Iclas - Instituto de Culturas Lusófonas
Antonio Borges Sampaio


09-01-2023

Palavras e sentimento de Francisco Moita Flores


Palavras e sentimento de Francisco Moita Flores, escritor, analista, investigador, antigo inspetor da Polícia Judiciária e antigo Presidente da Câmara Municipal de Santarém

BRASÍLIA: O meu coração sangrou e as lágrimas andaram sempre a chamuscar-me o olhar. Brasília é a única cidade do mundo que é uma obra de arte. Desenhada por Lúcio Costa, com a maioria dos edifícios com a assinatura do imortal Oscar Niemeyer, quem entra na Praça dos Três Poderes tem a sensação única de ser absorvido pelo belo. A cidade, construída nos meados do séc. XX, é um hino à soberania do Estado, da República do Brasil, e uma aula prática sobre a corrente estética do Modernismo.

Ao contrário do que dizem jornalistas e comentadores, não assistimos a um ataque à Democracia. É apenas um meta texto, decorrente do tumulto político que se vive no Brasil. Foi, sim, a mais brutal das violências contra a soberania da República e contra a joia artística que faz desta cidade um museu a céu aberto. Cada vidro partido, cada sala destruída, cada obra de arte violada, remete para o horror nazi que conspurcou a Europa na primeira metade do séc. XX.

Estive uma única vez em Brasília e a sensação que se traz, é que nos sentimos mais belos porque tocámos, vimos, passeámos pela mais esplêndida beleza arquitetónica dos tempos modernos.

Ontem chorei por Brasília, uma das joias da arquitetura mundial. O ódio é contra Lula da Silva? Contra o Congresso? Contra os Juízes? Então, por que carga de água, dirigiram o seu ódio espúrio, alarve, contra a cidade-arte, contra os criadores deste pérola arquitetónica, única no mundo? As bestas não percebem que empobreceram o país naquilo que tem de mais magnânimo, destruindo o belo, prostituindo-o, violando-o. Sei que não sou o único não brasileiro que, hoje, está de luto. Somos milhões que choram por Brasília destruída e na memória chega-me a epígrafe do Por Quem os Sinos Dobram de Hemingway , a partir do poema de John Donne. ‘E não perguntes por quem os sinos dobram. Eles dobram por ti’