Iclas - Instituto de Culturas Lusófonas
Antonio Borges Sampaio


30-06-2014

O 5.º centenário do Mosteiro dos Jerónimos e os judeus


Por © Inácio Steinhardt10 de Dezembro de 2001


A Sinagoga Grande de Lisboa, deveria ter sido um edifício sumptuoso para a época, pois constituía uma atração turística importante. O viajante alemão Jerónimo Muenzer, que visitou Lisboa em 1494, pouco antes da supressão do Judaísmo em Portugal, refere-se ao seu interior, "decorado com extrema beleza, com um púlpito para os sermões, semelhante aos das mesquitas e dez enormes candelabros com 50 ou 60 lâmpadas cada um, além dos outros".A história do Mosteiro dos Jerónimos, cujo 5º Centenário é o tema das comemorações, que se encerraram no passado 8 de Outubro, está intimamente ligada à história dos judeus em Portugal.O falecido historiador israelita, Elias Lipiner, Comendador da Ordem de Mérito, a título póstumo, explica e documenta, na sua obra "Two Portuguese Exiles in Castile (Jerusalém,1997) as circunstâncias em que a Sinagoga Grande de Lisboa, construída em 1306-7, por ordem do Arrabi-Mor, Dom Judah, foi entregue aos frades da ordem de Cristo, em troca da capela de Santa Maria de Belém, na praia do Restelo. Desejoso de construir um mosteiro monumental, junto à praia de onde haviam partido as caravelas para os Descobrimentos, D. Manuel I, o Venturoso, ofereceu aos frades, em troca do terreno, a antiga "esnoga dos Judeus", sita no que antes fora a Judiaria Grande de Lisboa.Após o decreto de expulsão de 1496 e a conversão forçada de todos os judeus em 1497, estes foram despojados do seu antigo templo, e a área da Judiaria passou a chamar-se Vila Nova. Juntamente com o edifício da sinagoga - cuja adaptação para igreja cristã foi autorizada pelo Papa, segundo relata Damião de Góis, na Crónica do Felicíssimo Rei D. Manuel - o monarca concedeu aos frades uma renda de 50 mil reais, pelas casas situadas dentro da referida Vila Nova. Entre essas casas situava-se uma casa nobre, que havia pertencido à família do judeu David Negro, a qual se refere Frei Joseph Pereira de Santa Anna, na sua "Crónica dos Carmelitas".A Sinagoga Grande de Lisboa, deveria ter sido um edifício sumptuoso para a época, pois constituía uma atração turística importante. O viajante alemão Jerónimo Muenzer, que visitou Lisboa em 1494, pouco antes da supressão do Judaísmo em Portugal, refere-se ao seu interior, "decorado com extrema beleza, com um púlpito para os sermões, semelhante aos das mesquitas e dez enormes candelabros com 50 ou 60 lâmpadas cada um, além dos outros". O edifício foi então purificado e reestruturado, para ser transformado na Igreja de Nossa Senhora da Conceição, que se situava, antes do terramoto de 1755, segundo Samuel Schwarz e Augusto Vieira da Silva, na antiga Rua da Princesa (hoje Rua dos Fanqueiros), na esquina com a Rua dos Mercadores, a meia distância entre as actuais Ruas de S. Nicolau e da Conceição. Na voz do povo, em 1755, a igreja era chamada a Conceição Velha, para a distinguir da Conceição Nova, situada na então Rua Nova dos Ferros. A Igreja da Conceição Velha não foi incluida no plano pombalino de reconstrução da Baixa lisboeta, depois do terramoto. Em vez disso, o rei D. José deu aos frades o sítio da sumptuosa igreja da Misericórdia, na actual Rua da Alfândega, que também havia sido destruída pelo sismo.
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