Iclas - Instituto de Culturas Lusófonas
Antonio Borges Sampaio


02-10-2014

Cultura, Educação e Ensino em Angola em meados do século XIX e contribuição dos


Francisco Soares
Francisco Soares  Vice-reitor da Universidade Independente de Angola -compartilhou no FB

A contribuição dos brasileiros para a cultura e o ensino em Angola continua hoje praticamente desconhecida. Por exemplo neste dia, mas em 1869, o médico brasileiro Saturnino de Sousa e Oliveira criou o Liceu Angolense, depois Colégio Angolense. Além de médico, este membro de uma nobre família do Brasil foi também diplomata e agente cultural.

Ele tinha publicado, com o angolense Manuel Alves de Castro Francina, os Elementos Gramaticais da Língua N'Bundu, que saíram para o mercado em 1864 ou 1865 (provavelmente só foram impressos neste ano).

Uma curta notícia sobre o seu Colégio pode ser lida aqui:

Cultura, Educação e Ensino em Angola - Capítulo 14

O ENSINO PARTICULAR EM ANGOLA

O ensino movimentou desde há muito dois tipos de reacções, diferentes entre si mas que têm algo de comum — o que procura difundir a cultura, atendendo sobretudo ao alto valor humano que representa; e o que se aproveita do interesse daqueles que querem ilustrar-se para colher resultado material concreto.

Estas formas de reacção aproximam-se e assemelham-se bastante pela circunstância de, tanto uma como a outra, verem na actividade docente um modo de atingirem objectivos determinados; uns têm em vista o bem geral e o desprendimento material, enquanto outros visam de modo especial interesses individuais e benefícios pecuniários. Sendo bem distintos e quase opostos os fins visados, todavia, estão longe de se oporem frontalmente, de maneira nenhuma podemos considerá-los antagónicos. Muitas vezes atingem-se finalidades comuns por caminhos e processos diferentes, mas que convergem em determinados pontos.

O ensino foi actividade que as civilizações antigas, grega e latina, por exemplo, aproveitaram para difundirem a sua filosofia prática e os princípios fundamentais da sua mentalidade. A civilização cristã, sua herdeira directa, e igualmente herdeira e sucessora da civilização hebraica, seguiu-lhes as pisadas e considerou sempre o magistério um meio eficaz de fazer prosélitos, de difundir os seus princípios morais, teve sempre o ensino como meio imprescindível de apostolado, mandato expresso, obrigação concreta, dever inalienável.

Prosseguindo na senda que a História lhes apontava, os movimentos filosóficos e filantrópicos do século XIX não deixaram de dedicar o seu interesse à actividade docente, à finalidade evangelizadora e civilizadora. Não deixaremos de dedicar a este ponto algum espaço de outros capítulos do nosso estudo; por agora, vamos voltar a maior atenção para o ensino, objectivamente referido, e sobretudo para o que alguns indivíduos, em particular, procuraram fazer para imprimirem movimento a este sector da actividade humana. Muitas vezes, através da difusão da cultura e divulgação do saber procurou-se atingir objectivos mediatos ou algo afastados.

Não é fácil distinguir quando uma iniciativa tem fundamento humanitário ou quando visa interesses materiais e resultados pessoais. Em muitos casos, os dois objectivos confundem-se e combinam-se. Na impossibilidade de podermos definir a posição de cada um dos intervenientes no sector do ensino particular, vamos passar em revista o que se foi fazendo em Angola, sobretudo em Luanda. Quanto a algumas iniciativas, temos ideia formada, baseada em indícios seguros do que cada um pretendeu fazer, segundo o papel desempenhado pelos respectivos promotores; quanto a outros, não é fácil tomar posição clara, por falta de elementos seguros em que basear a análise de certas atitudes.

Não obstante, queremos salientar que as iniciativas pedagógico-didácticas particulares, que podemos registar a partir da data da instituição do ensino oficial, pelo decreto de 14 de Agosto de 1845, acompanharam algumas das mais enérgicas campanhas filantrópicas, pelo que não é lícito duvidar nem olvidar que tivessem como objectivo, directo ou indirecto, a promoção social e a defesa dos direitos das populações, a elevação moral e a dignificação do gentio de Angola.

Em 17 de Janeiro de 1852, o governador-geral António Sérgio de Sousa nomeou uma comissão encarregada de estabelecer em Luanda um organismo destinado à educação dos órfãos, estudando previamente as condições em que poderia vir a ser criado. Faziam parte dessa comissão os nomes seguintes: — Dr. Francisco Joaquim Farto da Costa, P. Matias José Rebelo, José da Costa Torres, Manuel do Nascimento e Oliveira, e Joaquim Pedro da Cunha. Este último veio a ser exonerado logo em seguida.

REOCITIES.COM|POR JORGE SANTOS

 

http://reocities.com/Athens/troy/4285/ensino14.html