26-05-2008ÁFRICA: INFELIZMENTE, ATÉ HOJE, A VIVER NA ERA DO ILUSIONISMO!ÁFRICA: INFELIZMENTE, ATÉ HOJE, A VIVER NA ERA DO ILUSIONISMO! Por: Fernando Casimiro (Didinho) * Escrevo hoje, 25 de Maio, não para festejar o dia de África, porque continuo a não ver (ter) motivos para festejar êxitos dignos do termo, numa abrangência continental que permita apontar exemplos de referência da relação entre investimento, crescimento económico e bem estar das populações africanas. Continuamos a viver do ilusionismo que a Europa, os Estados Unidos e a China nos brindam, tal como quando se dá um rebuçado a um garoto, para que nos deixe à vontade, pelo incómodo da sua presença ou comportamento, quando queremos fazer algo sem que nos incomode. Nunca vi tanto interesse na definição e marcação de "terrenos" em África, como tenho visto ultimamente, aliás, de forma descarada; quer os antigos colonizadores, como os novos candidatos a colonizadores, numa questão estratégica de conciliação de acções, têm feito pactos de conveniência que comprometem a sustentação dos princípios e valores que defendem nos grandes palcos onde a retórica predomina. Hoje, iludem-nos com anúncios de grandes e variados investimentos em África. Hoje, iludem-nos com falsos anúncios de crescimento económico em África. Hoje, iludem-nos com sinais de riqueza que irresponsáveis governantes africanos (a maioria), exibem e que não passam de dívidas que os nossos países vão acumulando e terão que pagar de uma forma ou de outra, mais cedo ou mais tarde. Onde está o verdadeiro interesse e sentido do investimento que deveria ajudar no desenvolvimento de África e a bem dizer, da melhoria de condições de vida das suas populações? Quantos milhões de milhões de dinheiro anunciados como investimento em África não passam de formas escamoteadas de dependência e endividamento dos países africanos? Onde estão os benefícios de tanto investimento? Eu não vi nada, para além de muita fome, muita miséria, cada vez mais dependência de África ao exterior e cada vez mais apetência do exterior por África. Importamos até o essencial da nossa base alimentar, quando temos tudo para sermos auto-suficientes, mas continuamos a importar... Aceitamos receber o que o exterior diz que são ajudas, mas que os nossos países pagarão de uma forma ou de outra, ou não fosse esta, a estratégia ilusionista da relação de dependência que o exterior conseguiu fazer passar nas negociatas com governantes irresponsáveis de países africanos. A relação de dependência é perfeita e, claro está, beneficia o investidor! Não nos venham com moralismos e lições de boa governação, quando sois vós, os fomentadores da ditadura, da corrupção e da má governação em África. Não estamos mais a cobrar o atraso de África com justificativos da colonização, mas sim, da estratégia ilusionista e hipócrita que caracteriza as relações da Europa, dos Estados Unidos e da China para com África! Os africanos devem convencer-se de que têm que trabalhar para idealizar e produzir os bens de que necessitam, de forma a evitar a dependência externa. Os africanos devem convencer-se de que também em África devem ser construídos bons hospitais, centros de saúde, farmácias, escolas de todos os níveis, habitações sociais condignas, etc., e isso cabe aos africanos exigirem aos seus governos! Os africanos devem trabalhar para merecerem melhores condições de vida. Há que exigir a criação de postos de trabalho, como forma de dar a todos a possibilidade de serem produtivos e trabalhando, cada um ter direito a receber o seu salário, ou seja, o seu sustento familiar. Não precisamos de copiar modelos, somos capazes de fazer melhor pelo nosso continente, mas para que isso aconteça, temos que nos libertar da dependência externa que continua a limitar o nosso desenvolvimento (por conveniência evidente), principalmente na gestão governativa dos nossos países. As ditaduras em África são hoje diferenciadas conforme os interesses e por isso, umas são para proteger e perpetuar, enquanto outras são para abater a todo o custo, a bem dos investimentos estrangeiros em África, mas não para benefício de África, nem dos africanos! Tenhamos a coragem de reflectir sobre a realidade do nosso continente, deixando de parte o ilusionismo da demagogia barata dos poderosos e tomando em consideração a constatação prática da pobreza, da miséria e suas consequências para as nossas populações! Há outra verdade nas constatações, para além do que vemos e ouvimos todos os dias em relação aos países africanos? Saibamo-nos posicionar em defesa de África e das suas populações, ajudando assim a combater a fome, a pobreza e a miséria no mundo! * Fernando Casimiro (Didinho), jornalista guineense |