Iclas - Instituto de Culturas Lusófonas
Antonio Borges Sampaio


12-11-2009

RAZÕES E CONDIÇÕES PARA A EMANCIPAÇÃO DO TRIÂNGULO Guido Bilharinho


Guido Bilharinho, Uberaba, Brasil , escritor, advogado e editor

Há mais de cento e cinqüenta anos (desde que, segundo consta, o fazendeiro araxaense Fortunato Botelho, em 1837, teve a idéia), os habitantes do Triângulo pretendem, almejam e lutam por sua emancipação.
        Sem forte e consistente motivo, nenhuma população pugna por sua autonomia e independência.

        No Brasil, nenhuma região o possui mais forte e persistente que o Triângulo, embora essas fortes razões não tenham sido suficientes, até hoje, para transformar esse ideal em realidade.

        O motivo fundamental da pretensão emancipacionista e autonomista reside no fato de que o Triângulo, por circunstâncias geográficas e históricas, constitui, desde o início, região singularizada. Situado entre dois rios consideráveis, espalhado por uma área uniforme e homogênea e localizado, pela situação geográfica, no centro de inúmeras passagens e confluências, o Triângulo não fez parte orgânica de nenhuma dos Estados que vieram a se formar em suas fronteiras. Pelo contrário. Justamente em decorrência desses atributos, viveu, até hoje, sucessivamente anexado a todos eles, sem com os mesmos possuir qualquer identidade que não seja conseqüente da configuração da própria nacionalidade brasileira.

        Assim, ora esteve formalmente ligado a São Paulo (até 1748), ora a Goiás (até 1816), ora a Minas Gerais (até...), fato que, por si só, independentemente de quaisquer outras considerações, comprova sua inata, permanente e imperdível singularidade.

        O Triângulo não é, pois, mineiro, nem goiano, nem paulista, Se administrativamente, nos primeiros séculos de nossa História, poderia justificar-se sua inclusão em outras províncias, isso (há muito tempo) não tem mais razão de ser, constituindo-se (também há muito tempo) em fator de entrave a seu progresso e desenvolvimento, que, mesmo já consideráveis no contexto nacional, muitíssimo maior seriam se a região detivesse em suas próprias mãos as diretivas administrativas e fiscais que governam a sociedade organizada.

        As razões dessa inclusão do Triângulo nas províncias limítrofes foram as mesmas que determinaram pertencer à então Capitania de São Paulo não só o Triângulo, mas, também, Paraná, Goiás, Mato Grosso, Minas Gerais e outros futuros Estados. De Alagoas e Ceará pertencerem a Pernambuco; do Amazonas fazer parte do Pará; de Sergipe estar anexado à Bahia. E assim por diante.

        Contudo, a seu modo e a seu tempo, cada um deles (e outros mais) foram adquirindo autonomia administrativa, num processo de redivisão territorial do país iniciado justamente por Minas Gerais, em 1720. E continuado, séculos a fora, lenta (como enervantemente quase tudo no Brasil), mas, inexoravelmente até os dias de hoje, como Mato Grosso do Sul e Tocantins.

        E que prosseguirá em outras regiões, entre elas, o Triângulo, esta com maiores e superiores razões do que quaisquer outras.
        E se, até o momento, a região ainda não constitui Estado, isso se deve à falta de permanente e organizado engajamento nesse sentido.
        Há necessidade, pois, de maior conjugação de esforços, de consistente manifestação de vontade, de firmes coerência e determinação políticas e de efetiva participação e apoio à luta emancipacionista. Não deve permanecer cada um em seu canto somente almejando a criação do Estado ou apenas sendo de palavras e intenções (e não também de atos) favoráveis à autonomia regional. E, principalmente, há necessidade de se estruturar o movimento emancipacionista de maneira permanente (e inteligente) e livre do fluido e instável jogo das injunções pessoais, partidárias e eleitorais.

        A campanha emancipacionista não é e nem deve ser pois, questão de oportunidade, e nem pode estar subordinada e surtos ou espasmos independentistas episódicos e efêmeros. Mas, deve, antes e acima de tudo, arrostando todas as dificuldades e oposições, como sói acontecer com movimentos dessa natureza, caracterizar-se pela determinação, espírito de luta, disposição de vontade, coerência de princípios e atitudes, persistência inquebrantável e, ainda, pautar-se pela organização e planejamento.