02-01-2023ALVES REDOL,VICE-CÔNSUL DO PARAGUAI, SALVOU REFUGIADOS JUDEUSAlves Redol (1911 – 1969), grande escritor neorrealista, no seu livro semi-autobiográfico "O Cavalo Espantado" (1960) conta a história de um casal de judeus refugiado em Lisboa durante a Segunda Guerra Mundial (1939 – 1945), procurando visto para embarcar para os EUA, de modo a escapar à barbárie nazi. António Mota Redol, filho do escritor, em entrevista a Paula Lourenço, no âmbito da sua tese de mestrado: «Narrar para si: um estudo do romance O Cavalo Espantado, de Alves Redol», de 2018, revela uma vertente desconhecida do pai: «O personagem Pedro [Pedro Osório, do romance "O Cavalo Espantado"] é bastante autobiográfico. Redol era vice-cônsul do Paraguai (o dono da empresa onde Redol era chefe de escritório, a Procuradoria Geral dos Municípios, era cônsul daquele país). Nessa qualidade, Redol lidava com os refugiados que pretendiam visto para se dirigirem à América do Sul e, depois, do Norte.» Acontece que Alves Redol era chefe de escritório na Procuradoria Geral dos Municípios, em Lisboa, onde trabalhava desde 1933, e o proprietário da dita empresa, seu patrão, era cônsul do Paraguai, dessa forma Redol fora designado para o cargo de vice-cônsul daquele país. Assim, o escritor terá conseguido obter documentação que salvou muita gente e, contrariamente ao que era prática habitual em muitos consulados e embaixadas, não colhendo quaisquer benefícios materiais desses atos de humanismo, à semelhança de outro grande homem, Aristides de Sousa Mendes, ainda que sem a dimensão do feito do cônsul de Portugal em Bordéus. Estima-se que durante a guerra tenham passado por Portugal entre 50 a 200 mil judeus fugindo do extermínio dos campos de concentração da Alemanha nazi. Embora muitos tenham beneficiado da ajuda desinteressada, puramente altruísta, de alguns portugueses como Alves Redol, muitos outros terão sido sujeitos à prática de especulação na concessão de vistos: pedidos de pagamento extra, normalmente muito elevados, que costumavam ser cobertos com a venda de joias ou de outros bens de valor que os refugiados tivessem conseguido trazer. |