Iclas - Instituto de Culturas Lusófonas
Antonio Borges Sampaio


21-05-2004

Cultura em Linha


Neste espaço encontra-se o que no Fórum Elos  passou em revista. Sendo a cultura  o «elo» mais forte entre os povos, está nas nossas mãos a construção da paz.

 

Os temas aqui abordados foram enviados por Eduarda Fagundes Nunes, por Daniel Cunha e António Ramos.

 

Participe também neste espaço. Escreva-nos.

 

Enviado por Eduarda Fagundes Nunes

 

As voltas que a vida dá

 

Era o século XVIII. Na Ilha do Faial, Açores, nascia a 30/12/1739 Manuel Inácio de Souza. Já adulto, em Coimbra formou-se em Cânones. De volta à terra de origem, foi capitão de ordenanças,  provedor e vereador da Câmara da Horta. Homem culto e rico pertencia à mais alta roda social e intelectual da ilha. Aonde chegava a todos hipnotizava pela presença distinta e pela fala fácil, fluente, colorida, cheia de conhecimentos, às vezes sarcástica e crítica,  que também lhe trazia invejas e algumas inimizades.

Herdando de seu pai, irmão e sogro grossos capitais que se juntaram aos seus, tornou-se um dos mais ricos proprietários, em todos os tempos, das ilhas açorianas. Documentos oficiais  emitidos após a sua morte comprovam ter sido milionário.  E como tal viveu.

Em sua mansão na quinta do Pilar, famosa foi a sua biblioteca, mais valiosa diziam que a dos frades franciscanos da Horta. Ela era toda forrada de madeira trazida do Brasil. O teto incrustado com moedas de prata imitava  o céu com as estrelas. A construção da rica propriedade era feita de material quase todo importado. Adornavam a casa espelhos, lustres, cristais e porcelanas finas. No jardim , bem cuidado, caminhos ladeados por plantas exóticas e piscina de mármore com repuxo. Era para aquela pequena ilha um luxo!

Festas elegantes e recepções requintadas, reuniões para intelectuais e serões familiares  sucediam-se com freqüência agitando o falatório da sociedade. Essa vida principesca foi usufruída quase que inteiramente no seu ninho. Raramente via-se o Sr. Manuel Inácio na vila, e quando ia era na sua vistosa cadeirinha dourada com criado sempre à beira.

Quando morreu, seu lendário patrimônio foi divido entre os herdeiros que sem escrúpulos tudo espoliaram, esbanjando em gastos desmedidos. Até os mármores da piscina foram parar em uma residência particular em S. Miguel. Madeiras, janelas,  e também as  portas foram vendidas. E assim em poucos anos, pela má gerência de seus sucessores,  tudo foi perdido. 

Anos depois, o Dr. Antônio Severino de Avelar,  comprou e reformou o que sobrou da rica propriedade. Esta foi passada por herança ao seu genro,  o Visconde de Leite Perry que,  contava que certa vez , estando no jardim e o portão da quinta aberto, viu uma criança de aspecto humilde, pobremente vestida, transpor a entrada e tremula e balbuciante se achegar. Ao ser interrogada e dizer o seu nome, o visconde descobriu que aquela criança era descendente do antigo senhor da casa do Pilar.

 Deve ter pensado o que diria o Sr. Manuel Inácio, no auge da sua ostentação e riqueza,  se alguém lhe falasse da remota possibilidade de um seu trineto estar um dia na porta daquela casa, com olhar melancólico e triste,  a pedir caridade...

 

]Contos açorianos

 

Nos Açores a  divulgação da sabedoria popular sempre foi feita através das histórias contadas pelos mais velhos,  nos serões familiares das  longas  noites de inverno.

Contava a Sra. Maria Teixeira Bettencourt ( 80 anos), em 1995, o seguinte conto :

 

Era uma vez um rei que gostava de advinhas. E para que um pescador se salvasse de uma condenação à morte, teria que descobrir quanta água o mar media e quanto a lua pesava.

Desesperançado, o pobre homem foi sentar-se à beira-mar tentando achar a resposta que o rei queria saber. Foi quando  lhe apareceu um sábio que vendo-o tão acabrunhado, perguntou-lhe o que se passava. Depois da explicação,  diz-lhe:

-Deixa-me ver  a tua roupa de pescador e fica com a minha. 

 

 No dia determinado foi o falso pescador à presença do rei. E às perguntas responde o sábio:

-É fácil medir a água do mar . Basta vossa majestade mandar secar os rios e as fontes que vão para o mar.

