Iclas - Instituto de Culturas Lusófonas
Antonio Borges Sampaio


01-08-2002

Embaixada Galega da Cultura-Renovação- Núm 12- Junho.Julho.Agosto 2002


RENOVAÇÃO

         Boletim cultural e informativo da Embaixada Galega da Cultura

         Núm.13 Setembro, Outubro, Nov. de 2002                 embgalega@hotmail.com

Redação: apartado dos correios, 24034-28080 Madrid.  monchodefidalgo@terra.es


Conselho: Moncho de Fidalgo, Tomé Martins, Suzana Couceiro, R. Queixomariu Fidalgo, Roi da Bolandeira, J.L. Galego, J. Luís A.

Depósito Legal, Ou-187-1991

 

Nem Renovação nem as pessoa que compõem a

Embaixada Galega da Cultura se responsabilizam  das opiniões individuais assinadas ou de grupos identificados cujas

idéias possam ser referenciadas ou comentadas

sem qualquer cumplicidade.

                  Nota do Conselho.

 

 

EU VI QUEIMAR SARAJEVO

 

 7ª e última entrega, ISBN: 84-607-4833-2

 

Os fumadores iam quase todos dormitando... Já não havia fumo estúpido quando o autocarro rolava pelas estradas ainda da Espanha, eram as vinte e três horas... O autocarro continuava a devorar na estrada.

     Quando eram as duas da madrugada “O Mendigo” segue a ler, ajudado por uma pequena luz individual que o autocarro oferece, a quem a quisesse usar, e está situada acima da cabeça de cada viageiro:

     “... A dúvida do Doutor é um relato de muitos dos que consta o livro do Jorge L. Argis da Pena, que nestas horas dormita nos primeiros assentos do autocarro. No vídeo passam um filme: La misión...

     No mendigo ninguém repara, quem ia dizer que ele e o próprio Jorge nasceram no mesmo lugar, foram à escola juntos e agora o não conhecia.

 

     As pálpebras do Ricardo, “O Mendigo”, iam cedendo ao esforço da leitura nocturna. As indicações na auto-estrada anunciavam que restavam quarenta quilômetros para chegar a

 

 

 

CONTEÚDOS DESTE NÚMERO:

 

Eu vi queimar Sarajevo.

Breogão, lenda ou realidade?
Sentidos e des-sentidos da Lusofonia.

Cousas da história.

Ignorância ou premeditação?

A copa do mundo fala português!!

Mais quanto ao português do Brasil.

 

 

 

Lisboa. Nesta altura da viagem o motorista desligou o ar refrigerado e a temperatura aumentou de jeito considerável.

     Tem piada este jogo dos espiões... “O Mendigo” sente-se no interior de uma personagem do Grahan Green ou do Jon Lecarré. Refugia-se com o livro de relatos do próprio autor a quem investiga, entre outros! Obviamente ao livro colocou-lhe uma sobrecapa branca sob a que escreveu o nome do proprietário: Richard Windsor... fica muito bem quando alguém possa observar um mendigo, ele está a ler... Também serve para ocultar um bocadinho o rosto.

     E isto é Lisboa. Rua do Casal Ribeiro, Av. Da Liberdade... “O Mendigo” encaminha para o Chiado, bairro alto, A Brasileira... Os turistas tiram fotografias com o Pessoa de bronze para logo presumir com os amigos... Quem não conhece o Pessoa... “O Mendigo” vai observando pelas ruas.

     - Senhor, faça o favor... -“O Mendigo” requeria a presença dum camareiro no interior do café “A Brasileira”. Mas este lhe não presta atenção. Os mendigos são ignorados também na Lisboa eterna!

     “O Mendigo” sentado numa cadeira tomava notas acima duma mesa ante a indiferença dos presentes. Ordenava as impressões tiradas do que lhe tinha escutado no interior do autocarro aos três viageiros que vinham a participar no encontro de associações lingüísticas.

