21-05-2004Cultura em LinhaNeste espaço encontra-se o que no Fórum Elos passou em revista. Sendo a cultura o «elo» mais forte entre os povos, está nas nossas mãos a construção da paz.
Os temas aqui abordados foram enviados por Eduarda Fagundes Nunes, por Daniel Cunha e António Ramos.
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Enviado por Eduarda Fagundes Nunes
As voltas que a vida dá
Era o século XVIII. Na Ilha do Faial, Açores, nascia a 30/12/1739 Manuel Inácio de Souza. Já adulto, em Coimbra formou-se em Cânones. De volta à terra de origem, foi capitão de ordenanças, provedor e vereador da Câmara da Horta. Homem culto e rico pertencia à mais alta roda social e intelectual da ilha. Aonde chegava a todos hipnotizava pela presença distinta e pela fala fácil, fluente, colorida, cheia de conhecimentos, às vezes sarcástica e crítica, que também lhe trazia invejas e algumas inimizades. Herdando de seu pai, irmão e sogro grossos capitais que se juntaram aos seus, tornou-se um dos mais ricos proprietários, em todos os tempos, das ilhas açorianas. Documentos oficiais emitidos após a sua morte comprovam ter sido milionário. E como tal viveu. Em sua mansão na quinta do Pilar, famosa foi a sua biblioteca, mais valiosa diziam que a dos frades franciscanos da Horta. Ela era toda forrada de madeira trazida do Brasil. O teto incrustado com moedas de prata imitava o céu com as estrelas. A construção da rica propriedade era feita de material quase todo importado. Adornavam a casa espelhos, lustres, cristais e porcelanas finas. No jardim , bem cuidado, caminhos ladeados por plantas exóticas e piscina de mármore com repuxo. Era para aquela pequena ilha um luxo! Festas elegantes e recepções requintadas, reuniões para intelectuais e serões familiares sucediam-se com freqüência agitando o falatório da sociedade. Essa vida principesca foi usufruída quase que inteiramente no seu ninho. Raramente via-se o Sr. Manuel Inácio na vila, e quando ia era na sua vistosa cadeirinha dourada com criado sempre à beira. Quando morreu, seu lendário patrimônio foi divido entre os herdeiros que sem escrúpulos tudo espoliaram, esbanjando em gastos desmedidos. Até os mármores da piscina foram parar em uma residência particular em S. Miguel. Madeiras, janelas, e também as portas foram vendidas. E assim em poucos anos, pela má gerência de seus sucessores, tudo foi perdido. Anos depois, o Dr. Antônio Severino de Avelar, comprou e reformou o que sobrou da rica propriedade. Esta foi passada por herança ao seu genro, o Visconde de Leite Perry que, contava que certa vez , estando no jardim e o portão da quinta aberto, viu uma criança de aspecto humilde, pobremente vestida, transpor a entrada e tremula e balbuciante se achegar. Ao ser interrogada e dizer o seu nome, o visconde descobriu que aquela criança era descendente do antigo senhor da casa do Pilar. Deve ter pensado o que diria o Sr. Manuel Inácio, no auge da sua ostentação e riqueza, se alguém lhe falasse da remota possibilidade de um seu trineto estar um dia na porta daquela casa, com olhar melancólico e triste, a pedir caridade...
]Contos açorianos
Nos Açores a divulgação da sabedoria popular sempre foi feita através das histórias contadas pelos mais velhos, nos serões familiares das longas noites de inverno. Contava a Sra. Maria Teixeira Bettencourt ( 80 anos), em 1995, o seguinte conto :
Era uma vez um rei que gostava de advinhas. E para que um pescador se salvasse de uma condenação à morte, teria que descobrir quanta água o mar media e quanto a lua pesava. Desesperançado, o pobre homem foi sentar-se à beira-mar tentando achar a resposta que o rei queria saber. Foi quando lhe apareceu um sábio que vendo-o tão acabrunhado, perguntou-lhe o que se passava. Depois da explicação, diz-lhe: -Deixa-me ver a tua roupa de pescador e fica com a minha.
No dia determinado foi o falso pescador à presença do rei. E às perguntas responde o sábio: -É fácil medir a água do mar . Basta vossa majestade mandar secar os rios e as fontes que vão para o mar. O rei embasbacado diz, está bem , está bem , e quanto ao peso da lua? - Ora, a lua tem 4 quartos, logo pesa 1k. O rei aceitou as respostas, mas não contente diz-lhe: -Para que eu fique satisfeito tens de me dizer o que é que eu estou a pensar? O suposto pescador, pôs-se a rir e responde; - Vossa majestade está a pensar que está a falar com o pescador, mas na realidade está a falar é com o seu sábio!
