28-06-2014Casamentos endogâmicos Historiador explica casamentos entre primosFenômeno se difundiu em outras regiões do Brasil e está em vias de extinção, afirma Helder Macedo, mestre em história pela UFRN.Luigi ParriniimprimirClique para ver em detalhes a árvore genealógica do historiador, também da família DantasHelder Macedo esteve no Profissão Repórter, e mostrou a árvore genealógica dos Dantas, família onipresente no município de Carnaúba dos Dantas, na região do Seridó, sertão do Rio Grande do Norte, em razão dos casamentos endogâmicos, geralmente entre primos de primeiro ou segundo grau. Em entrevista, Macedo explica a origem do fenômeno. O fenômeno de casamentos endogâmicos é exclusivo de Carnaúba dos Dantas ou se repete na região do Seridó? Não. Não é exclusivo de Carnaúba dos Dantas e nem da região do Seridó. Outras regiões do Brasil, que tiveram um modelo de colonização onde determinados espaços eram ocupados por praticamente as mesmas famílias durante muito tempo, consequentemente, também tiveram a prática dos casamentos endogâmicos. Vale lembrar que, no caso do Seridó, que se trata de endogamia dentro da mesma família. A região do Seridó, situada na porção centro-sul do Rio Grande do Norte, é um caso singular devido a sua grande visibilidade dentro e fora do Estado do Rio Grande do Norte face aos elementos da sua cultura serem muito patentes, como a religiosidade, a hospitalidade, a tradição de rememorar a genealogia dos antepassados e mesmo o apego às tradições. Diversas famílias se instalaram nessa região a partir do fim do século XVII e estendendo-se pelo século XVIII, como os Medeiros Rocha, os Dantas Corrêa, os Araújo Pereira, os Lopes Galvão, os Batistas, os Alves dos Santos, os Garcia de Sá, os Pereira Monteiro, apenas para citar alguns exemplos.O casamento de primos legítimos e parentes a partir do segundo grau, bem como entre tios e sobrinhas ou sobrinhos e tias se fez presente nas primeiras gerações dessas famílias Mas nem só de portugueses ou filhos de portugueses se constituíram as famílias dos povos que habitaram e habitam o Seridó. Alguns índios sobreviveram ao choque da conquista e viveram junto aos brancos, negros e mestiços nas fazendas, sítios, povoações e vilas que foram surgindo no Seridó a partir do século XVIII e entrando pelo XIX. Também não podemos esquecer dos negros, que, além de trabalharem como mão-de-obra nas fazendas de gado da região formaram diversas comunidades tradicionais na zona rural da atual região seridoense, em comunidades onde, até bem pouco tempo, se praticava a endogamia - no caso, entre os próprios negros. Quais as causas desse fenômeno? A origem dos casamentos endogâmicos entre membros de mesma família está ligada à forte presença de uma mesma família, ou de famílias aparentadas, dentro de um território definido. Veja o exemplo de Carnaúba dos Dantas, município da região do Seridó. A sua história está ligada à expansão da fronteira pecuária a partir do século XVIII nas áreas situadas no entorno do rio Carnaúba por, praticamente, uma mesma família: a Dantas Corrêa, por meio de Caetano Dantas Corrêa (1710-1797). Esse mestiço, filho de pai português e mãe mameluca, casou com a filha de um português e teve 17 filhos, vindo a morar em um sítio que hoje fica no município vizinho de Acari. Quatro de seus filhos ergueram fazendas de gado ao longo do rio Carnaúba, deles descendendo a grande maioria das famílias de Carnaúba dos Dantas. Quais são as consequências sociais dos casamentos endogâmicos na região e fora dela? A profusão de casamentos endogâmicos na região fez com que, durante muitas décadas, as propriedades rurais de uma família se conservassem praticamente indivisos. Os casamentos entre familiares ocasionavam a permanência da mesma família em determinado território, já que se anexavam as terras que os noivos herdavam de seus pais. Além disso, é fato que esses casamentos contribuíram para o fortalecimento dos laços de pertença dos membros da família para com a sua parentela. Esse fenômeno tende a se reforçar, está estagnado ou em vias de extinção na região? O fenômeno foi mais comum nos séculos XVIII, XIX e primeira metade do século XX, sobretudo em áreas da região do Seridó onde a presença de famílias tradicionais foi mais forte. A prática de casamentos entre pessoas da mesma família, a julgar pelo senso comum, diminuiu gradativamente com o crescimento demográfico e consequente entrelaçamento das famílias mais antigas com novas famílias que se instalaram no Seridó. Siga nosso perfil no Twitter e curta nossa página no Facebook http://g1.globo.com/profissao-reporter/noticia/2011/06/historiador-explica-casamentos-entre-primos-na-regiao-do-serido.html |