Iclas - Instituto de Culturas Lusófonas
Antonio Borges Sampaio


25-06-2022

TRANSFERÊNCIA OU REMOÇÃO, EIS A QUESTÃO ! por Francisco Seixas da Costa


Não há qualquer acordo sobre a língua que possa obviar a desentendimentos semânticos. No Brasil, quando um diplomata vai para uma embaixada no exterior, diz-se que foi “lotado” nessa missão diplomática, isto é, que passou a fazer parte do “lote” do pessoal aí em serviço. E quando sai de um posto para outro, ou segue de regresso à sua capital, diz-se que foi “removido” desse posto, no sentido de ter sido “transferido”. Entre nós, dizer-se de alguém que foi “removido”, soaria estranho: remove-se um obstáculo ou um empecilho, não (em regra) um servidor público. Também pode acontecer, só que não se diz…

 

Ainda na ressaca de dois dias que passei na Fundação Calouste Gulbenkian, a discutir o futuro das relações entre Portugal e o Brasil, no ano em que se comemoram os 200 anos da independência deste último e em que o coração (físico) do primeiro imperador brasileiro surgirá como uma “vedeta” mórbida dos festejos, lembrei-me do que sempre pensei: somos, afinal, dois povos separados por “tanto mar” e por uma língua incomum.

 

Vem isto a propósito da notícia, hoje conhecida, de que o presidente ucraniano decidiu mudar a sua embaixadora em Lisboa. Há pouco, na CNN, perguntado sobre isto, estive quase para repegar nos dois termos - o usado em Portugal e o usado no Brasil - e especular: a embaixadora foi transferida ou removida?

 

Não fui por esse caminho. Disse, com toda a sinceridade, que entendia que a embaixadora tinha tido uma reação extremamente profissional, ao dizer, à comunicação social portuguesa, que se tratou de uma mudança já programada, até porque ela própria tinha tido a indicação de que iria sair, numa comunicação que lhe havia sido feita pelo respetivo ministro. Quando? Há dois dias.

 

Há anos, um embaixador português, cujo nome agora me escapa, “removido” também com breve aviso prévio, ao ser-lhe perguntado se tinha algum comentário a fazer ao que lhe tinha acontecido, optou por dizer à comunicação social que a decisão era tão eloquente que falava por si…