27-03-2022 Augusto Palhinha da Costa Dias (Trouxemil, Arganil, Coimbra 1919 - Lisboa, 1976): escritor e investigador
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Augusto da Costa Dias |
Nome completo |
Augusto Palhinha da Costa Dias |
Nascimento |
1919
Trouxemil |
Morte |
1976 (57 anos)
Lisboa |
Nacionalidade |
Português |
Cônjuge |
Maria Helena da Costa Dias |
Ocupação |
Escritor e investigador (historiador e sociólogo) |
Principais trabalhos |
Os Cavaleiros da Távola Redonda (1960) |
Augusto Palhinha da Costa Dias
(Trouxemil, Arganil, 1919 - Lisboa, 1976) foi um escritor e investigador da literatura e cultura portuguesa.
Casado com Maria Helena da Costa Dias.
Adolescente, veio com a família para a região de Lisboa depois dos estudos secundários, esteve internado algum tempo no sanatório da Parede e conciliou depois o percurso escolar com o profissional enquanto trabalhador-estudante.
Historiador e sociólogo da cultura, depois de licenciar-se em Ciências Histórico-Filosóficas pela Faculdade de Letras de Lisboa em 1954, sendo proibido de dar aulas. Com Alberto Ferreira e José Marinho, fundou uma «Sala de Estudos André de Resende», porém aberta em nome das respetivas mulheres e sem menção dos apelidos de casadas. Com António José de Saraiva, abriu uma editora e distribuidora «Guilda do Livro e do Disco», a coberto da qual circulavam obras proibidas em Portugal.
Animador cultural, criou com Mário Castrim e os desenhadores Tóssan e Figueiredo Sobral, no jornal Diário de Lisboa, o suplemento DL Juvenil, entre 1958 e 1961, depois o República Juvenil com sua mulher Maria Helena Costa Dias, no jornal República. Aí criou um espaço de tertúlia intelectual com jovens escritores que, nas décadas seguintes, vieram a afirmar-se nas letras portuguesas e no jornalismo.
Opositor ao regime de Salazar e Marcelo Caetano, veio a ser diretor literário da Portugália Editora a partir de 1959, após a saída de Jorge de Sena para o Brasil e depois para os Estados Unidos. Costa Dias fundou aí a Coleção Portugália, vocacionada para os estudos históricos e na qual publicaram Alberto Ferreira, Armando Castro, Alexandre Cabral, Borges Coelho, Joel Serrão, José Tengarrinha, Oliveira Marques e Victor de Sá. Mas igualmente criou a Coleção Poetas de Hoje, com obras de autores tão díspares como Carlos de Oliveira ou José Régio, José Gomes Ferreira ou Saúl Dias, Alberto de Lacerda ou José Fernandes Fafe, Egito Gonçalves ou Edmundo de Bettencourt, Manuel da Fonseca ou António Ramos Rosa, Mário Dionísio, Eugénio de Andrade, Vergílio Ferreira… Anos de ouro da Portugália Editora que contribuíram para a reafirmação de escritores submersos pela intolerância da ditadura, não obstante a diversidade ideológica dos autores, e ainda para a revelação de novos valores literários como Almeida Faria, Rebordão Navarro, Fiama Pais Brandão, Herberto Helder, Gastão Cruz, Luís Neto Jorge, entre tantos outros.
O seu primeiro ensaio foi começado a escrever na prisão (Aljube), estudo sobre a Crise da consciência pequeno-burguesa em Portugal – o nacionalismo literário da geração de 90, publicado em 1962 (2ª ed., 1964), numa perspetiva de história das ideias teoricamente fundada no marxismo, muito em particular numa sociologia pós-gramsciana. Para além de Gramsci, Costa Dias era leitor assíduo de Lukács ou Henri Lefèbvre que, como teóricos, se afastaram de um marxismo ortodoxo. Sobrevindo-lhe a doença, não concretizou o longo projeto de estudo regressivo das correntes literárias oitocentistas, entre o romantismo de Garrett e o Neogarrettismo do fim de século. Dedicou-se em particular ao estudo de Garrett, cuja obras iniciou, mas sem concluir, uma vez proibida a edição da Obra Política de Almeida Garrett depois de apresentada ao público a estrutura de publicação, com estudos introdutórios. Como crítico, estudioso ou polemista publicou ainda, quando não censurados, inúmeros artigos nas revistas Vértice e Seara Novaao longo dos anos de 1960, na última das quais até aos primeiros anos 70.
