21-02-2022UM ANTIFASCISTA Português que lembramos hoje : Rómulo de Carvalho(1906-1997)
António Gedeão: Poema para GalileuEstou olhando o teu retrato, meu velho aquele teu retrato que toda a gente em que a tua bela cabeça desabrocha e floresce sobre um modesto cabeção de Aquele retrato da Galeria dos Ofícios da tua velha Florença. (Não, não, Galileo! Eu não disse Santo Ofício. Disse Galeria dos Ofícios.) Aquele retrato da Galeria dos Ofícios da requintada Florença. Lembras-te? A Ponte Vecchio, a Loggia, a Piazza della Eu sei... Eu As margens doces do Amo às horas pardas da Ai que saudade, Galileo
Olha. Sabes? Lá em Florença está guardado um dedo da tua mão direita num relicário. Palavra de honra que está! As voltas que o mundo dá! Se calhar até há gente que pensa que entraste no calendário.
Eu queria agradecer-te, Galileo, a inteligência das coisas que me Eu, e quantos milhões de homens como eu a quem tu esclareceste, ia jurar - que disparate, Galileo! - e jurava a pés juntos e apostava a cabeça sem a menor hesitação que os corpos caem tanto mais depressa quanto mais pesados são.
Pois não é evidente, Galileo? Quem acredita que um penedo caia com a mesma rapidez que um botão de camisa ou que um seixo da praia? Esta era a inteligência que Deus nos
Estava agora a lembrar-me, Galileo, daquela cena em que tu estavas sentado num escabelo e tinhas à tua frente um friso de homens doutos, hirtos, de toga e de capelo a olharem-te severamente. Estavam todos a ralhar contigo, que parecia impossível que um homem da tua idade e da tua condição, se estivesse tomando num perigo para a Humanidade e para a Civilização. Tu, embaraçado e comprometido, em silêncio mordiscavas os lábios, e os rostos impenetráveis daquela fila de sábios.
Teus olhos habituados à observação dos satélites e das estrelas, desceram lá das suas alturas e nas faces grávidas daquelas reverendíssimas E tu foste dizendo a tudo que sim, que sim senhor, que era tudo tal qual conforme suas eminências e dirias que o Sol era quadrado e a Lua pentagonal e que os astros bailavam e entoavam à meia-noite louvores à harmonia universal. E juraste que nunca mais repetirias nem a ti mesmo, na própria intimidade do teu pensamento, livre e aquelas abomináveis heresias que ensinavas e escrevias para eterna perdição da tua alma. Ai, Galileo! Mal sabiam os teus doutos juízes, grandes senhores deste pequeno que assim mesmo, empertigados nos seus cadeirões de braços, andavam a correr e a rolar pelos espaços à razão de trinta quilómetros por segundo. Tu é que sabias, Galileo Galilei. Por isso eram teus olhos por isso era teu coração cheio de piedade piedade pelos homens que não precisam de sofrer, homens ditosos a quem Deus dispensou de buscar a verdade. Por isso estoicamente, resististe a todas as torturas, a todas as angústias, a todos os enquanto eles, do alto inacessível da suas foram caindo, caindo, caindo, caindo, caindo e ininterruptarnente, na razão directa dos quadrados dos tempos. Clique na hiperligação http://www.dcsa.fct.unl.pt/vdt/docs/movies/AntonioGedeao_PoemaParaGalileo.wmv para abrir o URL.
Área de anexos Visualizar o vídeo Poema para Galileu . António Gedeão do YouTube Poema para Galileu . António Gedeão
|