15-03-2022Antonio Borges Sampaio. História de um imigrante por Eduarda FagundesNo afã da luta pela vida e fortuna, o Homem torna-se um tanto indiferente ao passado, visualizando e direcionando suas atenções quase que exclusivamente para o futuro. Talvez seja por isso que os ocupantes do novo mundo, aqueles que deixaram para trás as suas raízes, saibam tão pouco de seus “avós”. Mas nós que chegamos bem depois e que já encontramos a cama feita, devemos resgatar-lhes a memória.
Nos tempos do Brasil Colônia e Imperial, quando as estradas para o interior foram abertas e a região pelos brancos ocupada, Uberaba tornou-se uma das vilas mais conhecidas do oeste das Minas Gerais. Sua situação geográfica de ligação com o sertão, trouxe-lhe um desenvolvimento substancial nas áreas do comércio e pecuária.
.Em 1847 um jovem imigrante de 19 anos chegou às terras da antiga Farinha Podre e com ele chegaram ares benfazejos que alavancaram estas terras mineiras. Chamava-se ANTONIO BORGES SAMPAIO.
Segundo o historiador Hildebrando Araújo Pontes (contemporâneo e parente), Antonio Borges Sampaio nasceu a 2 de janeiro de 1827 na Quinta do Pego, Freguesia de São Gonçalo de Valença do Douro , Província da Beira Alta , Portugal. Foi batizado em Valença do Douro, sendo seus padrinhos José Roberto e sua mulher Dona Maria Matilde da Piedade, por procuração de Antonio Pereira da Silva Cardoso e sua mulher Dona Maria Benedita Pereira da Silva, moradores de Passos, Trás dos Montes. Foram seus pais Joaquim Borges Pereira e Dona Joana da Silva Gouvêa, e avós paternos Manuel Borges Pereira e Anastácia Maria Sampaio, naturais da Comarca de Vila Real, Província de Trás dos Montes. Órfão de pai e mãe aos 6 anos, foi criado até os 16 pelos tios (Manuel Rocha e Maria Borges) de maneira carinhosa mas com dificuldades, pois essa família tirava do trabalho do campo o seu sustento. Fez seus primeiros estudos na escola pública e logo foi na terra trabalhar.
Em 11 de agosto de 1844, resolveu tentar a sorte no Brasil, mesmo a contragosto de seus tios. Embarcou na cidade do Porto e desembarcou no Rio de Janeiro, dirigindo-se pouco tempo depois para Santos. Nessa cidade foi admitido como caixeiro na Casa Comercial de Francisco Ferreira Zimbres (comerciante de sal grosso) que vendo o desenvolvimento e excelente caráter de Antonio comissionou-o a vir com ele a Uberaba, a cavalo, para comerciar sal. Em Ponte Alta , Francisco Ferreira Zimbres abriu uma casa de comércio (1848) e colocou Antônio Sampaio na sua direção. Quase um ano depois Antonio Sampaio volta a Santos, entrega o negócio ao patrão e vem para Uberaba, onde estabelece uma casa de Comércio (Elói & Sampaio) com o Alferes Antonio Elói Cassimiro de Araújo, futuro Barão de Ponte Alta, até 1857, quando desfaz a sociedade e compra a parte do sócio.
Sua retidão de caráter e conduta granjeia a simpatia de Maria Cassimira e da família Araújo. Em 24 de junho de 1849 casa-se com ela no Desemboque e monta casa em Uberaba. Quando nasce seu primeiro filho, Hermógenes, em 23 de novembro de 1850, toma a nacionalidade brasileira e assume a vila dedicando a ela todo o seu profícuo labor e arte, até o fim dos seus dias em 26 de abril de 1908.
Antonio Borges Sampaio foi um trabalhador incansável, estudioso, curioso e autodidata, trouxe para Uberaba a primeira farmácia, o relógio da torre da Igreja Matriz de Uberaba, ajudou a trazer a imprensa, e promoveu o senso da vila que tornou possível a elevação a cidade. Foi comerciante, farmacêutico, advogado aprovisionado, curador geral de órfãos, literato, jornalista, escritor, historiador, promotor de justiça, político, promotor da Câmara Municipal, fez parte de várias e importantes Associações de letras e classes, escreveu para vários jornais do Rio de Janeiro e de Uberaba, divulgou a região através das suas pesquisas e historiografias. Manteve um pequeno observatório meteorológico e descreveu o clima uberabense. Na guerra do Brasil/ Paraguai trabalhou pelo Brasil. Exerceu a função de diretor escolar e de subdelegado. Quando faleceu deixou a maior biblioteca particular conhecida na região.
Este homem não pode e não deve se esquecido pelos filhos naturais e os dotados de Uberaba, pois foi um exemplo de dinamismo e amor a uma terra que adotou como sua segunda pátria.
Maria Eduarda Fagundes Nunes
Dados bibliográficos:
BORGES SAMPAIO UBERABA; HISTÓRIA, FATOS E HOMENS (edição Academia de Letras do Triangulo Mineiro- 1971). HISTÓRIA DE UBERABA (Hildebrando Pontes- edição Academia de Letras do Triangulo Mineiro-1978) A OESTE DAS MINAS (Luis Bustamante Lourenço) Biblioteca da UFU DESENBOQUE DOCUMENTÁRIO HITÓRICO E CULTURAL (Fundação Cultural de Uberaba- Arquivo Publico de Uberaba)
__._,_.___ |