19-08-2014A LENDA DE Nª SRª DA MUXIMA- ANGOLA1. A LENDA DA MAMÃ MUXIMA A Igreja Católica de Nossa Senhora da Muxima encontra-se na vila da Muxima, província do Bengo, a 130 quilómetros de Luanda e a 180 quilómetros da cidade de Caxito. Em kimbundo, “Muxima” significa coração. Foi-lhe atribuído esse nome, devido à sua localização privilegiada — no meio da província, à beira do rio Kwanza. Conforme se pode ler no site da UNESCO, a vila da Muxima foi ocupada pelos portugueses em 1589 que, dez anos depois, construíram a fortaleza e a igreja de Nossa Senhora da Conceição (ou Nossa Senhora da Muxima ou, simplesmente, Mamã Muxima). Desde então o santuário, onde pontifica a imagem da virgem, tornou--se um lugar de devoção espiritual que tem passado de geração em geração. A lenda diz que, em 1641 o santuário foi incendiado pelos holandeses que se apoderaram da imagem. Depois de Luanda ter sido reconquistada em 1648, por Salvador Correia de Sá, a imagem foi trazida novamente para Luanda, onde dois moradores da vila da Muxima a reconheceram, enquanto estava a ser restaurada, e levaram-na de volta para a sua igreja. A chegada da imagem da santa, foi motivo de grande júbilo e festa para todos os que a veneravam. Hoje, milhares de pessoas continuam a acorrer a este recinto para falarem à “santa” das suas preocupações, angústias e desejos. A imagem de Mamã Muxima é incontestavelmente uma das mais veneradas e de maior devoção popular em todo o continente africano. O cónego Gericota, pároco da Igreja da Muxima no século passado, afirmava que: “...é extraordinária a devoção prestada à Nossa Senhora da Muxima. As pessoas fazem-lhe muitas ofertas, desde objectos de ouro, prata, velas, cera, galinhas, óleo de palma, azeite, amendoim e espigas de milho. A forma como a Senhora da Muxima é venerada, mistura as tradições africanas com as católicas. Fazem-se pedidos para alcançar a fertilidade, ter sucesso, ser correspondido no amor, fazer fortuna ou curar doenças. Os crentes conversam com a imagem da Santa, ralham, zangam-se, riem-se, como se de uma pessoa íntima se tratasse”, lê-se no site Paróquias de Portugal. O PRESENTE E O FUTURO Estima-se que mais de 150 mil peregrinos tenham visitado o santuário em 2008. A festa em sua homenagem realiza-se habitualmente em Agosto, desde 1833. Pela sua importância e significado histórico, a Igreja da Nossa Senhora da Muxima foi considerada monumento nacional em 1924. A responsabilidade pela preservação e manutenção do monumento pertence ao Ministério da Cultura. A vila está na lista de candidatos potenciais a património mundial da Unesco, desde Novembro de 1996. Na passada sexta-feira desvendou-se a maqueta da futura basílica da Muxima, da autoria do arquitecto angolano Júlio Quaresma, que foi apresentada ao Papa Bento XVI, numa cerimónia realizada no hall principal do palácio presidencial. A ideia da construção deste santuário partiu do presidente José Eduardo dos Santos em Março de 2008. A basílica, em forma circular tal como é tradicional nos templos marianos, vai ficará frente da antiga igreja — cuja construção, tal como hoje a conhecemos, remonta a 1645 —, num curioso diálogo entre tradição e modernidade. Entre ambas será edificada uma praça capaz de receber 120 mil peregrinos. A concepção arquitectónica da basílica obedece aos princípios conceptuais da geometria do sagrado (quadrado/terra e círculo/céu) que são a base da simbologia cristã. Não se conhece a data da sua construção. Estima-se que a Igreja da Nossa Senhora da Muxima foi fundada em 1599, por Baltazar Rebelo de Aragão. Segundo um relato deste ao rei de Portugal, citado pelo bispo é merito de Luanda Dom Manuel Nunes Gabriel. A Igreja foi classificada de «monumento provincial» a 12 de Janeiro de 1924, à época Angola era província de Portugal. Hoje tem carácter nacional. Em 1647, Muxima caiu às mãos dos holandeses, mas as tropas portuguesas reconquistaram-na algum tempo depois. Existem outros santuários por Angola dentro, mas a Muxima é o que mais reúne católicos. É uma devoção que remonta ao ano de 1833. Cristãos de todo o lado percorriam quilómetros e quilómetros durante cinco dias para fazer chegar as suas preces à Mamã Muxima. Outros, conta Dom Manuel Gabriel Nunes, impedidos fisicamente de estar presente no santuário, faziam as suas preces através do correio, na expectativa de serem ainda assim atendidos as suas necessidades pela “mãe do coração”. Os que iam à Muxima, nunca o faziam de mãos vazias, levavam sempre bens para compensar o “esforço” da santa, que iam desde adornos de prata e ouro a espigas de milho. Tudo se pedia à Igreja da Senhora Conceição da Muxima desde a chuva, saúde e filhos; uma tradição que se conserva até hoje. Aliás, são estas necessidades que levam para esta igreja muitos dos cristãos, acredita-se. Os cristãos católicos das povoações do Kwanza reforçaram a sua devoção a Mamã Muxima, no final do século XIX, quando as suas zonas foram “gravemente afectadas pela doença do sono que dizimou populações inteiras”, conta o sacerdote angolano Padre Agostinho de Sousa, que foi pároco da Muxima. Situado a 130 quilómetros de Luanda e a 90 de Calumbo, na margem esquerda do rio Kwanza, para se chegar a Igreja de Nossa Senhora de Muxima leva cerca de três horas, um previlégio que os devotos dos séculos passados não tinham. Antes, de Calumbo à Muxima fazia-se três dias, indo pelo Kwanza. Um relato do pároco Ruela Pombo explica como era a zona entre os anos de 1929 a 1933. “Quando em Maio de 1929 chegámos à Muxima, a vila era um fim do mundo, isolada por completo. Um lugar de verdadeiro turismo”, conta, recordando que de Luanda à Muxima fazia-se cinco dias. LOCALIZAÇÃO Na margem esquerda do rio Cuanza, Muxima situa-se na provincia do Bengo, a cerca de 138 Kms a sul de Luanda. Sede do concelho de Quiçama, comarca, arquidiocese e distrito de Luanda. Compreendia, durante o período em que era uma província ultramarina portuguesa, os postos de Demba, Chio, Cabo Ledo, Mumbendo e Quixinge, sem contar com a sede. Situa-se a cerca de 40 metros de altitude, na margem esquerda do rio Cuanza. Tem um clima tropical, quente e húmido e os meses mais quentes vão de Dezembro a Abril. O algodão, o palmar e os citrinos eram os produtos mais explorados. A maior parte da área do concelho constituía (será que ainda constitui?) uma reserva de caça. Muxima começou como presídio, com o fim de dominar os aguerridos povos da Quiçama. Cercada durante o domínio holandês, conseguiu resistir-lhe e, posteriormente, a sua Fortaleza e a Igreja de N.ª Sr.ª da Conceição passaram a ser consideradas monumentos nacionais. As comunicações fazem-se, quer através do rio Cuanza, quer por estradas que, na década de 1970, podiam ser consideradas como excelentes, ligando a Muxima a Gabela, a Porto Amboim, a Maria Teresa (40 kms), a Demba Chio (55 kms) e a Luanda (138 kms) http://anabengo.org/Curiosidades_files/AnaBengo_A%20lenda%20da%20Mam%E2%88%86%20Muxima.pdf |