito, tenho pena da morte dele, mas ninguém é eterno, neste caso é diferente porque será eterna a sua obra.
No sentido contrário dos ponteiros do relógio fica-me a clarividência de Blimunda, a luta de todas as personagens do “Levantado do Chão”, lado prático de Baltazar, a viagem triste de Ricardo Reis numa Lisboa fascista, a imensa aventura da península Ibérica a vaguear no Atlântico, Jesus Cristo questionando os desígnios do Altíssimo, a estranha viagem do elefante, o ataque contagioso de cegueira, o sonho de voar de Bartolomeu de Gusmão, a música de Scarlatti e Caim perdido numa teia estranhas injustiças.
No sentido contrário dos ponteiros do relógio ainda fica o discurso de Saramago na atribuição do prémio Nobel, relembrando que ainda estamos num mundo de contrastes onde se enviam sondas a Marte e existem seres humanos a morrer de fome.
Saramago foi polémico, afinal era um homem de raízes humildes, sem estudos académicos e acabou por alcançar a maior distinção internacional da literatura, foi maltratado por governantes nacionais que não conseguiram despir-se de preconceitos religiosos ou políticos face à sua obra, escolheu viver no país ao lado, com uma mulher mais jovem que ao apaixonar-se pela obra, acabou por se apaixonar pelo homem, continuou sempre a manter as suas posições politicas, reafirmando-se como comunista, no sentido contrario aos ponteiros do relógio, fomos mais ricos por ter um português assim, ficou um buraco no mundo com o seu desaparecimento, não sabemos que histórias teria guardadas para contar.

#Ana Camarra

“Não digamos, Amanhã farei, porque o mais certo é estarmos cansados amanhã, digamos antes, Depois de amanhã, sempre teremos um dia de intervalo para mudar de opinião e projecto, porém ainda mais prudente seria dizer, um dia decidirei quando será o dia de dizer depois de amanhã, e talvez um dia preciso, se a morte definidora vier antes desobrigar-me do compromisso, que essa, sim, é a pior coisa do mundo, o compromisso, liberdade que a nós próprios negámos…”

Excerto do livro de José Saramago, O Ano da Morte de Ricardo Reis, 1984

 

Fonte   http://chuviscos.blogspot.com/