Iclas - Instituto de Culturas Lusófonas
Antonio Borges Sampaio


21-06-2023

O ARSENAL OU QUARTEL DO TREM


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Muralhas, fortes e edifícios militares - 22

O ARSENAL OU QUARTEL DO TREM

Um dos equipamentos militares mais importantes nas praças de guerra era o arsenal ou, mais comumente denominado, o trem, destinado ao armazenamento, à reparação e ao fabrico de armas e munições de guerra. Inicialmente, o Trem de Elvas funcionava num outro edifício, para o qual a Fazenda Real, em 1643, expropriou à Confraria da Misericórdia da cidade umas casas, no cimo da Rua de São Francisco, pelo valor de 103$000. 

Poucos anos depois, em 1649, segundo informação do pároco da freguesia da Sé, nas Memórias Paroquiais de 1758, no Meio Baluarte do Trem, ter-se-á construído, por ordem de João Paschasio Cosmander, que à data já teria morrido, uns alpendres ou telheiros para os oficiais que trabalhavam nas armas e apetrechos de guerra, e, entre 1688 e 1691, a cisterna grande. Contudo, aponta-se normalmente como data para o início da construção do actual trem o ano de 1694, no mês de Novembro, conforme especificado pelo pároco, por determinação de D. Pedro II.

As obras do edifício prolongaram-se pelas primeiras décadas do século XVIII, procedendo-se, em 1716, à colocação da guarda da janela central do segundo piso, e em 1718, e ao portal central, ambos documentados epigraficamente. Por ordem de 4 de Junho de 1723, construiu-se também a oficina dos ferreiros, na zona de cota mais elevada do pátio, integrando pequena cisterna. Entretanto, em 1706, colocaram-se no edifício seis imagens antigas de madeira, provenientes dos “baluartes da praça de Valença”.

A partir de 1821, na metade poente do piso térreo, instalou-se o presídio militar, que recebia os militares condenados no Conselho de Guerra a penas de trabalhos forçados, aqui funcionando até 1911. Em 1868, com a reorganização do Arsenal do Exército, o Trem de Elvas foi extinto, conservando-se ainda como armazém e depósitos, com a designação de "Extinto Trem". Vinte anos depois, em 1886, devido aos poucos operários que restavam terem retirado para Lisboa, o edifício passou a servir de Depósito de Artigos de Guerra da Praça ou Reserva de Equipamento de Guerra. Com os operários saíram também uma cruz de prata, com mais de 4 quilogramas, e uma lâmpada de prata, com cerca de 6 quilogramas, que havia servido para o culto de Santa Bárbara, pertencentes ao antigo Regimento de Artilharia 3. No mesmo ano, seguiu ainda para Lisboa o Estandarte Real do Trem, oferecido por D. João V (1689-1750). Em 1887, o edifício foi entregue ao Ministério da Fazenda, por empréstimo, e convertido em quartel e secretaria da 1.ª Companhia do 4.º batalhão da guarda-fiscal e em cavalariça da secção de cavalaria da mesma guarda. Após dois anos, segundo Victorino d’ Almada, os altos do arsenal foram ocupados pela pagadoria da 7.ª divisão militar e pela repartição fiscal de um comissário de mostras e, os baixos albergaram duas ou três atafonas, aproveitadas apenas em anos de estiagem, quando as azenhas de Varche e os moinhos do Guadiana não garantiam farinha suficiente para o consumo da cidade.

Em 1901, o Ministério da Guerra concedeu, por empréstimo, à Câmara Municipal de Elvas, e enquanto dela não necessitasse, a zona da prisão do trem (medindo 25,0 metros x 6,70 metros), bem como a zona superior, de modo a poder albergar a prisão da comarca. Na sequência desta cedência, decorreram várias diligências para se retirar os sete quadros a óleo, existentes na zona do segundo piso do trem a ceder à câmara, (…) de tal ou qual merecimento, senão artístico pelo menos histórico (…), e de remetê-los para o Museu Militar. Pela documentação, percebe-se que os quadros faziam parte de “prateleiras e tarimbas” existentes na sala, não podendo ser retirados sem desmanchar as prateleiras, chegando a fazer-se orçamento para a sua remoção. Em ofício, de 30 de Julho, dirigido ao inspector do Serviço de Engenharia da 4.ª Divisão Militar, 2.ª Secção, Francisco Augusto Gomez Teixeira informa que o (…) seu pouco valor artístico não justifica a sua transferência (…) (DIE: Tombo dos Prédios Militares: PM n.º 86/Elvas - Quartel do Trem, Processo n.º 1), desconhecendo-se a data do seu apeamento e posterior desaparecimento. O edifício foi ocupado sucessivamente por vários batalhões, até ser reafecto ao Ministério da Inline image
Educação e, em 2004, ocupado pela Escola Superior Agrária de Elvas.