28-04-202310 ESCRITORES ANGOLANOS QUE DEVIA CONHECERNovelas históricas, sátiras sociopolíticas, narrativas experimentais. A literatura angolana tem um estilo diferenciado e um calorzinho especial que acreditamos que vais gostar de descobrir. Eis alguns dos seus principais criadores.
JOSÉ LUANDINO VIEIRA
Nascido em Portugal, e mais concretamente em Vila Nova de Ourém, no ano de 1935, José Vieira Mateus da Graça mudou-se bem cedo com os pais para Angola e afeiçoou-se de tal forma a este país e à cidade de Luanda que acabou por adotar o apelido "Luandino". Na sua juventude, acusado de manter ligações ao Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), foi preso pela PIDE em 1959 e novamente em 1961, passando posteriormente oito anos no campo de concentração do Tarrafal. A prisão não o demoveu, contudo, de escrever e, em 1965, chegou mesmo a ser distinguido, por Luuanda, com o Grande Prémio de Novela da Sociedade Portuguesa de Escritores – uma decisão polémica que valeu a extinção desta entidade por parte do governo português. Muitos anos depois, em 2006, protagonizou outro caso curioso quando recusou receber o ilustre Prémio Camões por se considerar um "escritor morto" e acreditar que o reconhecimento devia ser atribuído a um "escritor vivo". Controvérsias à parte, permanece uma das principais referências da literatura angolana no mundo.
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PEPETELA
Chama-se Artur Carlos Maurício Pestana dos Santos, mas é mais conhecido como Pepetela, nome que significa "Pestana" na língua umbundo e que adotou enquanto militante do MPLA. Foi também esse o pseudónimo com o qual escolheu assinar toda a sua obra literária, uma boa parte da qual publicada já após a independência de Angola. A sua obra é diversa, misturando histórias de guerra, fantasia, reflexões sobre a realidade africana e até uma curiosa paródia a James Bond através de uma série protagonizada por um herói de nádegas exageradas, humoristicamente apelidado de Jaime Bunda. Outro dos pesos-pesados da literatura angolana, Pepetela foi reconhecido com o Prémio Camões em 1997.
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MANUEL RUI
Conhecido pelo sentido de humor que incorpora nas suas histórias, Manuel Rui é um autor bastante versátil que, além de acumular uma vasta obra literária que inclui poesia, romances, contos, histórias infantis e peças de teatro, foi também o responsável pela escrita da letra do hino nacional de Angola. Foi neste país da costa ocidental africana que Manuel Rui nasceu, em 1941. Mudou-se depois para Portugal, para concluir a sua formação em Direito, e, já após o 25 de Abril, regressou a Angola para ocupar vários cargos de destaque no plano académico e no plano cultural. Enquanto escritor, o seu trabalho mais famoso será talvez a novela Quem Me Dera Ser Onda, que acompanha duas crianças e um porco e se assemelha em estilo a uma história infantil – embora esconda, na verdade, uma forte crítica à sociedade angolana da época.
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JOÃO MELO
Uma das vozes mais criativas da literatura angolana, João Melo nasceu em Luanda, em 1955, e trabalhou muitos anos como jornalista e diretor para vários órgãos de comunicação em Angola. A grande porção da sua produção literária não poderia, contudo, estar mais distante da típica escrita jornalística. Figura de relevo do pós-modernismo, João Melo experimenta constantemente com a estrutura e a linguagem para criar as mais surpreendentes narrativas. É ainda – ou sobretudo – um prolífero autor de poesia, tendo publicado, até ao momento, mais de uma dezena de coleções de poemas.
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JOSÉ LUÍS MENDONÇA
Vários dos escritores que publicaram os seus primeiros livros já após a proclamação da independência de Angola, em 1975, foram “agrupados” pelo público sob a denominação de Novíssima Geração, uma expressão que reforçava a rutura com o passado e o avanço da literatura angolana em direção a novos e entusiasmantes caminhos. Foi nesta altura que surgiram nomes como Ana Paula Tavares, Lopito Feijóo, Zetho Cunha Gonçalves e... José Luís Mendonça, um autor que se destacou sobretudo na poesia, mas também na prosa. Uma das suas histórias mais curiosas é As Metamorfoses do Elefante, sobre um surto de riso que se espalha por Angola nos anos que antecedem a sua independência.