     Todas aquelas notas de interesse haviam de ficar no informe que entregaria às autoridades de “La Casa”... Por isso lhe pagavam e para isso lhe seguiam a respeitar a nova identidade. Richard Windsor! E ainda achava normal, não considerava estranho que os organismos do Estado quisessem estar informados em todo o momento de como pensavam aqueles que não gostavam da filosofia do sistema. Ele também concordava em defender a idéia de que os galegos, assim como os outros povos não castelhanos, haviam de ser espanhóis mas não castelhanos! E achava que o atual Estado mais bem obrigava a ser-se castelhano para passar por bom espanhol! Mas considerava lícito o trabalho encomendado, ele não podia fazer outra cousa...

     No primeiro dia do encontro, naquelas primeiras palestras, o Richard, vestido em seu disfarce, anotava tudo o importante que este ou aquele iam dizendo... Havia um grupo de participantes que pronunciavam discursos muito radicais, outros que só se ocupavam no assunto da língua.

     “Em parte da Bélgica falam a mesma língua que na Holanda e não por isso é que andam a tiros para mudar a fronteira de lugar...”

     Assim é que outro dos participantes queria significar que ele era um estudioso da língua e da história, não um político... O Richard faz asinha uma fotografia das diferentes filosofias e permite-se uma anotação de recomendação para quem o quiser ler.

     A sala onde se celebravam as intervenções é uma aula da “Universidade Popular”... Com grandes janelas pelas que se pode olhar a ponte de Lisboa, a ponte de Salazar... As cadeiras na sala são pouco confortáveis, e ainda o espaço grande demais e um bocadinho desajeitado.

     O primeiro dia termina o encontro com muito revôo de imprensa e pouca participação de público português. “O povo português é que não sabe lá muito desta história - acreditava um jornalista,- mas quando ele saiba, asseguro-lhes que vai reagir positivamente...”

     O Richard fora dar com seus ossos a um albergue para mendigos perto do porto de mercadorias, os mendigos não são admitidos nas pousadas... No encontro olhadas escrutadoras se cruzavam frente à sua pessoa.

     - Quem é esse moreno?

     - De onde é que saiu esse homem?

     - Parece judeu, é evidente, só havia que o ouvir falar da igreja católica!

     Mas ele ignorava-os a todos e continuava a dar a “nota desafinada no concerto da reintegração...”

     Às sete da manhã, no dia seguinte, o Richard lia no livro do Jorge, aguardando que começasse o encontro. Sentado num banco num parque grande onde havia uma preciosa feira do livro.

     O segundo dia do encontro ia-se celebrando sem muito sucesso...  “O Mendigo” seguia escrutando todo o que ali se dizia e também ele falava, com certa incoerência. Havia que ser-se um mendigo com todas as da lei... Sua missão estava a piques de terminar em Lisboa, as notas estavam tomadas, os jornais recortados, isso sim, estava surpreendido do espaço que os jornais de Lisboa dedicaram ao acontecimento, evidentemente o assunto era de interesse para os portugueses. Agora lembrava a anedota da noite anterior, oito pessoas foram cear juntas... Todas participantes no “Encontro”. Cada um contava cousas, os galegos a falar com seu sotaque içado de castelhanismos e os portugueses dando ritmo àquela sinfonia desafinada.

     Os anfitriões ora contavam cousas acontecidas nas suas viagens à Galiza, ora anedotas sucedidas polo mundo... “O Mendigo” ali no meio... Também ele a contar sucessos, entre prostitutas e gentes de mal viver... Mas ele é que se não dedicava à delinqüência, só tivera problemas com o álcool... Mas ele nos seus anos normais for uma ilustre personagem!

     E chegou a hora de pagar... Fizeram-se as contas a repartirem-se entre as oito pessoas... Tantos escudos entre oito?

     - Não, desculpem... São vocês sete, eu não tenho dinheiro...- disse com cara de circunstâncias “O Mendigo”.

     - Tranqüilo, calmo, não se passa nada, - disse um participante galego que estudava em Lisboa.

    

 

     Já não ficava em Lisboa nenhum dos intervenientes no “Encontro”, polo menos aqueles que podiam reconhecer no Richard Windsor... agora requintadamente vestido tomava café na Brasileira. Queria saber se o camareiro o ia ignorar como quando no primeiro dia...

     - Jovem, faça o favor!

