04-07-2008Língua portuguesa cumpre intercâmbio de culturas em MacauA língua portuguesa voltou a cumprir em Macau a sua vocação histórica de gerar intercâmbio de culturas sob a forma do XVIII Curso de Verão de Língua e Cultura portuguesas que encerrou hoje. Durante três semanas, 231 estudantes de Macau, Hong Kong, continente chinês, Coreia do Sul, Japão, Timor-Leste e Vietname aprenderam português, descobriram a cultura portuguesa e deram a conhecer as suas próprias culturas e no final, entre a fluência e as simples palavras soltas, o português tornou-se um traço de união entre todos. "Este curso de verão foi uma boa experiência porque aprendi mais português mas fiquei também a conhecer um pouco da cultura que está por detrás dessa língua, que assim deixou de ser uma coisa tão abstracta", disse à agência Lusa Pham Thi Huyen, do Vietname, depois de ter dançado uma Chula do folclore português no espectáculo de encerramento do curso. Pham Thi Huyen, ou Claudia Silva segundo o nome português adoptado durante o curso, é finalista do curso de Inglês na Universidade de Línguas de Hanoi e foi estreante no curso de verão de língua portugesa em Macau mas já têm seis meses de estudo de português na universidade. "Aprender português neste curso não é muito difícil, comparado com Hanói, porque na Universidade aprende-se só à base de gramática e aqui aprendemos a conversar em contacto com pessoas que falam poruguês", disse. "Aprender português no Vietname é muito dificil, não por causa da língua mas porque não há contactos com Portugal, não há professores portugueses, não há livros em português, falta tudo". Mesmo assim, a turma de português na Universidade de Línguas de Hanói teve 26 alunos no último ano lectivo. A professora que ensina português é vietnamita e conta irregularmente com a ajuda da mulher do embaixador brasileiro em Hanói. Pham Thi Huyen termina o curso de inglês no próximo ano e vai dar aulas mas diz que vai continuar a estudar português porque quer vir a ser professora de português na universidade de Hanoi. Mais experimentada no Curso de Verão de Língua e Cultura Portuguesas em Macau é Liu Yisha, que passou a ser Luísa, estudante do Instituto de Línguas da Rádiodifusão da China em Pequim e que já começa a demonstrar fluência em português. "Este é o segundo curso de Verão em que venho a Macau, mas antes já participei num curso de Verão em Portugal, na Universidade do Algarve", disse à Lusa. "Comecei a estudar português quase por acaso mas gostei muito da língua e como me interesso por história e literatura, o português despertou-me cada vez mais o interesse". Liu Yisha diz que aprende português "não só para aprender uma língua estrangeira, mas também para compreender uma cultura diferente, para estudar formas de pensar diferentes, que neste caso tem uma relação muito antiga com a China, que o estudo da língua permite compreender melhor". Para além de 20 horas de aulas semanais, o curso de Verão inclui também um programa de actividades que incluem visitas a museus e locais turísticos de Macau, folclore português e uma oficina de pintura e gravura. Wang Lu, que adoptou o nome de Afonso Wang, estudante em Pequim, é visto pelos colegas como um "veterano" do português por ter frequentado durante um ano lectivo inteiro o curso de português para estrangeiros na Universidade de Coimbra. De Coimbra traz a recordação "espectacular" da queima das fitas. "Tantas festas", diz sem entrar em pormenores. Wang Lu diz que irá continuar a estudar português e que gostaria de poder encontrar um emprego onde o conhecimento da língua lhe fosse útil. Maria Antónia Espadinha, directora do departamento de Estudos Portugueses da UM, disse à Lusa no início do curso que o número recorde de participantes no curso deste ano "demonstra que o português não é simplesmente uma língua de uma pequena comunidade em Macau ou de um pequeno país na Europa, mas uma língua de trabalho e de interesse económico num mundo mais vasto". Os 231 participantes no curso, organizado pela Universidade de Macau, Instituto Politécnico de Macau e serviços de Educação do governo local, foram o maior número de todas as 18 edições da iniciativa, tendo sido distribuídos por nove turmas - uma de nível elementar, uma de nível básico, cinco de nível intermédio e duas de nível avançado. Entretanto, os "caloiros" da turma de iniciação ainda não vão muito além de expressões básicas, que um curso de três semanas não dá para mais, mas dizer "no próximo ano quero voltar" foi uma frase que muitos parecem ter aprendido sem dificuldade. E no espectáculo de encerramento do curso, todos, à medida das capacidades de cada um, demonstraram o que aprenderam dando uma entoação multicultural às palavras de músicas como a velha Cantiga da Rua e de outras mais contemporâneas popularizadas por Rui Veloso, Pedro Abrunhosa ou José Afonso e também aos versos de Mar Português. Voltar |