01-10-2004Musicistas Uberabenses : Jornadas de Música Antiga na GulbenkianO Livro a "A música no Brasil Colonial" , editado pela Fundação Calouste Gulbenkian, divulga pesquisas de musicistas uberabenses Jornadas de Música Antiga As Jornadas Gulbenkian de Música Antiga, que acontecem, anualmente, na capital portuguesa , vivenciaram, em 2002, a sua XXIII versão. Para a classe artística e aficionados da música erudita, elas representam a mais importante e vitoriosa iniciativa do Departamento de Música da Fundação Calouste Gulbenkian. A quantidade e diversidade de espaços ocupados, a qualidade dos artistas e grupos convidados, os diferentes enfoques apresentados, o universo musical recriado por intérpretes que se dedicam, apaixonadamente, ao estudo e execução da chamada "Música Antiga", que vai do séc. X até meados do séc. XVIII (Barroco tardio), tornaram esse evento uma referência obrigatória, sem paralelo no cenário musical · Elos Clube abrindo caminhos Em fins de 1998 as musicólogas brasileiras, uberabenses, professoras Dra. Maria Inês Guimarães e Olga Maria Frange de Oliveira, enviaram à Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, através do Elos Clube "Antônio Borges Sampaio", de Uberaba, projeto propondo a realização de um encontro internacional sobre "Música Brasileira Setecentista". Desde 1994, a Fundação buscou um aprofundamento da programação das jornadas, aliando à parte musical, propriamente dita, iniciativas de cunho científico. Dessa forma, por uma dessas inexplicáveis e misteriosas conjunções de fatores, a proposta das duas musicólogas brasileiras, recebeu entusiástica acolhida por parte do Serviço de Música da Fundação que, de imediato, propôs a criação de uma Comissão Organizadora Luso-Brasileira, acrescentando o nome de dois renomados musicólogos portugueses, professores Doutor Manuel Carlos de Brito e Doutor Rui Vieira Nery, para viabilizar a concretização do I Colóquio Internacional "A Música no Brasil Colonial" e facilitar a sua estruturação em Lisboa, com toda a série de providências burocráticas pertinentes. Cada um desses membros representariam um diferente segmento da parceria: Olga Maria Frange de Oliveira (Instituto de Cultura Lusófona "Antônio Borges Sampaio"/ Elos Clube de Uberaba); Maria Inês Guimarães ("Cebramusik"/ Centro Euro- Brasileiro de Música em Paris); Manuel Carlos de Brito (Universidade Nova de Lisboa / Centro de Estudos Musicológicos da Biblioteca Nacional); Rui Vieira Nery (Universidade de Évora / Serviço de Música da Fundação Gulbenkian. · Colóquio Internacional O Colóquio foi programado de 09 a 11 de outubro de 2000 na Zona de Congressos da Sede da Fundação contando com a efetiva participação de 20 musicólogos luso-brasileiros. Foram os seguintes os temas abordados com os respectivos autores: 1. Rio de Janeiro 1670 - 1720: Musicologia de Fragmentos a partir de fontes Inquisitoriais - Elisabeth Lucas 2. O Olhar Exterior: Os relatos dos viajantes estrangeiros como fontes para o estudo da vida musical luso-brasileira nos finais do Antigo Regime - Rui Vieira Nery 3. O Sector de musicologia do arquivo histórico do Museu da Inconfidência- Mary Angela Biason 4. Sigismund Neukomm na Biblioteca Nacional de França : revisão crítica do catálogo de obras - José Maria Neves 5. José Bonifácio de Andrada e a música: da Colegiada da Vila de Santos à ilustração européia - Diósnio Machado Neto 6. Missionação e Diálogo de Culturas : a Música nos Mosteiros Beneditinos do Brasil Colonial - Elisa Lessa 7. Do Som que chegou ao Novo Mundo: A Paixão portuguesa - José Maria Pedrosa Cardoso 8. O "Estilo Antigo" no Brasil nos séculos XVIII e XIX - Paulo Castagna 9. A obra "Dominica in Palmis" (1782) de Lobo de Mesquita - Inês Guimarães 10. Manuel Dias de Oliveira : Esboço biográfico e a partitura de "Eu vos adoro" - Rubens Ricciardi 11. Edição Genética de uma obra de José Maurício Nunes Garcia: o "Moteto de São João Baptista" - Carlos Figueiredo 12. Domingos Caldas Barbosa (Fl. 1775 - 1800): compositor e tangedor de viola?