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JOSÉ EDUARDO AGUALUSA
Com uma carreira literária que já ultrapassa 30 anos e distinções que extravasam as fronteiras habituais da lusofonia, José Eduardo Agualusa é o mais famoso autor da literatura angolana contemporânea. Nascido em 1960, na cidade de Huambo, Agualusa mudou-se para Portugal para prosseguir os estudos e dedicou-se posteriormente ao jornalismo, através de colaborações com diversos órgãos de comunicação. Em simultâneo, lançava-se no meio literário enquanto editor e escritor de romances, contos, crónicas e poesia. O seu trabalho tem alcançado uma dimensão impressionante, merecedora de honras como o International Dublin Literary Award – um dos prémios mais valiosos do mundo, com um valor pecuniário de 100 mil euros – ou a inclusão nos finalistas do popular International Booker Prize, ambos devido ao romance Teoria Geral do Esquecimento.
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ONDJAKI
Ndalu de Almeida, mais conhecido como Ondjaki, nasceu em Luanda em 1977. Apaixonado pelo mundo das letras desde que, ainda adolescente, descobriu a banda desenhada de Astérix, tem-se destacado na escrita de poesia, contos, romances e livros infantojuvenis. Os seus interesses estendem-se, contudo, a várias outras áreas artísticas, como o cinema, o teatro ou a pintura, onde Ondjaki também tem construído obra. Entre os vários prémios que já conquistou encontram-se o Prémio Jabuti de Literatura, em 2010, o Prémio José Saramago, em 2013, e o Prémio Littérature-Monde, em 2016. Os seus livros estão traduzidos para mais de uma dezena de línguas.
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KALAF EPALANGA
É muito habitual associar-se o nome de Kalaf Epalanga à música, ou não se tratasse de um dos membros fundadores da banda Buraka Som Sistema, mas Kalaf também tem construído uma obra bastante interessante enquanto escritor. Basta observar a destreza com que mistura ficção e não ficção, verdade e ironia, humor e sobriedade, nos três livros que publicou até ao momento. “Vir para Lisboa, escolher abandonar o plano que me foi traçado e conseguir chegar ao ponto de provar que é possível contar as histórias que quero contar e tocar as pessoas que quero tocar é algo que todos os dias me comove”, revelou Kalaf, em 2015, à FNAC.
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YARA MONTEIRO
Yara Nakahanda Monteiro era ainda bebé quando se mudou de Angola, onde nasceu, para Portugal. A viagem deu-se tão cedo que podia acontecer que perdesse, de alguma forma, a ligação às suas origens. Mas não. A autora não só se afirma"trineta da escravatura, bisneta da mestiçagem, neta da independência e filha da diáspora" como dedica a sua escrita à exploração destes temas e aos dilemas de quem, como ela, se divide entre diferentes heranças culturais. "Sinto Angola como a mátria e Portugal como a pátria", explica Yara. "Acho que poderei dizer que a minha identidade também está em trânsito. Continua e continuará sempre em trânsito." O seu romance de estreia, Essa Dama Bate Bué!, acompanha uma mulher – com um percurso muito semelhante ao da autora – que regressa à Angola onde nasceu, depois de crescer em Portugal, para descobrir quem realmente é. Por sua vez, Memórias, Aparições, Arritmias é um livro de poesia que valeu a Yara Monteiro o Prémio Literário Glória de Sant’Anna em 2022.
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DJAIMILIA PEREIRA DE ALMEIDA
À semelhança de outros nomes que aqui referimos, Djaimilia Pereira de Almeida é uma escritora dividida entre duas nacionalidades. Nasceu em Angola, em 1982, mas cresceu em Portugal e é cidadã portuguesa. Os seus livros refletem os desafios inerentes a este duplo legado. Estreou-se em 2015, com a publicação de Esse Cabelo, que nos dá a conhecer as experiências de uma jovem angolana na sociedade portuguesa dos anos 80. Mais tarde, venceu o Prémio Fundação Inês de Castro, o Prémio Fundação Eça de Queiroz e o Prémio Oceanos pelo romance Luanda, Lisboa, Paraíso. Os seus livros encontram-se traduzidos para mais de uma dezena de línguas. Também já escreveu para publicações tão reputadas como o New York Times.
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