     - Diga o senhor, que vai tomar?

     - Um copo de Porto.

     - Muito bem, senhor.

     E continuou a ler no último relato que começara havia um tempo e que por circunstâncias não terminara.

     A velha Constantinopla, a Ponte Atatür e também a Galata e as impressionantes cúpulas e minaretes próximos... Todas estas construções históricas vinham agora à mente do Richard Windsor. A Mesquita de Solimam, o Palácio de Topkapi... Istambul, o Bósforo, Europa e além Ásia. E não lhe deixaram desfrutar de todo isto que de certo levava muitas ganas de fazer um verdadeiro percorrido minucioso. Agora na Brasileira repousava, cavilava... É o quarto dia que vinha perguntar ao Pessoa o que havia de fazer... Se regressar à Espanha para entregar o informe previsto às autoridades ou de novo fugir?  …Desde a borda do abismo olhei a todos aqueles que não têm nome...

     Era algo dum poeta Arménio que ele tinha lido em algum lugar, e possivelmente do século XII?

     E agora ele ali, só, sentia que tampouco tinha nome. A dúvida, a eterna dúvida do Ricardo Aveiro retornava à sua confusa mente. Agora o tabuleiro de anúncios dos centros onde ele estudara regressava imaginário e cruel. Tinha dúvida!

     O café da Brasileira estava cheio de turistas, também havia muitos portugueses... Numa praça, perto do lugar, uma orquestra interpretava peças de música tradicional do país. E numa montra de cassetes próxima do lugar um altifalante distorsionava um fado belo e triste...

     Que me não digam que a saudade não é uma característica comum dos “Atlantas”?

    

     O sol queima em Lisboa. O Ricardo folheia agora num jornal as notícias internacionais. Na Bósnia-Herzegovina tudo continuava igual, os sérvios seguiam não aceitando nenhum acordo de paz que significara a devolução de território conquistado. Os muçulmanos tinham melhorado muito militarmente, cousa que agradava ao Richard, agora levavam a iniciativa militar, e ainda recuperaram território no Norte.

 

O texto inteiro desta novela está disponível na BVG (Biblioteca Virtual Galega) da Universidade da Corunha:

http://bvg.udc.es/ficha_autor.jsp?id=JosRodri&alias=José+Ramom+Rodrigues+F

Animamos aos escritores reintegracionistas a se pôr em contato com esta instituição…


BREOGÃO, LENDA OU REALIDADE?

Tiramos isto dum e-mail que amavelmente nos encaminha o “nemetobriga”…

 

nemetobriga@hotmail.com

Algo sobre o nosso patriarca celta, mítico, Breogão
Breogão foi um poderoso chefe duma daquelas tribos dos celtas que os
latinos chamavam artabros, que designaram também com o nome de Portus
magnus Artobrum o atual porto de A Corunha, como também chamaram
Brigantium esta cidade.
A cidade estava situada numa pequena ilha, hoje unida ao território
pela parte moderna construída sobre o istmo de areia, e nela governava
Breogão. As pequenas barcas recobertas de couro abrigavam-se na
pequena enseada de santo Amaro.
Ali perto, numa das ribeiras da costa que forma uma colina de pouca
altura, Breogão fez construir uma grande torre na parte da ilha mais
próxima do mar aberto. Aquela torre poderia servir de guia aos
navegantes. poderia também, acendendo na sua elevada plataforma uma
fogueira, transmitir por grandes distancias, durante a noite certos
sinais, como por exemplo a chegada daquelas grandes naves de
comerciantes fenícios que vinham comerciar com os habitantes da
Galiza.
Uma tarde de outono, quando a atmosfera era clara e transparente, Ith,
o filho de Breogão, subiu ao alto da torre e desde ali observou o
horizonte. Na longitude do mar, alem dos confins onde parece que se
juntam as águas com o céu, pareceu-lhe divisar entre as brumas da
distancia outra terra desconhecida. o desejo de saber o que havia
naquele lugar até então ignorado fez nascer na sua imaginação a idéia
duma apaixonante aventura.
Pediu o consentimento do seu pai para organizar uma expedição e
conseguiu. A expedição realizou-se mas antes da partida Breogão
recomendou a Ith que fizera a viagem montado no seu cavalo, sem descer
dele até à chegada; assim só podia ter a certeza de voltar à sua terra
com felicidade.
E deste modo foi como os celtas da Galiza levarão a Irlanda a sua
civilização. por isso se encontram em Irlanda as mesmas citânias ou
castros de casas circulares, iguais aos do nosso pais, e os mesmos
emblemas de ouro dos chefes, e semelhantes nomes de rios e lugares, e
até a mesma gaita, com parecidos temas musicais.