O rei embasbacado diz, está bem , está bem , e quanto ao peso da lua?

- Ora, a lua tem 4 quartos, logo pesa 1k.

O rei aceitou as respostas, mas não contente diz-lhe:  

-Para que eu fique satisfeito tens de me dizer o que é que eu estou a pensar?

O suposto pescador, pôs-se a rir e responde;

- Vossa majestade está a pensar que está a falar com o pescador, mas na realidade está a falar é com o seu sábio!

 

Pedro Nava

 Noturno de Chopin

Eu fico todo bestificado olhando a lua
enquanto as mãos brasileiras de você
fazem fandango no Chopin
 
Tem uma voz gritando lá na rua:
Amendoim torrado
tá cabano tá no fim...
Coitado do Chopin! Tá acabando tá no fim...
 
Amor: a lua tá doce lá fora
o vento tá doce bulindo nas bananeiras
tá doce esse aroma das noites mineiras:
cheiro de gigilim manga-rosa jasmim.
 
Os olhos de você, amor...
 
O Chopin derretido tá maxixe
meloso
gostoso
(os olhos de você, amor...)
correndo que nem caldo
na calma da noite belo horizonte.
In: Pasta 72: Arquivo de Mário de Andrade. Instituto de Estudos Brasileiros - IEB/USP

 

Eduarda Fagundes comentou História de Portugal no Metropolitan enviada por Daniel

 

É bastante interessante a história  e a  difusão dessas bebidas pelo mundo. E a participação  portuguesa nesses episódios deve ser relembrada. Mas gostaria de ressaltar , como curiosidade, um fato que parece a História do Brasil não conta. Foi o ilustre açoriano ( faialense) Miguel José D'Arriaga ( da família do primeiro presidente da república portuguesa), ouvidor de MACAU em 1802, que fomentou a emigração chinesa diretamente para o Brasil com o objetivo de implementar a atividade e cultura do chá neste país. Ao que se sabe não foi muito bem sucedida.

 

Já o café tem uma história romântica. Chegou em 1727, trazido pelo sargento-mor português Francisco de Melo Palheta, que obteve as sementes da esposa do governador da Guiana Francesa, que lhas deu escondido do marido. No Brasil foi primeiramente cultivado no Pará e Maranhão.

 

O cacau, nativo da América, mais exatamente do México, era também encontrado nas florestas da  Amazonia. Foi primeiramente cultivado no Pará no século XVII e no século XVIII no sul da Bahia com grande sucesso. Do Brasil foi para as colônias portuguesas São Tomé e Príncipe onde foi plantado .

 

História de Portugal no Metropolitan (enviado por Daniel Cunha)

«Chocolate, Café e Chá» é o tema de uma exposição no Metropolitan Museum, em Nova Iorque, que nos dá a conhecer as origens destas três bebidas tão utilizadas
no nosso quotidiano e que, no século XVIII, ainda eram mercadorias raras e exorbitantemente caras.
A exposição recorda-nos que a introdução na Europa do chocolate, café e chá ocorreu no século XVII, e é uma das consequências das explorações marítimas e contactos
comerciais de países como Portugal, Espanha, Inglaterra e Holanda com partes do mundo até então inacessíveis como o México, Arábia e China.
Portugal esteve na vanguarda deste movimento tendo introduzido o chá, que vinha da China, na corte inglesa através da Rainha Catarina de Bragança (filha de D. João IV) que casou com o rei inglês Carlos II.
Esta pequena exposição está dividida em três secções. Cada uma delas permite reconstituir - através de objectos existentes na coleção do Museu - o processo de
criação de novos utensílios de prata, porcelana, vidro e faiança, para servir estas novas bebidas.
No começo os serviços destinavam-se a uma classe abastada, a única com capacidade económica para pagar os preços exorbitantes daquelas três mercadorias.
Algum tempo mais tarde os serviços começaram a ser de uso popular e já eram fabricados com materiais menos nobres.
Uma das peças raras, em estilo Queen Ann, é uma chaleira de prata com mesa de suporte e lamparina de 1724 feita por Simon de Pantin um dos ourives mais
importantes do século XVIII inglês. Também de grande interesse um serviço de café Art Nouveau de porcelana de Sèvres datado de 1900 e desenhado por Léon Kann, que
tem como motivo decorativo o funcho.
Um outro serviço de café e chá de porcelana de Sèvres datado de 1855 cujas formas evocam a China e Médio Oriente, as origens respectivas do café e chá.
De grande curiosidade, e pela primeira vez exposto, um serviço miniatura de café e chocolate em prata datado de 1820 certamente utilizado para crianças brincarem.
«Chocolate, Café e Chá» dá a conhecer o inicio do comércio de produtos através de continentes e a influência que estas três bebidas têm tido ao longo dos séculos nas artes decorativas e na nossa cultura
A exposição está patente ao público até dia 11 de Julho e é comissariada por Jessie McNab e Jeffrey Munger do Metropolitan Museum

