Iclas - Instituto de Culturas Lusófonas
Antonio Borges Sampaio


01-05-2008

Elogio ao silêncio por Eduarda Fagundes


Por Eduarda Fagundes *

Todos os dias o progresso nos chega num ritmo vertiginoso e alarmante. Até mesmo nas pequenas e longínquas cidades rurais as novidades elétrico-eletrônicas da era tecnológica aparecem com muito estardalhaço e ruído.

 A mais nova geração, a digital, gosta de barulho e movimento, como se quisesse ocupar com eles, de fora para dentro, o espaço interior. São os carros “envenenados” que, com o som ligado às alturas (com muito mais dos 80 decibéis aconselháveis) , emitem um ruído ensurdecedor. É a música eletrônica, batida, em ritmo tribal, repetitivo, que entra pelos ouvidos, mexe com o corpo e aliena a alma, a ponto de acharmos que estamos num estado surreal quando ela acaba ou pára.

O frenesi da vida em sociedade faz esquecer o valor e a necessidade do silêncio. O lema da TV nossa de cada dia nos ensina que se comunicar é preciso. Durante a semana trabalho e compromissos empresariais, no final dela as reuniões festivas ou “baladas”.

 Lá se foi o tempo em que o silêncio era apreciado e respeitado como uma forma inteligente de manter a saúde, quando as pessoas rotineiramente se refugiavam no aconchego e tranqüilidade dos seus lares ao fim do dia. Poucos e privilegiados são aqueles que podem ou vão, nos finais de semana e férias, à calma e dormência de uma florida casa no campo, ou ao sossego paradisíaco de alguma praia isolada, em busca de paz, à procura de momentos de silêncio e recolhimento, para simplesmente descansar e repor o equilíbrio e as energias vitais.

É na quietude profícua da contemplação, longe do tumulto e do barulho, que ouvimos as nossas vozes interiores, que entendemos as nossas necessidades, que surgem as idéias e as palavras que abrem a mente.  É no silencio que ouvimos a natureza, o rolar das pedras do caminho, o vento, o murmurar das águas, a verdadeira música, a que vem de dentro, a que nos descobre e sensibiliza. É ainda em silêncio que crescemos interiormente, que apreciamos a beleza e admiramos a magnificência do céu numa noite estrelada. Enfim, é em silêncio que  sentimos a onipresença de Deus, que desvendamos os mistérios da vida e encontramos a força para vencer os obstáculos cotidianos, para que possamos renascer a cada novo dia.

*Uberaba, Brasil, 26/04/08

Maria Eduarda Fagundes