07-12-0007Ainda lá nas altas coordenadas Francisco G. AmorimDo Brasil Francisco G. de Amorim gte vml 1]> O Brasil é uma terra de gente maravilhosa. Tenho-o dito e repetido vezes sem conta, exceção para as classes políticas que se embebedam com o poder e deixam o povo a seco. Mas não é isso que impede que encontremos, a todo o instante e nos mais humildes lugares, aquela gente que reparte conosco um sorriso e uma fatia de pão, e ainda nos chama de “meu bem”! Lá nas bandas do Norte isso é mais difícil de acontecer, mas não impossível. Londres. Um corre-corre de gente para todos os lados, vindos de todas as origens, claros e escuros, meios-tons, ignorando-se e cruzando-se nas ruas e nos milhares de transportes públicos sempre cheios, tudo impecavelmente no horário, a maioria viajando neles em silêncio, lendo um dos muitos jornais gratuitos ou não, diariamente distribuídos aos passageiros. Mas de repente nota-se num pequeno movimento, num sorriso, numa atitude, que ali está alguém diferente. Uma senhora, baixa, magra, de pouca idade, que ao entrar no bus cumprimenta com alegria o condutor e logo volta atrás para ajudar outra mais idosa a carregar o seu carrinho de compras, independendo da cor ou aparente status financeiro da idosa ou idoso. Sai de casa, ainda noite no inverno, com aquele frio de fazer cair o nariz e regressa ao fim do dia nas mesmas condições, cansada do trabalho e das viagens, mas sem perder o humor e a determinação. O marido há uns anos se foi por outras saias fáceis e calculistas e ela ficou com só o filho, um garotão adolescente que segue o seu caminho nos estudos e no corpo que parece não parar de crescer. Boa parte das casas daquela cidade foi construída nos anos 30, de modo que a manutenção e as reformas são indispensáveis para manter a habitabilidade segura e confortável. Obras em casa, o que é sempre um tremendo transtorno. Tudo isto encara a nossa “heroína” com naturalidade e no fim, após pagar (e caro, que em Londres tudo é caro!) ainda se preocupa em arranjar um presentinho para cada um dos operários, que, como é óbvio, ficam espantados com tal atitude. Alegre, reúne à sua volta alguns amigos e durante esse tempo a tristeza fica mais longe daquele bairro! Mas não tentem enganá-la. Quando jovem resolvia as ofensas no “tapa”. Hoje, discute os seus direitos com firmeza, e nos mais ínfimos detalhes, acabando sempre por receber a admiração e a simpatia dos reclamados. Nasceu em Angola, completou a adolescência no Brasil e com vinte e tantos anos nas bandas do Norte, não perdeu as raízes dos povos que lhe deram essa força e alegria de viver. Bem haja, e obrigado pelo exemplo. 7 dez. 07 |