Por volta de 1969, tornou-se diretor de publicidade na empresa Latina-Thompson, através da qual veio a criar com Francisco Pinto Balsemão a secção portuguesa da International Advertising Association. Já doente no 25 de abril de 1974, não veio a lecionar na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, para a qual foi aprovado. Publicou o seu último estudo, Literatura e Luta de Classes: Soeiro Pereira Gomes, em 1975. Acabou por falecer com 57 anos, e dele afirmou o poeta José Gomes Ferreira: «Um dia, quando se apagarem certas paixões compreensíveis, se medirá numa balança de cristal o que a cultura portuguesa ficou a dever a este homem».
Índice
Obras publicadas
- A crise da consciência pequeno-burguesa: O nacionalismo literário da geração de 90. Lisboa: Estampa, 1964 (1ª e 2ª edições), 1977 (3ª edição).
- La crisis de la conciencia pequeño-burguesa en Portugal/ El nacionalismo literario de la generación del 90. (Traducção de Juan Eduardo Zúñiga). Madrid: Ediciones Peninsula, 1966
- Discursos sobre a liberdade de imprensa no primeiro Parlamento Português (1821); textos integrais. Lisboa: Portugália Editora, 1966.
- Viagens na minha terra (de) Almeida Garrett. Lisboa: Estampa, 1977. Introdução e notas de Augusto da Costa Dias.
- O roubo das Sabinas (de) Almeida Garrett: Reprodução facsimilada do manuscrito. Edição crítica, fixação de texto, introdução e notas de Augusto da Costa Dias.
- O roubo das sabinas (de) Almeida Garrett / Augusto da Costa Dias. Lisboa : Editorial Estampa, imp. 1979
- Narrativas e lendas (de) Almeida Garrett. Lisboa: Estampa, 1979. Edição crítíca, fixação do texto, prefácio e notas de Augusto da Costa Dias. Recolha de textos, organização Maria Helena da Costa Dias.
- Obra política : escritos do Vintismo 1820-23 (de) Almeida Garrett. Lisboa: Estampa, 1985. Augusto da Costa Dias; Maria Helena da Costa Dias; Luís Augusto Costa Dias.
- Memórias políticas (de) Basílio Teles ; fixação de texto, prefácio e índices por Augusto da Costa Dias. - Lisboa: Portugália, 1969.
- O senhor Sete: dispersos folclóricos e de doutrina literária (de) Trindade Coelho ; recolha, apresent. e notas de Augusto da Costa Dias. Lisboa: Portugália, 1961.
- Memórias políticas (de) Basílio Teles ; fixação de texto, prefácio e índices de Augusto da Costa Dias. Lisboa: Portugália, imp. 1969.
- Do ultimatum ao 31 de Janeiro : esboço de história política de Basílio Teles; prefácio de Augusto da Costa Dias. 2ª ed. Lisboa: Portugália, 1968.
Traduções e adaptações
- Os cavaleiros da Távola redonda; adapt. act. da matéria da Bretanha por Augusto da Costa Dias. Lisboa: Portugália, imp. 1960.
- Os cavaleiros da Távola Redonda; adapt. e act. da matéria da Bretanha por Augusto da Costa Dias. Porto: Público Comunicação Social (distrib.), 2004. ISBN 84-9789-501-0.
- Ania Francos - Palestina : liberdade ou morte; trad. Augusto da Costa Dias. Lisboa: Seara Nova, 1970.
- Georges Mongrédien - A vida quotidiana no tempo de Luís XIV; trad. Augusto da Costa Dias. Lisboa: Livros do Brasil, 197-?.
- Jean Robiquet - A vida quotidiana no tempo da Revolução Francesa; trad. Augusto da Costa Dias. Lisboa: Livros do Brasil, D.L. 1962.
Artigos
Alguns artigos escritos por Augusto da Costa Dias:
“A situação política e as eleições”. In Seara Nova, nº 1554 (1975), p. 5-10. Cota: PP442|AHM
“Leitura política das eleições: a tentativa de ditadura pequeno-burguesa de tanga-socialista como forma de preservação do capitalismo”. In Seara Nova, nº 1556 (1975), p. 3-5. Cota: PP442|AHM
“Algumas questões cadentes no processo revolucionário Português”. In Seara Nova, nº 1557 (1975), p. 11-16. Cota: PP442|AHM [1]
Adolescente, veio com a família para a região de Lisboa depois dos estudos secundários, esteve internado algum tempo no sanatório da Parede e conciliou depois o percurso escolar com o profissional enquanto trabalhador-estudante.