 

 

SENTIDOS E DES-SENTIDOS DA LUSOFONIA


Fernando Santos Neves
Da "Lusofonia Lusófona" à "Lusofonia Universal" (parte I)

Em 1968 publicava eu, aqui em Luanda, o meu primeiro livro, intitulado
"Ecumenismo em Angola: Do Ecumenismo Cristão ao Ecumenismo Universal".
Censurado pela Igreja Católica Angolana e pelo Governo da Nação Portuguesa
(Seria porque, entre outras coisas, eu afirmava que, "por absurdo que
pareça, Angola situa-se em África!" e se davam à luz os "perigosos" textos
das "Declarações Universais dos Direitos Humanos", incluindo a
"perigosissima" declaração contida na Encíclica de João XXIII "Pacem in
Terris"?), tal livro constituiu a gota de água que levou ao meu exílio, de
imediato, das terras de Angola e, a seguir, das terras de Portugal.

Mais de trinta anos passados e no momento em que todas as esperanças de
futuro são permitidas para estas maravilhosas terras e gentes de Angola, não
é sem uma grande emoção que me vejo nos mesmos lugares a falar
fundamentalmente das mesmas coisas ou seja, do que, glosando o título do
livro de então, eu poderia chamar: "Lusofonia em Angola: Da Lusofonia
Lusófona à Lusofonia Universal", o que poderia ser outra maneira de dizer
"Sentidos e Des-sentidos da Lusofonia". Parece mera retórica, mas veremos,
espero, que não é.

Á semelhança do que o filósofo Kant pretendeu fazer tanto para a "Razão
Pura" como para a "Razão Prática", e até para responder fundamentadamente
aos fundamentados discursos incómodos sobre todas as "lusofonias suspeitas,
patrioteiras, colonialistas e outras que tais", há que elaborar a "Crítica
da Razão Lusófona", ou seja, estabelecer as condições de legitimidade, de
possibilidade, de pertinência e de urgência da construção da Lusofonia, as
quais, também Kantianamente, poderiam intitular-se de "Prolegómenos a toda a
Lusofonia Futura".

Da realidade e projecto de tal "Lusofonia", "Espaço Lusófono", "CPLP",
"União Lusófona" ou designações semelhantes não devem considerar-se ausentes
nem as diásporas mais históricas simbolizadas por Macau e Goa nem as
diásporas mais modernas dos Emigrantes Lusos e demais Povos Lusófonos
espalhados pelo Mundo, a começar pelas Gentes Africanas a viver em
território português e que, no mínimo, deveriam ter direitos de cidadania
idênticos às pessoas provenientes dos Países Europeus. Mesmo que, para tal,
fosse necessário afrontar Bruxelas e Schengen e outros "Europeismos" e
"Europeíces"!

A Lusofonia não pode ser, mas não está automaticamente excluído que seja ou
se torne, uma versão retardada ou camuflada dos colonialismos políticos,
económicos e culturais de antanho, ou de agora ou do futuro. E, por exemplo,
certos apregoados lusos "regressos a África" e a outros sitios poderiam
fazer lembrar alguns desses ainda remanescentes fantasmas.