Cartografia da Conquista do Território das Minas

Fonte: online.expresso.pt/1pagina/artigo.asp?id=24743360

 

Um livro com mapas e documentos inéditos dos exploradores portugueses, dos séculos XVII e XIX, na conquista do Estado de Minas Gerais, é lançado hoje no Brasil. A obra intitulada «Cartografia da Conquista do Território das Minas» corresponde ao trabalho de investigação feito por uma equipa de especialistas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), editado pela Kappa Editorial de Portugal.

 

O livro é composto por cerca de 200 documentos dos bandeirantes, nome dado aos exploradores portugueses, com relatos sobre a busca de índios e de riquezas minerais, no interior de Minas Gerais, Estado da região Sudeste do Brasil.

 

Os mapas mostram os caminhos que os exploradores utilizaram para chegar ao interior do Brasil a partir dos Estados de São Paulo, Bahia, Rio de Janeiro e Espírito Santo.

 

A respeito do livro Daniel Cunha enviou o comentário publicado no Jornal Expresso


A falta de qualidade e de ousadia é um mal que ataca muita gente. Quando aparece alguém que sobressai do comum dos mortais pelo seu esforço e ousadia, aparece sempre alguém de qualidade menor a tentar desfazer, a achincalhar o seu trabalho.
Não é assim que se avança. Não é assim que se faz andar a humanidade.
Se não fossem esses bandeirantes extraordinários como FERNÃO DIAS PAIS LEME, que avançaram pelo sertão brasileiro levando consigo gente que, (na procura, é certo, das esmeraldas), desbravaram o território, fixaram populações e por vezes tiveram que ser duros com os próprios familiares, se não fossem eles, repito, o Brasil não seria o que é hoje. Um país com um território imenso e com um potencial de riqueza enorme que só está à espera que apareça alguém com a capacidade desses bandeirantes para o transformar num dos países mais progressistas, mais avançados e mais bem conseguidos do mundo.
Olhemos para a História com olhos de ver. Não confundamos os séculos passados com o século actual sob risco de nunca percebermos nada do que nos rodeia.
E não nos esqueçamos, que esse grande país que é o Brasil foi talhado e construído por pouco mais do que um milhão de PORTUGUESES de que fizeram parte para além dos bandeirantes, os grandes padres ANCHIETA, ANTÓNIO VIEIRA, MANUEL DA NÓBREGA entre outros.


Trecho de "Exortação aos Crocodilos", de António Lobo Antunes:

 

"O calor de julho na travessa, pessoas à entrada das casas, saladas de pimentões, tudo o que não tinha e me apetecia ter, confinada a uma garagem nauseabunda, a lençóis bolorentos e ao estanho das nódoas no chão, o marido da surda chegou com o embaixador e o senhor bispo

-- Graças a Deus o avião explodiu"

 

E o bispo, o que participa de assassinatos e diz estar "numa guerra santa"? Alusão ao Bispo de Braga, do ELP?

O que ressalta o livro?  O que há de sinistro, de arbitrário, de obscurantista e de hipócrita no terrorismo de extrema direita. Mas será só no terrorismo, ou em algo mais amplo -- toda a sociedade portuguesa?

 

Entre o Mito e a Filosofia

 