Historiador e sociólogo da cultura, depois de licenciar-se em Ciências Histórico-Filosóficas pela Faculdade de Letras de Lisboa em 1954, sendo proibido de dar aulas. Com Alberto Ferreira e José Marinho, fundou uma «Sala de Estudos André de Resende», porém aberta em nome das respetivas mulheres e sem menção dos apelidos de casadas. Com António José de Saraiva, abriu uma editora e distribuidora «Guilda do Livro e do Disco», a coberto da qual circulavam obras proibidas em Portugal.
Animador cultural, criou com Mário Castrim e os desenhadores Tóssan e Figueiredo Sobral, no jornal Diário de Lisboa, o suplemento DL Juvenil, entre 1958 e 1961, depois o República Juvenil com sua mulher Maria Helena Costa Dias, no jornal República. Aí criou um espaço de tertúlia intelectual com jovens escritores que, nas décadas seguintes, vieram a afirmar-se nas letras portuguesas e no jornalismo.
Opositor ao regime de Salazar e Marcelo Caetano, veio a ser diretor literário da Portugália Editora a partir de 1959, após a saída de Jorge de Sena para o Brasil e depois para os Estados Unidos. Costa Dias fundou aí a Coleção Portugália, vocacionada para os estudos históricos e na qual publicaram Alberto Ferreira, Armando Castro, Alexandre Cabral, Borges Coelho, Joel Serrão, José Tengarrinha, Oliveira Marques e Victor de Sá. Mas igualmente criou a Coleção Poetas de Hoje, com obras de autores tão díspares como Carlos de Oliveira ou José Régio, José Gomes Ferreira ou Saúl Dias, Alberto de Lacerda ou José Fernandes Fafe, Egito Gonçalves ou Edmundo de Bettencourt, Manuel da Fonseca ou António Ramos Rosa, Mário Dionísio, Eugénio de Andrade, Vergílio Ferreira… Anos de ouro da Portugália Editora que contribuíram para a reafirmação de escritores submersos pela intolerância da ditadura, não obstante a diversidade ideológica dos autores, e ainda para a revelação de novos valores literários como Almeida Faria, Rebordão Navarro, Fiama Pais Brandão, Herberto Helder, Gastão Cruz, Luís Neto Jorge, entre tantos outros.
O seu primeiro ensaio foi começado a escrever na prisão (Aljube), estudo sobre a Crise da consciência pequeno-burguesa em Portugal – o nacionalismo literário da geração de 90, publicado em 1962 (2ª ed., 1964), numa perspetiva de história das ideias teoricamente fundada no marxismo, muito em particular numa sociologia pós-gramsciana. Para além de Gramsci, Costa Dias era leitor assíduo de Lukács ou Henri Lefèbvre que, como teóricos, se afastaram de um marxismo ortodoxo. Sobrevindo-lhe a doença, não concretizou o longo projeto de estudo regressivo das correntes literárias oitocentistas, entre o romantismo de Garrett e o Neogarrettismo do fim de século. Dedicou-se em particular ao estudo de Garrett, cuja obras iniciou, mas sem concluir, uma vez proibida a edição da Obra Política de Almeida Garrett depois de apresentada ao público a estrutura de publicação, com estudos introdutórios. Como crítico, estudioso ou polemista publicou ainda, quando não censurados, inúmeros artigos nas revistas Vértice e Seara Novaao longo dos anos de 1960, na última das quais até aos primeiros anos 70.
Por volta de 1969, tornou-se diretor de publicidade na empresa Latina-Thompson, através da qual veio a criar com Francisco Pinto Balsemão a secção portuguesa da International Advertising Association. Já doente no 25 de abril de 1974, não veio a lecionar na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, para a qual foi aprovado. Publicou o seu último estudo, Literatura e Luta de Classes: Soeiro Pereira Gomes, em 1975. Acabou por falecer com 57 anos, e dele afirmou o poeta José Gomes Ferreira: «Um dia, quando se apagarem certas paixões compreensíveis, se medirá numa balança de cristal o que a cultura portuguesa ficou a dever a este homem».
Referências
- ↑ Memória de África [1]
Ligações externas
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