Iclas - Instituto de Culturas Lusófonas
Antonio Borges Sampaio


06-06-2014

Figura: Orlando da Costa, escritor sob o signo da ira


Nascido em Lourenço Marques, hoje Maputo, no seio de uma família goesa, de brâmanes católicos, Orlando da Costa foi criado em Margão, Índia, de onde partiu muito do perfume e sabor dos seus escritos. Ficcionista, dramaturgo, poeta, morreu, ontem, em Lisboa, onde chegou aos 18 anos e se licenciou em Ciências Histórico-Filosóficas na Faculdade de Letras. Contava 76 anos. Era pai de António Costa, antigo ministro da Administração Interna e atual presidente da Câmara de Lisboa, e de Ricardo Costa, jornalista.
Apaziguador no uso da palavra, não alheado da acção cívica, pulsa na sua obra uma consciência social e política lado a lado com um olhar minucioso sobre o coração dos homens nos seus amores e desamores, na alegria, no sonho, no deserto da solidão.Colega de Maria Barroso, de Augusto Abelaira e de Jacinto Baptista, Orlando da Costa, militante do PCP, apoiou a candidatura de Norton de Matos e foi preso três vezes pela Pide (1950-1953). Da última vez, permaneceu no cárcere em Caxias por cinco meses e uma semana (acusado de militar em defesa da paz). Aí escreverá a sua tese. Passou pelo ensino particular até ser proibido de ensinar e trabalhou na publicidade.Os seus livros de poesia, como A Estrada e a Voz, Os Olhos sem Fronteira e Sete Odes do Canto Comum circularam amiúde entre os amigos e os intelectuais, mas O Signo da Ira, totalmente passado em Goa (Prémio Ricardo Malheiros, Academia das Ciências, 1961), vendeu dez mil exemplares, apesar de a Pide o ter proibido de circular. A mulher, em seus anseios, fragilidades e força, esteve sempre no centro da sua prosa, como em Podem Chamar-me Eurídice ou em Os Netos de Norton.Mário de Carvalho destaca a "humanidade e companheirismo" de Orlando da Costa, classificando a sua prosa como "muito apurada". Para José Manuel Mendes, presidente da Associação Portuguesa de Escritores, de que Orlando da Costa foi vice-presidente, a obra do romancista é "um dos momentos mais relevantes da ficção portuguesa".
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