(...) A gargalhada é uma síntese (provisória) entre a alma e o corpo, o eu e o outro. Essa síntese é uma espécie de transformação ou tradução simbólica: somos outra vez os cíclopes { inserção minha: as referências com relação aos cíclopes, neste texto seriam no corpo, o olho do cú... a bunda é como a cara}.
Outra vez: a gargalhada é um regresso a um estado anterior; voltamos ao mundo da infância, coletiva ou individual, ao mito, ao jogo.(...)
A outra resposta a violência carnal é a seriedade, a impassibilidade. É a resposta filosófica, como a gargalhada é a resposta mítica. A seriedade é o atributo dos ascetas e dos libertinos. A gargalhada é uma descontração; o asceta, uma reigidez: endurece o corpo para preservar a alma. Pode parecer estranho que eu cite o libertino ao lado do asceta; mas não: a libertinagem também é um endurecimento, primeiro do espírito e depois dos sentidos. Um ascetismo ao avesso. (...)
O libertino tem de ser duro, empedernido como as rochas que cobrem a planície depois da erupção. A liberdade, o estado filosófico por excelência, é sinônimo de dureza. (...)
Em todas as civilizações aparecem pares de opostos tais como os que acabo de mencionar. ...)
Em suma, vivemos entre o temor de terra e a petrificação, o mito e a filosofia. Num extremo, as convulsões do riso jogam abaixo o edifício de nossos princípios e corremos o risco de perecer embaixo dos escombros; no outro, a filosofia nos ameaça - seja qual for a máscara que escolhamos: a de Calvino ou a de Sade - com a mumificação em vida (...)  a destruição pelo movimento ou pela imobilidade.
(octavio paz IN: Conjunções e disjunções. pp.15-16)

 

A CHINA NO BRASIL


INFLUENCIAS, MARCAS, ECOS E SOBREVIVENCIAS CHINESA
Autor:  LEITE, JOSE ROBERTO TEIXEIRA
Editora: UNICAMP
 

José Roberto Teixeira Leite apresenta o mais abrangente estudo sobre as influências da China no Brasil desde o descobrimento até os dias atuais. As relações culturais entre os dois países haviam sido reveladas apenas por historiadores ligados às artes que se restringiram a estudar aspectos específicos da arquitetura, da escultura, da porcelana e da pintura. O livro aborda aspectos gerais da relação entre estes dois países distantes tanto no tempo quanto no espaço. Por meio de um texto envolvente e um valioso material iconográfico, o autor revela que nos cerca de 300 anos que vão do início da colonização até a independência, além de ter absorvido algo de lusitano, semita, africano e indiano, o Brasil rendeu-se também à seda chinesa e multicolorida, às brigas de galo e aos papagaios de papel.

 

Brasil, México, África do Sul, Índia e China: Diálogo Entre os que Chegaram Depois

org. Glauco Arbix, Álvaro Comin, Mauro Zilbovicius e Ricardo Abramovay

Esta coletânea de artigos de pesquisadores das principais universidades brasileiras e estrangeiras discute as diferentes experiências de cinco grandes economias - Brasil, México, África do Sul, Índia e China - procurando retirar delas caminhos possíveis para a superação da crise em que se encontram os países periféricos. É resultado dos debates que ocorreram em 2001na USP durante o II Seminário Internacional "Novos Paradigmas de Desenvolvimento" e tem o mérito de demonstrar que não existe um caminho único e seguro a ser seguido. Os artigos dividem-se em três grandes temas: Desenvolvimento, Liberalização e Globalização; Agricultura e Agro-indústria; e Estado, Integração Regional e Desenvolvimento, analisando o desenvolvimento econômico mundial em meio à globalização e à liberalização das economias, e o enfraquecimento das estratégias internas de crescimento dos Estados nacionais em decorrência de questões políticas.

Glauco Arbix é professor do Depto. Sociologia da USP. Álvaro Comin é professor do Depto. Sociologia da USP. Mauro Zilbovicius é professor e coordenador do Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção da Escola Politécnica da USP. Ricardo Abramovay é professor do Depto. de Economia da FEA-USP e presidente do Programa de Pós-Graduação em Ciência Ambiental da USP.

Fonte:www.usp.br/edusp/livros/livro579.htm

 

Trecho de "A melhor democracia que o dinheiro pode comprar",

do jornalista norte-americano Greg Palast (Ed. W11); do capítulo sobre o Brasil:

 

 (...)  A crise tem suas utilidades. Somente em caso de pânico econômico Rubin [Robert Rubin, secretário do Tesouro norte-americano, que, segundo Palast, foi o verdadeiro Presidente da República Federativa do Brasil de 1999 a 2002] e o FMI podem soltar os Quatro Cavaleiros da Reforma: eliminar os gastos sociais, cortar a folha de pagamentos do governo, quebrar os sindicatos e, o verdadeiro prêmio, privatizar empresas públicas lucrativas. Mas FHC não estava contente no papel de marionete de Rubin. Originalmente um sociólogo e especialista em Teoria da Dependência, Cardoso deve ter lamentado pessoalmente a perda da soberania financeira de seu país.