Noturno de Chopin
Eduarda Fagundes comentou História de Portugal no Metropolitan enviada por Daniel
É bastante interessante a história e a difusão dessas bebidas pelo mundo. E a participação portuguesa nesses episódios deve ser relembrada. Mas gostaria de ressaltar , como curiosidade, um fato que parece a História do Brasil não conta. Foi o ilustre açoriano ( faialense) Miguel José D'Arriaga ( da família do primeiro presidente da república portuguesa), ouvidor de MACAU em 1802, que fomentou a emigração chinesa diretamente para o Brasil com o objetivo de implementar a atividade e cultura do chá neste país. Ao que se sabe não foi muito bem sucedida.
Já o café tem uma história romântica. Chegou em 1727, trazido pelo sargento-mor português Francisco de Melo Palheta, que obteve as sementes da esposa do governador da Guiana Francesa, que lhas deu escondido do marido. No Brasil foi primeiramente cultivado no Pará e Maranhão.
O cacau, nativo da América, mais exatamente do México, era também encontrado nas florestas da Amazonia. Foi primeiramente cultivado no Pará no século XVII e no século XVIII no sul da Bahia com grande sucesso. Do Brasil foi para as colônias portuguesas São Tomé e Príncipe onde foi plantado .
História de Portugal no Metropolitan (enviado por Daniel Cunha) Cartografia da Conquista do Território das Minas Fonte: online.expresso.pt/1pagina/artigo.asp?id=24743360
Um livro com mapas e documentos inéditos dos exploradores portugueses, dos séculos XVII e XIX, na conquista do Estado de Minas Gerais, é lançado hoje no Brasil. A obra intitulada «Cartografia da Conquista do Território das Minas» corresponde ao trabalho de investigação feito por uma equipa de especialistas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), editado pela Kappa Editorial de Portugal.
O livro é composto por cerca de 200 documentos dos bandeirantes, nome dado aos exploradores portugueses, com relatos sobre a busca de índios e de riquezas minerais, no interior de Minas Gerais, Estado da região Sudeste do Brasil.
Os mapas mostram os caminhos que os exploradores utilizaram para chegar ao interior do Brasil a partir dos Estados de São Paulo, Bahia, Rio de Janeiro e Espírito Santo.
A respeito do livro Daniel Cunha enviou o comentário publicado no Jornal Expresso
Trecho de "Exortação aos Crocodilos", de António Lobo Antunes:
"O calor de julho na travessa, pessoas à entrada das casas, saladas de pimentões, tudo o que não tinha e me apetecia ter, confinada a uma garagem nauseabunda, a lençóis bolorentos e ao estanho das nódoas no chão, o marido da surda chegou com o embaixador e o senhor bispo -- Graças a Deus o avião explodiu"
E o bispo, o que participa de assassinatos e diz estar "numa guerra santa"? Alusão ao Bispo de Braga, do ELP? O que ressalta o livro? O que há de sinistro, de arbitrário, de obscurantista e de hipócrita no terrorismo de extrema direita. Mas será só no terrorismo, ou em algo mais amplo -- toda a sociedade portuguesa?
Entre o Mito e a Filosofia
(...) A gargalhada é uma síntese (provisória) entre a alma e o corpo, o eu e o outro. Essa síntese é uma espécie de transformação ou tradução simbólica: somos outra vez os cíclopes { inserção minha: as referências com relação aos cíclopes, neste texto seriam no corpo, o olho do cú... a bunda é como a cara}.
A CHINA NO BRASIL
José Roberto Teixeira Leite apresenta o mais abrangente estudo sobre as influências da China no Brasil desde o descobrimento até os dias atuais. As relações culturais entre os dois países haviam sido reveladas apenas por historiadores ligados às artes que se restringiram a estudar aspectos específicos da arquitetura, da escultura, da porcelana e da pintura. O livro aborda aspectos gerais da relação entre estes dois países distantes tanto no tempo quanto no espaço. Por meio de um texto envolvente e um valioso material iconográfico, o autor revela que nos cerca de 300 anos que vão do início da colonização até a independência, além de ter absorvido algo de lusitano, semita, africano e indiano, o Brasil rendeu-se também à seda chinesa e multicolorida, às brigas de galo e aos papagaios de papel.