A Lusofonia deverá igualmente e consequentemente implicar a superação
definitiva das clássicas ideologias do género do "luso-tropicalismo", do
"bom colonialismo português", do "não-racismo brasileiro", do "colonialismo
anti-económico" e quejandas, e designadamente desses dois indestrutíveis
mitos que dão pelo nome do "passado glorioso de Portugal" e do não menos
"glorioso futuro do Brasil".Embora, por razões diversas e ultrapassadas as
suas mitideologias e os seus provincianismos, de que já falaremos, Portugal
e Brasil possam e devam ser os primeiros grandes motores da Lusofonia e da
CPLP e sejam os primeiros grandes responsáveis históricos do seu êxito ou do
seu fracasso. Oxalá as actuais classes dirigentes de Portugal e do Brasil
estejam ao nível deste desafio histórico, o que não parece, visivelmente,
ser o caso, para desgraça de todos os lusófonos. Aliás, Lusofonia e C.P.L.P.
( e não gostaria de ter de acrescentar outros nomes e outras siglas, como o
Instituto Internacional de Língua Portuguesa, a Associação das Universidades
de Língua Portuguesa, etc...) quase não passam ainda, na linguagem dos
antigos filósofos medievais, de "entes de razão sem fundamento na realidade"
("entia rationis sine fundamento in re")! Caberá a todos os que pensam que o
projecto vale a pena demonstrar que somos capazes de as transformar em
"entes reais e vivos", com lugar e papel insubstituíveis na realidade
geopolítica Portuguesa, Brasileira, Africana, Timorense, Europeia,
Americana, Asiática e Mundial!

Especificamente sobre a "Crítica da Razão Lusófona", essencial é a superação
de todos os provincianismos, tanto os mais grosseiros de isolamento e de
atraso como os mais subtis de heterocentramento e de alienação, que afectam,
com maior ou menor consciência e virulência, os diversos espaços do Espaço
Lusófono ou os diversos Países e Povos de Língua Portuguesa, e de que, a
seguir, apresento uma pequena lista meramente exemplificativa.

1. Relativamente a Portugal e para além de um "imperial-saudosismo" à prova
de bala", que releva mais da psicanálise que de qualquer análise económica
ou política ,relembro o nauseabundo provincianismo que, desde há tempos,
venho chamando a "doença infantil do europeísmo" ou a "concepção
novorriquista, pacóvia, discipular e Schengeniana da integração europeia de
Portugal", como se, por ser e para ser Europeu, Portugal devesse deixar de
ser Português e Lusófono e como se, ao contrário, e se não houvesse outras
razões ainda mais válidas, até não fosse a "Lusofonia", retomando as
palavras de Almeida Garrett, o grande e específico peso de Portugal "na
balança da Europa" e do Mundo.

2. Relativamente ao Brasil, mencionarei aquele provincianismo a que
ultimamente chamei, por analogia, "granderriquismo ilusório e
pseudorrealismo economicista" de alguns novos senhores do País, que quase
lamentam o facto e quase se envergonham de serem lusófonos, não se dando
conta de que, na geopolítica multipolar que se desenha e se deseja, a
"Lusofonia" constitui chance única para o Brasil vir a ser alguém no
concerto das potências do século XXI. Não haverá ninguém que consiga abrir
os olhos dos Lusófonos Brasileiros a este axioma tão óbvio como essencial:
Sem Brasil não haverá Lusofonia, mas também sem a Lusofonia que interessa
não haverá Brasil que venha a interessar! E quando tomarão os Brasileiros a
sério a frase terrível do seu Presidente, Fernando Henrique Cardoso: "O
Brasil não é um país subdesenvolvido, é um país injusto", até porque, com as
estruturas sociais existentes, dificilmente deixará de ser o eterno "país de
nenhum futuro".

Será que as celebrações dos quinhentos anos do seu "achamento" pelos
Portugueses terão conseguido levar o Brasil a "reachar-se lusofonamente" e,
sobretudo, "humanamente" a si próprio?

3. Relativamente aos Países Africanos, lembrarei, por um lado, o
provincianismo da não-resolução ou da re-emergência de certos complexos (e
não só os clássicos de Édipo) e, por outro lado, o provincianismo típico de
certas elites pseudo-globalizadas, des-africanizadas e des-humanizadas.