- Manuel Morais 13. A Modinha e o Lundu no Período Colonial: uma pesquisa bibliográfica - Olga Maria Frange de Oliveira 14. Ecos do Quilombo, sons da corte: Notas sobre o repertório português para viola (guitarra de 5 ordens) - Rogério Budazs 15. Relações Musicais luso-brasileiras do séc.XVIII: Dois casos particulares - Gerhard Doderer 16. O Órgão no Brasil Colônia- Elisa Freixo 17. Por uma escola de interpretação da música colonial do Brasil: Existe uma música Colonial? - Vítor Gabriel 18. Considerações sobre a interpretação do repertório brasileiro Colonial Setecentista - Sérgio Pires. O evento ocorreu simultaneamente às XXI Jornadas Gulbenkian de Música Antiga, de 1° a 13 de outubro de 2000, que naquele ano se debruçaram sobre o universo musical latino-americano, abrangendo três séculos que vão desde a chegada de espanhóis e portugueses ao Novo Mundo, até o fim da presença colonial Ibérica nas Américas, após sucessivas revoluções independentistas. Os espetáculos selecionados foram de altíssimo nível, envolvendo os mais prestigiados grupos musicais europeus e latino-americanos, tais como: Camerata Renascentista de Caracas, Coro Gulbenkian e Segréis de Lisboa, Camerata Vox Brasiliensis (São Paulo), La Capella Reial de Catalunya (Barcelona), Orquestra de Camera de La Paz e Coral Nova (Bolívia), Coro de Câmara de Lisboa e Orquestra Capella Real, dentre outras. O resultado final do Colóquio, que veio coroar e deixar um marco representativo desse encontro, foi a publicação de um livro, caprichosamente elaborado em papel couché, sob a coordenação do Diretor do Serviço de Música da Fundação Gulbenkian, Dr. Rui Vieira Nery, cuja capa, verde oliva, traz a fotografia de uma partitura manuscrita de obra do compositor mineiro Lobo de Mesquita, objeto da pesquisa de Maria Inês Guimarães. O tema abordado pela Prof. Olga Maria Frange, "A Modinha e o Lundu no Período Colonial", foi alvo de excelente crítica no prefácio da obra, elaborada pelo Dr. Rui Nery, ex-Secretário de Estado da Cultura no XIII° Governo Constitucional, e Diretor-Adjunto do Serviço de Música da Fundação Calouste Gulbenkian que tece os seguintes comentários: "Quanto a Olga Frange de Oliveira, a sua intervenção neste Colóquio veio trazer a um círculo maioritariamente condicionado às rotinas acadêmicas da Musicologia Histórica o olhar fresco de quem aborda a problemática da Modinha e do Lundu numa perspectiva decorrente antes de mais da sua formação de intérprete e compositora e integra assim na sua relação com o objecto de estudo uma marcada e assumida dose de afectos. O leitor do seu texto deparar-se-á com uma leitura crítica e questionadora da bibliografia pré-existente sobre este tema, e refletirá com a autora sobre uma proposta original e lúcida de definição comparativa dos parâmetros estéticos e sociológicos de cada um dos gêneros, no Brasil e em Portugal. Mas não poderá aqui, infelizmente, deixar-se contagiar pela forma sugestiva como Olga Frange soube evocar na sua apresentação oral, pela graça das nuances de sentido e até pelo ritmo sincopado da declamação dos poemas, o universo de malícia, dengue e sedução que envolve o corpus poético de Modinhas e Lunduns e estabelece uma de suas pontes mais directas com o de outros gêneros mais recentes de Música Popular Brasileira que perpetuam, na expressão feliz, de Dorival Caymmi citada no texto o "jeitinho brasileiro"". A publicação desse livro representa o reconhecimento do trabalho de duas musicistas uberabenses, formadas pelo Instituto Musical Uberabense (Instituição que há 48 anos atua em Uberaba), em nível internacional ao mesmo tempo que fortalece o Elos Clube "Antônio Borges Sampaio" na pessoa da Sra. Margarida Silva e Castro, por mais essa conquista. É gente de Uberaba exportando idéias e provando que esta cidade é realmente reduto de tradição cultural e de pessoas que acreditam naquilo que fazem e não temem alçar vôos mais altos. Este trabalho elaborado pela professora Olga Maria Frange de Oliveira foi apresentado, originalmente, em forma de monografia de conclusão do Curso de Especialização em "Cultura e Arte Barroca" no Instituto de Artes da Universidade Federal de Ouro Preto (1987). Posteriormente, em 1998, totalmente reestruturado, integrou o "I Ciclo de Conferências sobre Música Brasileira do séc.XVIII", realizado na Sorbonne- Paris IV. Finalmente, em 2001 foi incluído nessa notável publicação da Fundação Gulbenkian, após revisão e ampliação do texto à luz de novas publicações baseadas em documentações que vieram clarear algumas zonas imersas na obscuridade de um passado ainda sujeito a especulações. Nota:- Olga Frange é Diretora Geral da Fundação Cultural de Uberaba desde de fevereiro de 2001; professora de piano no Instituto Musical Uberabense e de História da Música no Conservatório Estadual de Música Renato Frateschi; Regente do Coral Artístico Uberabense, e do Coral da Fosfértil; Coordenadora do Projeto TIM- ArtEducAção em Uberaba. Uberaba,2004 |