Brasil, México, África do Sul, Índia e China: Diálogo Entre os que Chegaram Depois org. Glauco Arbix, Álvaro Comin, Mauro Zilbovicius e Ricardo Abramovay Esta coletânea de artigos de pesquisadores das principais universidades brasileiras e estrangeiras discute as diferentes experiências de cinco grandes economias - Brasil, México, África do Sul, Índia e China - procurando retirar delas caminhos possíveis para a superação da crise em que se encontram os países periféricos. É resultado dos debates que ocorreram em 2001na USP durante o II Seminário Internacional "Novos Paradigmas de Desenvolvimento" e tem o mérito de demonstrar que não existe um caminho único e seguro a ser seguido. Os artigos dividem-se em três grandes temas: Desenvolvimento, Liberalização e Globalização; Agricultura e Agro-indústria; e Estado, Integração Regional e Desenvolvimento, analisando o desenvolvimento econômico mundial em meio à globalização e à liberalização das economias, e o enfraquecimento das estratégias internas de crescimento dos Estados nacionais em decorrência de questões políticas. Glauco Arbix é professor do Depto. Sociologia da USP. Álvaro Comin é professor do Depto. Sociologia da USP. Mauro Zilbovicius é professor e coordenador do Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção da Escola Politécnica da USP. Ricardo Abramovay é professor do Depto. de Economia da FEA-USP e presidente do Programa de Pós-Graduação em Ciência Ambiental da USP. Fonte:www.usp.br/edusp/livros/livro579.htm
Trecho de "A melhor democracia que o dinheiro pode comprar", do jornalista norte-americano Greg Palast (Ed. W11); do capítulo sobre o Brasil:
(...) A crise tem suas utilidades. Somente em caso de pânico econômico Rubin [Robert Rubin, secretário do Tesouro norte-americano, que, segundo Palast, foi o verdadeiro Presidente da República Federativa do Brasil de 1999 a 2002] e o FMI podem soltar os Quatro Cavaleiros da Reforma: eliminar os gastos sociais, cortar a folha de pagamentos do governo, quebrar os sindicatos e, o verdadeiro prêmio, privatizar empresas públicas lucrativas. Mas FHC não estava contente no papel de marionete de Rubin. Originalmente um sociólogo e especialista em Teoria da Dependência, Cardoso deve ter lamentado pessoalmente a perda da soberania financeira de seu país. Ele sobreviveu às eleições, mas a oposição varreu seu partido dos principais Estados. Os novos governadores não lamentaram. Mostraram os dentes. Em janeiro de 1999, o ex-presidente Itamar Franco, recém-eleito governador do Estado de Minas Gerais, recusou-se a pagar as dívidas com o Tesouro Nacional. Então outros seis governadores disseram a FHC o que qualquer pessoa sensata diria a um agiota que aumenta a taxa de juro de 10% para 60%: vá para o inferno. A imprensa mostra Franco como um bufão, enciumado de Cardoso. Seu objetivo é desviar a atenção da verdadeira ameaça a FHC e ao FMI: Olívio Dutra, popular governador do Rio Grande do Sul, era a estrela ascendente do Partido dos Trabalhadores. Filho de agricultores sem-terra, um militante jovem e educado da era da televisão, Dutra transformou a capital do Estado em vitrine de desenvolvimento para o país. Eles atacam Franco, mas é a Dutra que temem. FHC fez o possível para punir os gaúchos por sua eleição. Dutra não suspendeu os pagamentos ao governo federal, mas pagou os fundos, cerca de 27 milhões de libras, nos tribunais. FHC reagiu com crueldade, retendo 37 milhões de libras em impostos coletados para o Estado de Dutra. O FMI bloqueou empréstimos para o Rio Grande do Sul. Contatado por telefone em seu escritório em Porto Alegre, Dutra disse-me que aceirtava o fato de a crise exigir sacrifícios. Ele demitiu funcionários públicos, mas teve a audácia de sugerir à General Motors e à Ford que participassem do sacrifício e desistissem de isenções fiscais, que agora sangravam os cofres do Estado. O Brasil é um país rico, com um PIB, mesmo em depressão, de meio trilhão de dólares. Mas, como um hamster frenético na rodinha, está perdendo a corrida para captar seu próprio capital em fuga, que deve recomprar com taxas de juro de usura. Foi por iso que Dutra se esforçou tanto contra a privatização do banco de desenvolvimento de seu Estado, um motor da expansão autofinanciada do Rio Grande do Sul. O governador, que não é bobo, não desperdiçou balas contra o humilhado FHC. Ao organizar a resistência às exigências de Rubin e às condições de crédito do FMI, Dutra habilmente não visou as marionetes, mas seus manipuladores. Dutra foi derrotado e, embora seu Partido dos Trabalhadores esteja na presidência (com Dutra como ministro), Lula está na prisão dos devedores, algemado pelas obrigações com o Citibank e seu braço policial, o FMI. E Rubin foi eleito para um cargo muito mais alto que o de presidente-sombra do Brasil: é presidente do comitê executivo do Citigroup, a corporação que é dona do Citibank, que é dono do Brasil. (...)
