14-01-2023António Sérgio de Sousa Júnior, pensador, pedagogo e político português, nasceu em DamãoANTÓNIO SÉRGIO 1883-1969 António Sérgio de Sousa Júnior, pensador, pedagogo e político português, nasceu em Damão (India portuguesa) em 1883 e faleceu em Lisboa em 1969. Em Vila Nova de Gaia, existe uma escola secundária com o seu nome. Viveu parte da infância em África. Em Lisboa, estudou no Colégio Militar, na Escola Politécnica e na Escola Naval. Cedo sentiu grande interesse pela poesia e pela filosofia, devendo-se o seu precoce pendor racionalista à leitura da Ética de Espinosa, ao estudo da geometria analítica e ao interesse pela obra de Antero de Quental. Iniciando uma carreira de oficial da Marinha, fez várias viagens que o levaram a Cabo Verde e a Macau. Abandonou a Marinha com a implantação da República em 1910, por ter jurado fidelidade ao rei deposto. Casou com Luísa Epifâneo da Silva, que assinou escritos pedagógicos como Luísa Sérgio, com quem teve uma grande camaradagem intelectual. As suas duas primeiras obras publicadas foram um volume de Rimas e uma obra filosófica sobre Antero de Quental onde reagiu contra o naturalismo positivista. Após estudos de pós-graduação no Instituto Jean-Jacques Rousseau (1914-16), participou no mais consequente projeto de reforma do Ensino Português elaborado durante a Primeira República (Projeto Camoesas). A sua vida aventureira fê-lo viver em diversos lugares (Lisboa, Rio de Janeiro, Londres, Genebra, Paris, Santiago de Compostela, Madrid) o que favoreceu o seu assumido cosmopolitismo. Durante o Consulado sidonista (1918-19), lançou a revista “Pela Grei” (1918-1919). Nos anos de 1920 integra a direção da “Seara Nova”, com Raul Proença e Jaime Cortesão, vindo a integrar o governo de Álvaro de Castro (1923), assumindo a pasta da Educação, com o principal propósito de criar uma “Junta de Ampliação de Estudos”, organismo autónomo que enviaria sistematicamente bolseiros ao estrangeiro para estudar, e que financiaria institutos de investigação e escolas modernas; o projeto foi executado, sem a componente pedagógica e sem o espírito democrático que inspirava Sérgio, em 1929, com a criação da Junta de Educação Nacional, antepassado do Instituto de Alta Cultura, do INIC e da FCT. Penso que muitos colegas meus, Investigadores Científicos, não sabem o papel de António Sérgio, um século antes. Para a sua atividade de hoje! Como Sérgio via tão longe!!! Com o fim da Primeira República, vê-se obrigado ao exílio, residindo em Paris de 1926 até 1933. De volta a Portugal, tornou-se um dos principais nomes do movimento cooperativista e do socialismo democrático; alguns dos seus companheiros de luta foram Alves Correia, Mário de Azevedo Gomes, José Régio, Bento de Jesus Caraça e Manuel Antunes. A importância das suas ligações políticas foram bem visíveis nessa época. Fez parte do Movimento de Unidade Democrática, juntamente com nomes como Alves Redol, o General Norton de Matos, Ruy Luís Gomes e Bento de Jesus Caraça, Irene Lisboa, Fernando Lopes Graça, Ferreira de Castro, Abel Salazar, Miguel Torga, Maria Lamas, Pulido Valente, Vitorino Magalhães Godinho, Mário Dionísio e Francisco Salgado Zenha (à data ainda estudante) e muitos outros. Apoiou a candidatura de Humberto Delgado e desenvolveu ampla campanha em prol da cultura. A partir de 1959, abandonou a intervenção cívica ativa e a pena de escritor, vindo a falecer em 1969. Tratou-se de uma personalidade que, indiretamente, muito me influenciou (recordo-me de ver os seus livros na cabeceira do meu pai), bem como a muitos amigos meus da minha geração. O meu próprio nome foi também uma homenagem a ele que os meus pais quiseram dar. Estive presente no seu funeral, em 1969, no Cemitério dos Prazeres, com milhares de pessoas e com uma inevitável carga policial da Ditadura fascista. O seu nome perdura na toponímia portuguesa, em diversas localidades. A sua “Casa” em Lisboa, no Bairro da Lapa, está hoje bem assinalada. Foi agraciado, a título póstumo, com os graus de Grande-Oficial da Ordem da Liberdade (1980) e de Grande-Oficial da Ordem Militar de Sant’Iago da Espada (1983). É importante uma referência ao seu emblemático conceito de Cultura: "Homem culto (…) significará um indivíduo de juízo crítico, afinado, objetivo, universalista, liberto das limitações de nacionalidade e de classe (…)." (…) e somos filósofos na proporção exata em que nos libertamos dos limites que nos inculcam a raça, a nacionalidade, o sítio, o instante, o culto, o temperamento, a classe, o sexo, a moda, a profissão". "Sérgio foi preso em 1910, 1933, 1935, 1948 e 1958. E a propósito das últimas quatro vezes pensou (e depois escreveu) que foi na prisão que encontrou a verdadeira “união nacional” de oposição à ditadura militar, primeiramente, e, depois, a Salazar, ao Estado Novo, ao fascismo." Referências: Fernandes, Rogério, O Pensamento Pedagógico em Portugal, Lisboa, ICALP, 1978; "Para a definição da aspiração comum dos povos luso-descendentes", Ensaios tomo VI, Lisboa, Sá da Costa; Barros, Henrique de e Costa, Fernando Ferreira da, António Sérgio: uma nobre utopia, Lisboa, 1983, Edições O Jornal; Barros Henrique de e Costa, Fernando Ferreira da, António Sérgio:uma nobre utopia, Lisboa, 1983, Edições O Jornal; Sérgio, António,"Sobre o espírito do Cooperativismo", Ateneu Cooperativo, Lisboa, 1958) |