O Colonialismo ou Imperialismo foi, certamente, o "último estádio do
Capitalismo" (Lenine dixit!), o Neocolonialismo foi, certamente, o "ultimo
estádio do Imperialismo" (dixit Nkrumah!), um certo Desenvolvimento e uma
certa Cooperação e uma certa Lusofonia poderão ter sido ou querer ser o
"último estádio do Neocolonialismo" (dixerunt alii!), a tão badalada
"Globalização Contemporânea" poderá ser ou vir a ser o "último estádio" de
todas estas explorações e alienações (timent multi!), fenômenos como guerras
e catástrofes naturais poderão ter "explicado" coisas intoleráveis; mas nada
justifica e nada desculpa muitas das desgraças africanas do nosso tempo como
nada justifica e nada desculpa o comportamento de certas elites
africano-lusófonas.

Para dizer que não é coisa nenhuma, um dos últimos números da revista
"Angolê" terminava um justíssimo ataque ao Governo Português, dizendo,
prosaicamente, que "Lusofonia rima ... com utopia" (Angolê, Revista de
Sociedade e Cultura, Março 2002, pp.66). A "Lusofonia" aqui avançada, essa
tem que rimar, poética mas realisticamente, com a utopia a que eu, aqui
mesmo em Luanda também há muitos anos, dei o nome de "pantopia" dos direitos
humanos, da democracia e do desenvolvimento económico-social de todos os
Países Africanos de Língua Portuguesa.

4. Relativamente à Galiza (de certo modo, com a Região Norte de Portugal, a
mãe de todas as Lusofonias!) e reconhecendo embora todo o peso da história,
darei o exemplo do provincianismo que designei de "questão espanhola" (a não
confundir com a "questão do Castelhano", que é toda uma outra questão) e que
poderíamos traduzir na seguinte fórmula: a Galiza, por ser e para ser
Lusófona, por ser e para ser um espaço integrante e cativo do Espaço
Lusófono e membro da C.P.L.P., não precisa minimamente de pôr em causa a sua
pertença ao Estado Espanhol, no quadro da grande Região Transfronteiriça
Européia do Noroeste Peninsular, de que a cidade do Porto é reconhecidamente
a Capital incontestada (não se entendendo, aliás, porque não faça parte das
"Cidades Capitais" componentes da UCCLA - União das Cidades Capitais de
Língua Portuguesa).

Muitos Galegos já começaram a percebê-lo, a maior parte dos Portugueses
(sobretudo, Lisboetas e até alguns Nortenhos!) e dos outros Lusófonos, ainda
não. A propósito: onde estão os representantes galegos na "AULP - Associação
das Universidades de Língua Portuguesa"?

5. Relativamente ao caso de Timor, permito-me começar por citar palavras
minhas escritas em 1996, felizmente, na substância mas não sob todos os
aspectos, inactuais:

"Num mundo que proclama colocar no centro das suas preocupações o respeito e
a implementação dos Direitos Humanos e especificamente o Direito à
Autodeterminação dos Povos, a situação de Timor - Leste é um dos pecados que
bradam aos céus (infelizmente, mais que à terra!) e um dos escândalos
intoleráveis do nosso tempo: uma CPLP que, por pensamentos, palavras, obras
ou omissões, esqueça ou adie a solução do "caso timorense", continuando a
permitir que a força do direito fique subordinada ao direito da força, será
a negação prática permanente da sua reclamada existência e finalidade. A
inclusão explícita de Timor-Leste entre os membros da CPLP aparece como a
prova mínima da seriedade activa e passiva deste projeto lusófono."

Será que tanto Portugal como a C.P.L.P. e Timor Lorosae já perceberam que os
seus verdadeiros interesses humanos e estratégicos, ao contrário do que , a
curto prazo e a curtas vistas possa parecer, a lúcido e definitivo prazo
passam pela Lusofonia? Xanana Gusmão disse e Xanana Gusmão é que sabe!

