07-01-2008Ilhéus, os nossos Açorianos... Lélia NunesLélia “ e a ilha sempre véspera de embarque assim as coisas são na ilha derradeiras e no mundo que é ilha as coisas sempre partem...” José Martins Garcia in: Signo Atlântico, Angra do Heroismo,1984.
Nasceram entre lavas vulcânicas e o mar indomável. Correram a abraçar o mundo, atravessaram a vastidão oceânica cortando hemisférios e conquistando as terras do seu destino: o extremo sul do Brasil. A Ilha de Santa Catarina foi o portal de entrada por onde chegou a primeira leva de povoadores. Desembarcaram a 6 de janeiro de 1748, dia consagrado aos Santos Reis, trazendo na mala os sonhos, o desejo da aventura, de querer descobrir outras mundos, de conquistar espaços e de sobreviver com dignidade. Como os Reis Magos que depositaram as suas oferendas ao pé do Deus-Menino depois de uma longa jornada, os açorianos entregaram à terra que os acolhia a sua esperança e a sua fé no Novo Mundo. Era o início da grande saga de um bravo povo, que deixou para trás o mundo pequeno de suas ilhas de origem, São Jorge, Homem Atlântico trouxe consigo a insularidade, a lava vulcânica, o verde das urzes e a maresia impregnando a alma. Foi poeta e cantor de sua saudade, bailou a chamarrita, o pezinho, louvou o Divino e pediu proteção a Santo Antônio e a São A história fala de forma inequívoca que o assentamento de casais açorianos e madeirenses no Brasil Meridional não apenas veio preencher um grande vazio demográfico como fortaleceu a política do utis possidetis, dilatando fronteiras e assegurando a posse do território disputado por O assentamento do expressivo contingente humano de 6000 açorianos e alguns madeirenses no território catarinense e gaúcho e a sua expansão para o Uruguai e Argentina deixaram marcas indeléveis desse legado espiritual, dos saberes e fazeres, identificadas no patrimônio edificado, nas danças, nas crenças, costumes e hábitos do cotidiano, nos traços físicos da população, no jeito de ser e estar miscigenados com outras contribuições étnicas. Um rasto a ser seguido, a ser conhecido, a ser admirado e a ser celebrado pela gente açoriana esteja onde estiver. E muito especialmente, no dia de hoje – 6 de janeiro de 2008 quando comemoramos 260 anos da chegada dos primeiros casais açorianos à Ilha de Santa Catarina: os nossos antepassados, os ilhéus – os nossos AÇORIANOS. Lélia 6 de janeiro de 2008 (*Nota: este artigo faz parte de uma crônica que escrevi sobre “Los Isleños”, a expansão açoriana no Uruguai.) |