27-05-2023Judeus portugueses em França. Três livros apresentados em Paris por RTP por um dos fundadores do Comité Aristides de Sousa MendesA presença de judeus portugueses em França é abordada em três livros publicados recentemente. É a história de muitas famílias que fugiram à perseguição religiosa. As obras foram apresentadas no Consulado de Portugal em Paris. Três livros sobre a Presença de uma Comunidade de Judeus Portugueses em França, e mais particularmente em Bordeaux, foram apresentados esta sexta-feira no Consulado Geral de Portugal em Paris, numa iniciativa de Manuel Dias Vaz, um dos fundadores do Comité Aristides de Sousa Mendes. O Cônsul-Geral de Portugal em Paris, Carlos Oliveira, deu as boas-vindas aos presentes e agradeceu Manuel Dias Vaz por ter organizado este evento. Michel Alitenssi apresentou o livro que escreveu sobre duas das famílias mais importantes de Bordeaux, “Les Alitenssi et Naquet – De Bayonne à Bordeaux, deux familles juives dans le siècle”. “Um livro que demorou 20 anos a pensar e dois anos a escrever” diz o autor. “Este livro foi escrito para ser destinado antes de mais aos meus netos […]. Eles devem saber quem são aqueles e aquelas que os antecederam para que eles contem estas histórias aos seus próprios filhos”. Michel Alitenssi contou algumas das histórias de família e as suas ascendências portuguesas. Jurista de formação, depois de ter nascido em Talence há quase 80 anos, Michel Alitenssi é filho de Robert Alitenssi e de Jacqueline Naquet. “À medida que o tempo passa, eu sou o último e único descendente destas famílias judias. Herdeiro do passado, estou aqui para estabelecer a ponte e transmitir as recordações destas vidas às gerações seguintes”. São famílias que foram expulsas de Espanha e de Portugal durante a Inquisição, e que se instalaram no sudoeste da França. O livro tem prefácio de Michel Cardoze que, para além de ter sido, durante muitos anos, o mais conhecido apresentador da meteorologia na televisão francesa, é descendente desta “Nação Judia Portuguesa” e bastante ativo na Comunidade israelita de Bordeaux. Manuel Pereira Guimarães apresentou a obra “La Nation portugaise ou l’histoire d’une diaspora juive”. Natural de Braga, descobriu em França as suas origens judias e é atualmente membro do Consistório Israelita de Bordeaux. Professor de Inglês, mas apaixonado pela história dos judeus sefarditas, para além de ser praticante está também muito implicado na vida da Comunidade e está a trabalhar particularmente na história dos cemitérios judeus portugueses. Manuel Pereira Guimarães evocou as grandes famílias judias portuguesas de Bordeaux, nomeadamente os Gradis, certamente os mais ricos, mas também os Peixotto, os Pereire, os Raba,… “No início houve algumas fricções com os Comerciantes de Bordeaux” confessou o historiador. “Era uma Comunidade muito bem organizada, com escolas, asilos, obras de caridade, uma caixa para ajudar os mais necessitados,…”. Até à Revolução francesa, estes Judeus tinham um estatuto particular e constituíam aquilo que na altura se chamava “La Nation Portugaise”. Depois da Revolução passaram a ser cidadãos como qualquer outro cidadão.
Coube a Manuel Dias apresentar o livro sobre “Les 140 ans de la Grande Synagogue de Bordeaux” no qual participaram Michel Miara, Manuel Pereira Guimarães e e o próprio Manuel Dias Vaz. Manuel Dias lembrou a importância da Comunidade judia portuguesa de Bordeaux e disse que o primeiro Cônsul de Portugal na cidade era um desses membros da Comunidade de origem portuguesa, filho dos Raba e o terceiro Cônsul português também era dessa Comunidade, da família Balgari. “Nos seus estatutos, esta Sinagoga tem de praticar o rito português e todos os Rabinos têm de se comprometer a seguir esse mesmo rito” explicou Manuel Dias. “Aliás a Sinagoga foi construída, há 140 anos, com os donativos da Comunidade”. Manuel Dias acrescentou ainda que “a maior parte dos vistos passados por Aristides de Sousa Mendes, foram passados a Judeus Sefarditas, pelo que uma grande parte eram, na verdade, descendentes de Portugueses” e acrescentou que durante a II Guerra Mundial, “uma grande parte dos Deportados franceses eram descendentes desta Nação Portuguesa e pouca gente refere isto”. O evento teve lugar na sala Eça de Queirós do Consulado Geral de Portugal em Paris e para além do Cônsul-Geral Carlos Oliveira, também esta presente o Cônsul-Geral Adjunto Filipe Ortigão. |