Relativamente a todas as Diásporas Lusófonas (e até às simplesmente
Lusófilas ou Lusótopas) e sem prejuízo da integração geral nas Sociedades em
que vivem, que enormes tarefas e potencialidades recíprocas no sentido de
reforçar uma identidade transnacional e transgeográfica, que vá além dos
clássicos três "F" do Futebol, do Fado e de Fátima e que, sabendo que a
Lusofonia não é só nem sobretudo uma questão de língua, saiba também tirar
partido do facto de ter como símbolo e instrumento uma das poucas "línguas
universais" do século XXI! Para quando o oficial reconhecimento efectivo de
uma efetiva "cidadania comum lusófona" que faça passar a CPLP a algo mais
do que a pouco mais que nulidade real que ainda não deixou realmente de ser?
Até quando, no âmbito de todos os Países Lusófonos e respectivas estruturas
governamentais, tudo o que releva da "Cooperação Inter-Lusofona", continuará
a relevar do "Ministério dos Negócios Estrangeiros" ou das "Relações
Exteriores"? Será necessária uma qualquer viagem entre os Países Lusófonos
para nos darmos conta do trogloditismo das respectivas inter-relações?
Quando é que, não os "cidadãos lusófonos" (que é coisa que não existe) mas,
pelo menos, os "cidadãos dos Países Lusófonos" tornarão suas as palavras
furiosas de Cícero contra Catilina e dirão : "Quousque tandem abutere
patientia nostra... Até quando continuarão todos os Estados de Língua
Portuguesa e respectivas burocracias a abusar da nossa paciência lusófona?"


Fernando Santos Neves

Reitor da Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias

 

 

COUSAS DA HISTÓRIA

 

 

Os interesses que antecederam a fundação de Portugal e que deixaram a Galiza dominada por Leão e Castela

As relações de parentesco explicam o papel da abadia borgonhesa nos acontecimentos políticos relacionados com D. Afonso VI e com D. Henrique , pois os monges tinham todo o interesse em promover a <<colocação >> dos seus protegidos em lugares de destaque na corte leonesa, para assim garantirem a manutenção da influência que haviam alcançado.

Os abades de Cluny como os papas e os seus auxiliares deram mostras de uma grande maleabilidade e de uma enorme capacidade para defenderem os seus interesses imediatos e a longo prazo, por meio de vários caminhos e processos, cuja racionalidade e coerência hoje percebemos mal. A unica coisa que se pode afirmar a este respeito, é que a cúria romana procurou constantemente sustentar na Península Ibérica, pelo menos desde a nomeação do arcebispo de Toledo como legado permanente para a Hispânia, uma autoridade capaz de intervir nos negócios eclesiásticos dos diversos reinos cristãos, sem deixar de, ao mesmo tempo, intervir também por meio de legados temporários, especialmente nomeados para desempenharem missões determinadas.

Além disso, é evidente o propósito genérico de a cúria papal promover a reforma eclesiástica iniciada com Gregório VII, justamente na década de 1080 e de incitar à luta anti-islâmica; daí resultava normalmente a estratégia de favorecer os reis e senhores que apoiavam com mais empenho os fautores da reforma e que demonstravam maior vigor na guerra santa.

Quanto à intervenção de Cluny, a interpretação deve ser análoga, mas com as variantes resultantes do interesse que os seus monges tinham de assegurar a continuidade das contribuições em metais preciosos, que lhe eram oferecidos pelo rei de Leão, o que podia levá-los a apoiar preferencialmente a política oficial de D. Afonso VI, como meio de garantirem a sua benevolência. A proteção concedida pelos monges negros aos filhos segundos da familia ducal e condal de Borgonha explica-se suficientemente pelo papel que eles podiam desempenhar neste ponto: por um lado, sustentavam pelas armas a causa da Cristandade, cuja a ameaça punha em risco a manutenção das vantagens adquiridas; por outro, funcionavam na corte como coadjuvantes dos interesses materiais dos interesses materiais dos monges.

Retirado da coleção História de Portugal de José Matoso.



 
IGNORÂNCIA OU PREMEDITAÇÃO

 

Reproduzimos cá um correio que nos chegou de um cidadão zangado com a imprensas “Madrilena”…

 

Sr. Director del diario deportivo MARCA:

Nos gustaría saber el porqué de esa actitud de su periódico de no
reconocer (sic) que en Brasil se habla PORTUGUÊS. ¿Les molesta que la novena
economía del mundo hable una lengua peninsular, nacida en Galiza, y que no
es el castellano, y para disfrazar el "hecho" ustedes le llaman "brasileño"?
¿Por que no argentino cuando se ocupen de Argentina?