Ele sobreviveu às eleições, mas a oposição varreu seu partido dos principais Estados. Os novos governadores não lamentaram. Mostraram os dentes. Em janeiro de 1999, o ex-presidente Itamar Franco, recém-eleito governador do Estado de Minas Gerais, recusou-se a pagar as dívidas com o Tesouro Nacional. Então outros seis governadores disseram a FHC o que qualquer pessoa sensata diria a um agiota que aumenta a taxa de juro de 10% para 60%: vá para o inferno. A imprensa mostra Franco como um bufão, enciumado de Cardoso. Seu objetivo é desviar a atenção da verdadeira ameaça a FHC e ao FMI: Olívio Dutra, popular governador do Rio Grande do Sul, era a estrela ascendente do Partido dos Trabalhadores. Filho de agricultores sem-terra, um militante jovem e educado da era da televisão, Dutra transformou a capital do Estado em vitrine de desenvolvimento para o país.

Eles atacam Franco, mas é a Dutra que temem. FHC fez o possível para punir os gaúchos por sua eleição. Dutra não suspendeu os pagamentos ao governo federal, mas pagou os fundos, cerca de 27 milhões de libras, nos tribunais. FHC reagiu com crueldade, retendo 37 milhões de libras em impostos coletados para o Estado de Dutra. O FMI bloqueou empréstimos para o Rio Grande do Sul. Contatado por telefone em seu escritório em Porto Alegre, Dutra disse-me que aceirtava o fato de a crise exigir sacrifícios. Ele demitiu funcionários públicos, mas teve a audácia de sugerir à General Motors e à Ford que participassem do sacrifício e desistissem de isenções fiscais, que agora sangravam os cofres do Estado.

O Brasil é um país rico, com um PIB, mesmo em depressão, de meio trilhão de dólares. Mas, como um hamster frenético na rodinha, está perdendo a corrida para captar seu próprio capital em fuga, que deve recomprar com taxas de juro de usura. Foi por iso que Dutra se esforçou tanto contra a privatização do banco de desenvolvimento de seu Estado, um motor da expansão autofinanciada do Rio Grande do Sul.

O governador, que não é bobo, não desperdiçou balas contra o humilhado FHC. Ao organizar a resistência às exigências de Rubin e às condições de crédito do FMI, Dutra habilmente não visou as marionetes, mas seus manipuladores.

Dutra foi derrotado e, embora seu Partido dos Trabalhadores esteja na presidência (com Dutra como ministro), Lula está na prisão dos devedores, algemado pelas obrigações com o Citibank e seu braço policial, o FMI. E Rubin foi eleito para um cargo muito mais alto que o de presidente-sombra do Brasil: é presidente do comitê executivo do Citigroup, a corporação que é dona do Citibank, que é dono do Brasil. (...)

 

 

12. MARIA ANTÓNIA F. PIRES DE ALMEIDA


Família e Poder no Alentejo
Elites de Avis - 1886-1941
1997; 262 pp.; 23x16 – 3 150$00 (15,71 EU)
ISBN - 972-8288-77-8

Esta obra descreve o percurso das principais famílias de Avis, os membros das elites rurais e urbanas que ocupam os principais lugares nas instituições do poder local e manifestam uma forte continuidade ao longo dos séculos XIX e XX. Entre 1886 e 1941, analisa-se o seu comportamento face à sucessão de regimes políticos que nestes anos se verificou em Portugal: Monarquia, República e Estado Novo.

Fonte: www.edi-colibri.pt/ histr4.html

 

 

IMPERIO MARITIMO PORTUGUES - 1415 - 1825, O


Autor:  BOXER, CHARLES R.       Editora: COMPANHIA DAS LETRAS
 

ISBN 8535902929

 Livro em Portugues

Brochura  - 16 x 23 cm

 1ª Edição - 2002 - 435 pág.

Em 'O Império Marítimo Português', o historiador Charles Boxer procura explicar como Portugal manteve um império tão vasto durante tanto tempo, já que era um país pouco povoado, sem estrutura comercial bem organizada. Para realizar essa tarefa, Boxer divide seu livro em duas partes. Na primeira, explica as 'vicissitudes' do império, isto é, as contingências internacionais que envolveram a presença portuguesa em determinadas regiões durante certo período. Na
segunda parte, Boxer examina as características e os principais pontos estratégicos da conquista portuguesa no ultramar; as instituições, as alianças interétnicas, os modos de organização navais, mercantis, políticos, culturais e religiosos.

