17-07-2022 Livro - As Farpas - Ramalho Ortigão
“As Farpas”, nome metafórico, dado com o sentido e intenção de “espicaçar a sociedade”, foram edições mensais, publicadas entre 1871 e 1882, numa revista fundada por Ramalho Ortigão e Eça de Queirós, quando tinham, respetivamente, 35 e 26 anos.
Foram iniciadas pelos no mesmo ano em que se realizou as chamadas “Conferências do Casino”, em 1871, nas quais um grupo de jovens escritores e intelectuais apresentaram o seu manifesto com pretensões de revolucionar a literatura e a sociedade cultural portuguesa da época, com base nas filosofias realistas e naturalistas do escritor francês, Gustave Flaubert. Foi a censura imposta, pelas autoridades, ás conferências, enquanto esta decorriam, que motivou, em grande parte, o lançamento dessas publicações pelos dois jovens escritores.
Decerto inspiradas nas “Les Guêpes” (As Ferroadas), do francês Alphonse Karr, “As Farpas” – sublinhadas com a legenda “O País e a Sociedade Portuguesa” – constituem um painel jornalístico da sociedade de Portugal nos finais do século XVIII, com artigos altamente críticos e irónicos a satirizar, com muito humor à mistura, múltiplos sectores da sociedade da época – da política á religião, dos costumes e hábitos, à mentalidade vigente.
“As Farpas” constituem pois um marco na literatura e na evolução cultural do país uma vez que se impuseram como um novo e inovador conceito de fazer jornalismo – o jornalismo de ideias, de crítica social e cultural – que hoje é corrente.
Eça de Queirós, por razões profissionais em que teria de se ausentar do país, tomou a decisão de abandonar o projeto ao fim de um ano quando assumiu o cargo de embaixador em Cuba, alegando não ter condições de observar o quotidiano português para o poder analisar e criticar mensalmente. Ramalho Ortigão continuaria sozinho este trabalho jornalístico até 1882.
Em 1887 Ramalho decide publicar, em livro, grande parte dos seus folhetins. Assim entre 1887 e 1890 são publicados, em 11 volumes, e repartidos por temas, As Farpas de Ramalho Ortigão, tornando-se assim, também, na primeira obra literária feita a partir da condensação de artigos jornalísticos, previamente publicados em jornal ou revista – algo que hoje também é comum.
Ramalho Ortigão exortou posteriormente Eça de Queirós a fazer o mesmo e os seus artigos foram publicados, em 1890, num livro intitulado “Uma Campanha Alegre”.
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