Ver "Marca" –diario  deportivo- del día 1.7.02, en página 16 refiriendose
ustedes al diario francés L´Equipe dicen: "En primera página y en
brasileño(sic) informan del penta-campeón..."

Benigno N. Gonçalves

 

MAS A COPA DO MUNDO FALA PORTUGUÊS… que no final isso é o que lhes deveu amolar!!

Viva o Brasil!

 

NOSSOS LIVROS NA LIVRARIA TORGA

 

Seguindo o caminho do vento, (Irmandades)

Contos de fada em do maior, (Irmandades)

Luzia ou o canto das sereias, (Irmandades)

O Sereno, (Renovação Edições)

Contos do outono, (Renovação Edições)

Conversas com Atom Árias Curto… (Renovação Edições)

 

Todos eles os podes achar na livraria Torga:

http://www.torga.net/

 

LINGUA DO BRASIL…


A nossa língua recebe o nome de português. Assim é
chamada pelos seus falantes e no mundo. No Brasil,
embora o país seja o maior de todos os países
lusófonos, ela é chamada também de português, sendo
este nome o usado nos jornais, nos livros, na escola,
nas instituições e em geral em todos os meios para se
referir à língua falada no Brasil.

Lembrando isto, queremos pôr em conhecimento de todas
as pessoas que o nome dado na imprensa espanhola à
língua falada no Brasil é, quase exclusivamente, o de
"brasileño", contrariando a denominação que ela recebe
no seu próprio país. Esta prática persiste (salvo num
caso) a pesar das petições individuais enviadas para
que fosse usado o termo de "português".

O uso do nome de "brasileño" não é politicamente
inocente, e não nasce de um desejo de afagar o
sentimento de identidade dos brasileiros (se fosse
assim não lhe daríamos maior importância). A
insistência em chamar a língua do Brasil como
"brasileño", recusando o termo de "portugués", deve-se
à vontade de ocultar aos cidadãos espanhóis o caráter
internacional da língua portuguesa. Desta maneira
cria-se a falsa percepção de ser o português uma
língua falada apenas por dez milhões de pessoas no
estado vizinho de Portugal; e cria-se aliás a
impressão de ser o castelhano a única língua,
praticamente, da América Latina. Esta falsa impressão
serve a uma propaganda nacionalista encoberta, que
atualiza nos tempos de hoje um tradicional sentimento
de superioridade. Hoje não é infrequente que muitos
espanhóis pensem que o Brasil é um país "bilíngüe" em
espanhol e "brasileño", e não é um acaso que esta
desinformação exista.

Pomos de manifesto, portanto, a hipocrisia e a atitude
de superioridade nacionalista que subjaz no uso,
propositadamente inexato, do termo "brasileño" para
designar a língua do Brasil na imprensa espanhola.
Pedimos a essa imprensa que, pois não quer ser
recíproca no troco cultural com o mundo lusófono, no
mínimo não engane os seus próprios leitores, e lhes
permita saber que o português é a língua da população
brasileira.

Victor Meirinho

 

MAIS SOBRE A LÍNGUA PORTUGUESA no Brasil:

 

Prezado Juanjo, subdirector de *MARCA:
É para nós, os brasileiros, muito dessagradável comprovar como a imprensa de
Madrid teima na ideia de que Brasil não fala português... Queremos
lembrar-lhes, e isto é extensível ao total dos jornais espanhóis, que
Brasil, o país mais grande e poderoso da América latina (francês e português
também são latinos), é lusófono (TEM O PORTUGUÊS COMO LÍNGUA MATERNA E
OFICIAL) assim também Angola, Moçambique, Guiné, São Tomé e Príncipe, C. Verde, Timor, Malaca , Singapura, Macau, Portugal e até a Galiza, já que
"galego" é o português castelhanizado ou o português é galego evoluído...
Prezados colegas, se vocês querem o respeito dos brasileiros, respeitem-nos
também. Neste país estamos muito bem informados pelos nossos amigos galegos.
Cumprimentos de Brasil.
Ricardo Aveiro Windsor.
Escritor e jornalista.

* Jornal desportivo espanhol muito próximo do Real Madrid de futebol…