Iclas - Instituto de Culturas Lusófonas
Antonio Borges Sampaio


04-07-2007

Os Extremos que não se tocam Francisco G Amorim


do Brasil   -    Francisco G. de Amorim *

  

Aproximar as pessoas, fazer com que se compreendam e se respeitem, que se entendam e vejam como irmãos, iguais, deveria ser o objetivo do homem desde que começou a falar, a pensar, a distinguir-se dos que continuaram a ser os irracionais.

Mas o que continuamos a constatar é que, apesar de desde tempos imemoriais sempre terem existido ricos e pobres e classe média, cada ve os ricos são mais ricos, os pobres mais pobres e a classe média sobrenada afogada em dívidas para imitar os ricos.

As artes crescem de valor no inverso da sua inutilidade! O que um futebolista chega a receber por ano é mais do que o conjunto de duas centenas de milhares de trabalhadores (200.000 a USD 50 por mês, quando ...) que se esgotam para tirar do chão alguma coisa com que enganem o estômago, uma pintura ou uma música por vezes outro tanto, uma entrada para um espetáculo de rock ou funck pode custar mais do que ganha uma família inteira durante um mês em muitos cantos de África e da América Latina, e assim se continua a tirar de onde há pouco, ou pouquíssimo, para onde há muito mais do que suficiente e... inútil.

Um miserável frasquinho com meia dúzia de gotas de perfume vale, não, não vale, mas custa mais do que uma centena de frangos ou uma carga de legumes. Talvez um milhar de molhos de couve ou agrião ou uma tonelada de batatas!

Correm as indústrias atrás de novidades e modernização, já sem falar nas de armamento e drogas, com sofisticação cada vez maior, para despertar no idiota civilizado a volúpia da compra, para ter, para mostrar ao rico que “também tem”, e continuam aqueles que produzem o indispensável, a comida, a sofrer pela sobrevivência. O supérfluo valoriza-se num crescendo geométrico e usa a mulher, o sexo, como chamariz para a venda de automóveis, relógios, armas e outros bens que bem podiam ser desnecessários.

O sexo é hoje uma das maiores fontes de atração de dinheiro dos incautos. Assim a tara sexual se desenvolve, as mulheres que tanto lutaram pela emancipação viraram objetos comerciais de desejo e prazer e depois clamam pela legalização do aborto!

O homem é o único animal em toda a natureza que passou a ter relações sexuais não para perpetuar a espécie, mas pelo simples prazer de o comentar. O homem e a mulher. Os restantes seres defendem as suas crias com a própria vida, e o homem mata-as antes mesmo delas abrirem os olhos para o mundo.

Da máxima de Amor, faz aos outros o que queres que te façam, evoluíram, os mais “sabidos”, para faz para ti o melhor, com o mínimo de dano aos outros, para chegar ao descalabro do faz qualquer coisa em teu proveito e o  outro... que outro???... que se dane!

Perdeu-se a vergonha. Reina a sem vergonhice. Bradam alguns no deserto dos ouvidos entupidos de promessas e de dinheiro, e os extremos vão-se afastando, como dizem que o Universo se continua a expandir. Até onde? Ou, até quando, se a previsão é de um dia o Universo começar mais uma vez a se concentrar, até se transformar num buraco negro e voltar ao Big Bang?

Parece que não se lê e medita mais Buda, os Vedas, o próprio Cristo que nos tentou salvar, nem sequer Tolstoi, que numa carta a um amigo afirmava: “... de todas as ciências que o homem pode ou deve saber, a principal é a ciência de viver fazendo o mínimo possível de mal e o máximo possível de bem.”

 * Francisco G. de Amorim

Rio de Janeiro 26 jun. 07