IMPERIO MARITIMO PORTUGUES - 1415 - 1825, O
Em 'O Império Marítimo Português', o historiador Charles Boxer procura explicar como Portugal manteve um império tão vasto durante tanto tempo, já que era um país pouco povoado, sem estrutura comercial bem organizada. Para realizar essa tarefa, Boxer divide seu livro em duas partes. Na primeira, explica as 'vicissitudes' do império, isto é, as contingências internacionais que envolveram a presença portuguesa em determinadas regiões durante certo período. Na
UMA HISTÓRIA NATURAL DO FUTEBOLPORQUÊ UMA HISTÓRIA NATURAL?Conversas na Livraria …com Álvaro Magalhães 20 Maio (quinta-feira), 18h00 Rivoli Teatro Municipal Ciclo Pontapé de Saída “Uma história natural do futebol” é um ensaio multidisciplinar e multiculturalque vai das origens remotas ao nascimento do futebol moderno, a meio do séc. XIX, e daí até à actualidade. Apesar da palavra “história” no seu título, afasta-se radicalmente da historicidade (que apenas surge como o seu suporte técnico) e busca captar a realidade mais íntima do jogo, a sua essência. Essencial é, aliás, o outro significado de natural e “História essencial do futebol” poderia ser o seu outro título. Há uma história do futebol moderno, mil vezes contada, uma mera narração de factos, e não há uma só “história natural” que nos confronte com o que, apesar de tantos e tantos estudos sobre o fenómeno, ainda se desconhece. Na verdade, o futebol apresenta um dos mais estranhos padrões de comportamento humano da sociedade moderna e permanece, a vários níveis, inteligível. Todas as explicações, quer sejam técnicas, naturalistas ou disciplinares, são falsas. Falsas porque incompletas ou redutoras. Além disso, até hoje, apenas se estudaram comportamentos exteriores, e só muito esparsa e reduzidamente se estudaram motivações internas. Em “A Tribo do futebol”, de Desmond Morris (um estudo antropológico de campo que é um bom exemplo de uma visão redutora e que, além disso, está repleto de incorrecções notáveis) conclui-se que “é evidente que o futebol deve encerrar algo mais do que aquilo que salta à vista. A prática é muito simples; por isso a sua verdadeira explicação reside, decerto, no significado simbólico que deve conter”. Sem dúvida. Pontapear uma bola tem um significado especial para a espécie humana. Embora tenha a aparência de um simples jogo torna-se evidente que há no futebol algo de essencial e que o torna tão compulsivo para as culturas de todo o mundo. Pois bem, foi esse o ponto de partida deste ensaio. Por que motivo tantos o praticam e muitos mais assistem em transe à sua prática? Por que se tornou uma necessidade escandalosa do homem moderno? De onde vem? Qual o seu passado próximo e remoto? A sua verdadeira origem? Qual é, enfim, o seu significado profundo? “Uma história natural do futebol” concilia a visão histórica com a perspectiva mítica e a-histórica, casando a realidade objectiva com a análise simbólica e religiosa. Em vez de gestos ou factos, persegue categorias essenciais e busca as necessidades que o próprio jogo satisfaz, em vez de analisar regras ou outras estruturas externas, estuda atitudes íntimas que conferem a cada comportamento a sua significação mais precisa. ORGANIZAÇÃO DA OBRA: “Uma história natural do futebol” está dividido em 4 partes. Na 1ª., “As origens e outros mistérios” ergue a vasta genealogia do futebol e a sua sempre ignorada proto-história com cerca de 5.000 anos (desde os ritos de fertilidade das primeiras sociedades agrárias até ao nascimento do jogo moderno, a meio do séc. XIX), em busca do seu significado profundo e das suas motivações internas, desvelando-se também alguns dos seus mais persistentes mistérios. Na segunda parte, “Uma história natural”, que é o coração do ensaio e o seu centro teórico, tratam-se os aspectos míticos e simbólicos e ligações arquetípicas do futebol ao natural. Aqui se detecta o seu coração agrário e a vocação animal, o seu significado ritual e leitura simbólica e o modo como se constitui na sua essência como uma religião da natureza. Na 3ª. Parte, “As 3 Idades do futebol moderno”, é abordada a génese do futebol moderno e os três períodos marcantes da sua evolução e que correspondem a outros tantos estados conectados com os sistemas de produção geral. Na verdade, o futebol funciona como um espelho das suas épocas, reproduzindo os sistemas de produção geral das épocas em que está inscrito e vai-se articulando com as mentalidades do seu tempo, de que é um reflexo fiel. Como se fosse essa a sua mais importante função: encenar o mundo. Finalmente, na 4ª. Parte, “A população do futebol” todos os membros da população do futebol merecem um estudo particular: o jogador, o treinador, o árbitro e, principalmente, o adepto, através de uma cuidada “anatomia” da sua paixão. Álvaro Magalhães Dezembro de 2003 |