 

UMA HISTÓRIA NATURAL DO FUTEBOL

 

PORQUÊ UMA HISTÓRIA NATURAL?

Conversas na Livraria …com Álvaro Magalhães

 20 Maio (quinta-feira), 18h00

Rivoli Teatro Municipal

Ciclo Pontapé de Saída

“Uma história natural do futebol” é um ensaio multidisciplinar e multiculturalque vai das origens remotas ao nascimento do futebol moderno, a meio do séc. XIX, e daí até à actualidade. Apesar da palavra “história” no seu título, afasta-se radicalmente da historicidade (que apenas surge como o seu suporte técnico) e busca captar a realidade mais íntima do jogo, a sua essência. Essencial é, aliás, o outro significado de natural e “História essencial do futebol” poderia ser o seu outro título.

Há uma história do futebol moderno, mil vezes contada, uma mera narração de factos, e não há uma só “história natural” que nos confronte com o que, apesar de tantos e tantos estudos sobre o fenómeno, ainda se desconhece. Na verdade, o futebol apresenta um dos mais estranhos padrões de comportamento humano da sociedade moderna e permanece, a vários níveis, inteligível. Todas as explicações, quer sejam técnicas, naturalistas ou disciplinares, são falsas. Falsas porque incompletas ou redutoras. Além disso, até hoje, apenas se estudaram comportamentos exteriores, e só muito esparsa e reduzidamente se estudaram motivações internas.

Em “A Tribo do futebol”, de Desmond Morris (um estudo antropológico de campo que é um bom exemplo de uma visão redutora e que, além disso, está repleto de incorrecções notáveis) conclui-se que “é evidente que o futebol deve encerrar algo mais do que aquilo que salta à vista. A prática é muito simples; por isso a sua verdadeira explicação reside, decerto, no significado simbólico que deve conter”. Sem dúvida. Pontapear uma bola tem um significado especial para a espécie humana. Embora tenha a aparência de um simples jogo torna-se evidente que há no futebol algo de essencial e que o torna tão compulsivo para as culturas de todo o mundo. Pois bem, foi esse o ponto de partida deste ensaio.

Por que motivo tantos o praticam e muitos mais assistem em transe à sua prática? Por que se tornou uma necessidade escandalosa do homem moderno? De onde vem? Qual o seu passado próximo e remoto? A sua verdadeira origem? Qual é, enfim, o seu significado profundo?

“Uma história natural do futebol” concilia a visão histórica com a perspectiva mítica e a-histórica, casando a realidade objectiva com a análise simbólica e religiosa. Em vez de gestos ou factos, persegue categorias essenciais e busca as necessidades que o próprio jogo satisfaz, em vez de analisar regras ou outras estruturas externas, estuda atitudes íntimas que conferem a cada comportamento a sua significação mais precisa.

ORGANIZAÇÃO DA OBRA:  “Uma história natural do futebol” está dividido em 4 partes. Na 1ª., “As origens e outros mistérios” ergue a vasta genealogia do futebol e a sua sempre ignorada proto-história com cerca de 5.000 anos (desde os ritos de fertilidade das primeiras sociedades agrárias até ao nascimento do jogo moderno, a meio do séc. XIX), em busca do seu significado profundo e das suas motivações internas, desvelando-se também alguns dos seus mais persistentes mistérios.

Na segunda parte, “Uma história natural”, que é o coração do ensaio e o seu centro teórico, tratam-se os aspectos míticos e simbólicos e ligações arquetípicas do futebol ao natural. Aqui se detecta o seu coração agrário e a vocação animal, o seu significado ritual e leitura simbólica e o modo como se constitui na sua essência como uma religião da natureza.

Na 3ª. Parte, “As 3 Idades do futebol moderno”, é abordada a génese do futebol moderno e os três períodos marcantes da sua evolução e que correspondem a outros tantos estados conectados com os sistemas de produção geral. Na verdade, o futebol funciona como um espelho das suas épocas, reproduzindo os sistemas de produção geral das épocas em que está inscrito e vai-se articulando com as mentalidades do seu tempo, de que é um reflexo fiel. Como se fosse essa a sua mais importante função: encenar o mundo.

Finalmente, na 4ª. Parte, “A população do futebol” todos os membros da população do futebol merecem um estudo particular: o jogador, o treinador, o árbitro e, principalmente, o adepto, através de uma cuidada “anatomia” da sua paixão.

Álvaro Magalhães Dezembro de 2003