18-12-2001A Verdade e a Provação por Armando Quinareli(Texto retirado de livro que registra a memória de Armando Quinareli , filho de italianos que vieram para o Brasil no final do século XIX ) por Armando Quinareli Armando Quinareli ,a esposa Cecília, filhos e netosDedico estas memórias a meus pais, João Quinareli e Virgínia Tomaim Quinareli ( in memoriam ). `A minha esposa e delicada companheira Cecília, aos meus filhos José João, Marlene, Maria das Graças, Wilson Henrique, Carlos Humberto, Virgínia Helena, aos netos Eliana, Adriano, Alexandre, Cecília, Mariana, Maiara , Raul, Carlos Humberto, Leopoldo, Catarina, Sara, ao bisneto José João e aos outros que virão. Homenageio os amigos que colaboraram no registro e divulgação de minhas recordações, Edna Orasmo e sua família, Maria Margarida Silva e Castro e Olivia Amélia Morotti Ferreira A VERDADE E A PROVAÇÃO Prefácio Desde a antigüidade já era sabido que uma civilização é feita a partir de Homens e Livros. De Homens que realizam boas obras e de Livros que transmitem a verdade sobre as realizações humanas. Os homens realizadores cumprem seu papel diante da civilização ao deixar para a posteridade suas memórias escritas. Armando Quinareli deixa registrado nas suas memórias a história de luta de um descendente de imigrantes italianos, que com seus pais aprendeu, a se dedicar ao trabalho norteado pelos valores humanos e a fé em Deus. O lirismo da juventude, a poesia da maturidade, os momentos de grandeza e os de frugalidade, tudo está na seqüência dos anos, neste livro que nos ensina. Para todos nós, e em especial para os familiares de Armando Quinareli, um registro como este tem um valor inestimável e é um incentivo a continuarmos nossa caminhada. Uberaba MG, 12 de Dezembro de 2001 Maria Margarida Dias da Silva e Castro Elos Clube de Uberaba Antônio Borges Sampaio “ Nosso compromisso é com a divulgação do registro da memória dos homens que constrói o presente e o futuro dos povos “ Meus Pais Sou filho de João Quinareli e Virgínia Tomaim Quinareli. Ambos vieram da Itália, no final do século XIX, da região de Rovigoto. Meu pai tinha15 anos e minha mãe 12 anos. Na época os dois foram morar no estado de São Paulo, no município de Santa Rita do Passa Quatro. O meu pai veio ao mundo com uma missão muito bonita: queria servir a Jesus e ser padre na Itália. Teve bons estudos, mas a família precisou de vir para o Brasil e de tentar melhores condições de vida. Infelizmente, no Brasil, ele não pode continuar os estudos, pois teve que trabalhar. Assim começa a minha história. Deus presenteou meus pais com 11 filhos, todos sadios, sendo 9 mulheres e 2 homens. No meio destes 11 filhos, eu sou o penúltimo, nasci no dia 10 de Janeiro de 1918. Eu, e meu irmão Antônio, éramos os queridos dos pais. Ele gostava muito de tocar acordeon e veio para este mundo com tendências para ser músico. Eu também sempre gostei de música e, desde jovem, já tocava gaita. Aprendi aos poucos a tocar alguns ritmos na gaita. Eu tocava todos os dias à noite, na juventude e sempre. Morávamos na Fazenda dos Coqueiros, no município de Santa Rita do Passa Quatro. Meu pai era o fiscal da fazenda e minhas irmãs o ajudavam no trabalho. Ficamos nesta fazenda até os meus cinco anos de idade, e depois mudamos para Minas Gerais, na fazenda do Sr. João Zago, situada no distrito de Guaxina. Nós como éramos uma família grande e meu pai uma pessoa estudada, e responsável, conseguimos a melhor morada na colônia. Ele tinha interesse em trabalhar na roça de dia e de noite dava aulas. A vontade de meu pai e de minhas irmãs era de aproveitar essa chance de bom trabalho, crescer, ganhar algum dinheiro e voltar para o estado de São Paulo para comprar um armazém. Infelizmente meu pai era uma pessoa invejada e isso atrapalhou nosso sucesso. Com o tempo, meu pai ficou doente e infelizmente veio a falecer no final de 1923. Para nós foi uma perda muito grande; com sua morte perdemos também a melhor morada, que passou para outra família e assim fomos morar na segunda casa da colônia. O chefe da casa é tão importante na família, que quando meu pai faleceu, sentimos muito e minha mãe teve que chefiar a casa. Foi muito difícil para nós. A primeira casa da colônia passou para a família Paralogo. O que nós pretendíamos, foram eles que conseguiram; ganharam dinheiro e compraram uma fazenda. Assim continuamos a nossa vida sem meu pai. Graças a Deus, com a ajuda de meu tio Ângelo Tomaim e de sua família, pudemos continuar nossos cuidados com a lavoura. Comecei a trabalhar desde criança, lá pelos seis anos de idade, na fazenda do Sr. João Zago, na função de candeeiro, que era a pessoa que ia à frente, conduzindo o carro de boi. O carro de boi naquela época era o transporte mais usado. Carregava tudo, desde o transporte de grãos entre as fazendas, mercadorias compradas na cidade e tudo mais. Fui crescendo e aprendendo a conduzir o boi, entretanto corria muito risco, principalmente pela minha pouca idade. Passei a aprender o serviço de preparar o terreno para o plantio do café. Lembro-me que ia descalço para a lida, pisando nos tocos que ficaram após a queimada, e com isto os meus pés ficavam maltratados e doendo muito. Naquela época eu só tinha 12 anos! Na fazenda do Sr. João Zago ficamos uns seis anos. Depois mudamos para a fazenda do Sr. Santo Massam onde ficamos mais ou menos três anos. Durante essa temporada, casaram-se duas irmãs, com grandes dificuldades, mas graças a Deus conseguimos fazer os casamentos. Mudamos para a fazenda Estreito do Sr. João Padovani, no município de Sacramento. Nesta fazenda moramos por cinco anos: minha mãe, duas irmãs, mais meu irmão e a esposa. |